A Proteção Civil defende que deveriam ser adotadas “medidas de exceção” em Fátima durante os dias 12 e 13 de maio. Este ano, devido ao elevado risco que representaria a habitual aglomeração de milhares de fiéis, as celebrações vão decorrer sem peregrinos e com um Santuário de Fátima vazio.

Em declarações ao Jornal de Notícias, o presidente da Comissão Distrital de Proteção Civil de Santarém receia que alguns peregrinos decidam deslocar-se ao Santuário de Fátima, independentemente das indicações dadas pelo Governo e pela própria Igreja Católica.

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“Sabemos que se estas coisas da fé podem mover montanhas, mais facilmente podem mover crentes sedentos da proximidade aos locais de culto. E se forem dez pessoas do Porto, cinco de Évora, três do Sardoal e dez de Lisboa, podemos ter milhares de pessoas na zona envolvente do Santuário, sem que estejam montadas as habituais estruturas de apoio, agora empenhadas no combate à Covid-19″, explicou Miguel Borges, que é também o presidente da Câmara Municipal do Sardoal. O autarca defende então que o Governo deveria aplicar em Fátima “medidas de exceção” semelhantes às implementadas nos fins de semana da Páscoa e do 1.º de maio, limitando o acesso à região e equipamento as autoridades com ferramentas que permitam evitar a aglomeração de pessoas.

De recordar que as medidas do estado de calamidade atualmente em vigor continuam a incluir o “dever cívico de recolhimento no domicílio”. Ainda assim, Miguel Borges considera que poderá existir uma “minoria que pode deitar tudo a perder” que vai tentar, não obstante, deslocar-se ao Santuário de Fátima e assistir às celebrações pessoalmente. “Este é um período que nos pede muita calma e paciência. Se as pessoas são crentes, é importante que confiem em quem as aconselha”, acrescenta o autarca, que apela ainda ao “bom senso” e pede que os fiéis assistam às celebrações programadas em casa, através da televisão ou das redes sociais.

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As preparações para o fim de semana de 12 e 13 de maio estão a ser seguidas de perto pelo Governo, em colaboração com a Igreja Católica e com o Santuário de Fátima. A tradicional procissão das velas tem lugar na terça-feira, dia 12, mas com um percurso mais reduzido, entre a Capelinha das Aparições e o altar do recinto. Ainda na terça, será instalada uma apresentação de videomaping, alusiva à pandemia, no edifício dos Missionários da Consolata, que vai contar com transmissão a partir das redes sociais. Já no dia seguinte, quarta-feira, a missa internacional está marcada para as 10h, no altar do Santuário.

No domingo, o cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, manteve a opção da Igreja Católica de celebrar o 13 de maio sem a habitual multidão de peregrinos, depois de a ministra da Saúde, Marta Temido, ter admitido numa entrevista à SIC a possibilidade de as celebrações serem realizadas com mais pessoas “desde que sejam respeitadas as regras sanitárias”.

Santuário de Fátima mantém 13 de Maio sem peregrinos para “não colocar em perigo a saúde pública”

As declarações da ministra da Saúde geraram grande confusão entre os católicos e adensaram uma polémica que já se mantinha desde a confirmação de que a CGTP poderia mesmo organizar uma manifestação em Lisboa com várias centenas de pessoas, que mantiveram as distâncias de segurança entre si, para assinalar o 1.º de maio.

Houve mesmo quem propusesse que a Igreja Católica pensasse num modelo semelhante para organizar a peregrinação de 13 de maio no recinto do Santuário de Fátima. Questionada sobre essa possibilidade, a ministra da Saúde respondeu: “Desde que sejam respeitadas as regras sanitárias, isso é uma possibilidade”.

No domingo, Marta Temido procurou desfazer a confusão argumentando que se referia aos celebrantes e não aos peregrinos. Os responsáveis do Santuário de Fátima viram-se obrigados a tomar uma decisão sobre o 13 de maio há cerca de um mês, numa altura em que vários grupos de peregrinos de todo o mundo procuravam saber informações sobre a peregrinação deste ano — que habitualmente atrai centenas de milhares de pessoas a Fátima, muitas delas vindas de todos os continentes.