A Liga Portuguesa de Futebol tem um plano de ação detalhado para o regresso das equipas ao treinos e, mais tarde, aos jogos. O plano, ao qual o Observador teve acesso, não se compromete com uma data para o regresso da competição, mas prevê que os jogadores tenham uma espécie de segunda pré-época com um mês de treinos que serão também muito condicionados: primeiro treinos individuais (em que os jogadores não se cruzam com os colegas de equipa), depois coletivos (os jogadores têm de tomar banho em casa e só podem sair de casa para treinar) e por fim a realização de dois jogos por semana (à porta fechada e também eles com o mínimo contacto possível).

O documento não aponta uma data, mas é referido o “cronograma possível” — que pode ser cumprido durante ou ainda depois do estado de emergência — com 28 dias de treino. A Comissão Permanente de Calendários da Liga propôs a 2 de abril, após uma reunião por videoconferência, que a competição começasse no final de maio.

A Liga defende um regresso progressivo aos treinos dividido em duas fases: treinos individualizados no campo e treinos de grupo com contacto. O relatório começa por dizer que para o regresso “é fundamental haver treinos específicos da modalidade, algo que é praticamente impossível [aos jogadores fazerem] de forma isolada, nas suas residências“.

Seguem-se então os treinos individualizados em campo, em que os jogadores voltam a lidar com bola, a sentir o cheiro da relva e podem fazer treinos exigentes em termos físicos, mas o treinador nunca se pode aproximar mais do que dois metros. Num campo de futebol apenas podem treinar dois jogadores ao mesmo tempo (um em cada metade do campo) e tem sempre de estar presente um elemento do departamento médico. Em treinos de 45 minutos serão precisas 9 horas para 24 jogadores treinarem se for utilizado um único campo (as equipas maiores têm à sua disposição vários campos nos seus centros de estágio e podem fazê-lo em menos tempo).

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Antes destes treinos, os jogadores não têm de ser testados, mas têm de ser vistos pelo médico do clube e só podem treinar se não tiverem sintomas. Os jogadores têm também de entrar já com as chuteiras calçadas e levar todo o material para casa. Cada jogador terá de ter a sua própria bola, que tem de estar identificada e ser previamente higienizada.

O regresso aos treinos. Não há refeições em conjunto e banhos são em casa

No fim desta fase, para se passar para a fase de treinos em conjunto, todos os jogadores do plantel e elementos do staff próximos têm de ser testados. Apesar de o treino ter uma forma habitual deve obedecer a uma série de regras que o tornem menos ‘normal’.

Os jogadores vão também ter indicações para se manterem em casa fora do período de treinos, não podendo estar em locais com muita gente. Mesmo treinando juntos, os jogadores não se podem cumprimentar. Além disso, os jogadores deixam de tomar refeições em conjunto e têm de tomar banho em casa, já que são interditos os banhos no clube.

Jogos muito limitados

Os jogos, pelo menos numa primeira fase, terão de ser “à porta fechada e com regras adicionais de higienização de todas as instalações”. Nesses jogos, os jogadores não poderão fazer a típica “roda” motivacional, nem cumprimentar a outra equipa ou a equipa de arbitragem. As entrevistas presenciais, incluíndo a flash interview, devem ser evitadas. As crianças vão deixar de entrar com os jogadores.

Nos jogos fora, os estágios devem ter a “menor duração possível” e devem ser, sempre que possível, substituídos por viagens no próprio dia do jogo (os horários dos jogos devem ter isto em causa). Nas viagens de autocarro devem ir “apenas os elementos indispensáveis para essa viagem”, devendo os restantes ir em “viatura própria”. Os jogadores que forem no autocarro devem sentar-se sozinhos em bancos de dois lugares e longe do motorista. A paragem deve ocorrer num parque de merendas com casas de banho em vez de ser numa estação de serviço.

Os jogadores devem também, no hotel, dormir em “camas individuais separadas no mínimo um metro” e não utilizarem o elevador (devem utilizar as escadas). Devem ainda evitar contactos com outros hóspedes. Os jogadores devem também “beber sempre da mesma garrafa de água, tanto no treino como nos jogos, devendo esta ser identificada corretamente.”

Após o fim da pandemia, a vigilância deve continuar até haver imunidade coletiva ao vírus, seja por via direta ou vacina. Surge então o tal “cronograma possível” em que cada equipa terá de ter entre 21 a 27 dias de treinos conjuntos antes de regressar à competição. Os jogos têm de ocorrer, por imposição da UEFA, até 3 de agosto. O calendário será por isso apertado e devem ser realizados dois jogos por semana em junho e julho para cumprir as 10 jornadas em falta na Primeira Liga de Futebol Profissional.

O Cronograma da Liga prevê um cenário em que os treinos podem começar ainda durante o Estado de Emergência e outro após o Estado de Emergência

A Liga destaca, no entanto, que este é apenas “um primeiro documento, que serve unicamente para antecipar, debater e propor algumas medidas de Regresso à Competição Pós-Pandemia Covid19, que se espera que possa ocorrer o mais precocemente possível, mas sempre” com o “máximo de segurança, evitando novos contágios em pessoas com fatores de risco elevado”.