O financiamento da banca, com garantia do Estado, está a chegar a conta-gotas. Apenas 3% das empresas que recorreram a estas linhas de crédito tinham recebido as verbas no final do mês passado, de acordo com um inquérito feito pela CIP com o ISCTE a 1.582 empresas (num universo de 150 mil), entre 28 e 30 de abril.
No total, o estudo identificou 43 mil pedidos de financiamento, dos quais 26,6% tiveram resposta duplamente positiva — da banca e da Sociedade Portuguesa de Garantia Mútua (SGM). Dos restantes pedidos, 51% estão ainda em avaliação por parte dos bancos e outros 19%, apesar do aval da banca, aguardam autorização da SGM. Apenas 3,4% dos pedidos foram recusados até agora.
Todo o processo está a levar quase um mês (28 dias) a ser concluído. A resposta dos bancos tem sido dada 11 dias após a entrega do pedido, segue-se a aprovação da Sociedade de Garantia Mútua, que leva, em média, nove dias. E, finalmente, a chegada do dinheiro propriamente dito às contas bancárias das empresas demora oito dias.
António Saraiva, líder da Confederação Empresarial de Portugal, aponta o dedo à burocracia, pedindo “um Simplex Covid”. Em conferência de imprensa online para apresentação do estudo, considerou “completamente excessiva” a exigência processual, tendo até em conta que “o Estado já tem em seu poder” vários dos nove documentos pedidos. Para o presidente da CIP “não faz sentido que de 43 mil candidaturas tivessem sido contratadas apenas 505” até ao final de abril.
Com base em dados fornecidos pelo Governo, António Saraiva lembra ainda que houve tantos pedidos de crédito que o valor disponível está já largamente ultrapassado — se fossem todos aprovados, os bancos emprestariam 9,3 mil milhões de euros às empresas, face aos 6,2 mil milhões garantidos pelo Governo. O presidente da CIP diz, portanto, ser necessário o alargamento das linhas de crédito, até porque a Comissão Europeia autoriza um limite de 13 mil milhões de euros.
António Saraiva diz que não percebe a reduzida dimensão dos apoios. “Começaram em 100 milhões de euros, para depois passarem para os 200 milhões e a seguir para 400 milhões, saltando depois para três mil milhões e agora estamos ligeiramente acima dos seis mil milhões de euros”, lamenta o presidente da CIP.
BCP e Santander já suspenderam empréstimos de 12 mil milhões de euros, em 150 mil moratórias