O Governo voltou a atualizar os dados disponíveis para ponderar a terceira fase do desconfinamento e se em Lisboa não faz marcha atrás, tem um travão comparando com o resto do país. As linhas verdes que correspondem ao “anúncio do plano de desconfinamento” mantêm-se, mas nem tudo são rosas ao fim de quase um mês de reabertura em Portugal. Vamos por partes.
O objetivo para que todos os portugueses lutaram parece ter sido atingido: a curva achatou e está bem longe da temida curva exponencial — que se verificou em Itália ou Espanha, por exemplo. Ou, pelo menos, é essa a leitura que é possível retirar do gráfico utilizado pelo Governo para apresentar o crescimento do número de casos em Portugal.
O famoso valor de R está, finalmente, ligeiramente abaixo de 1, depois de ter começado a aumentar a 28 de abril, dia em que foi anunciado o fim do estado de emergência. Em Lisboa, já se sabe, a história é outra e o valor está acima de 1, o que faz a média nacional chegar aos 0,99 ainda que haja regiões onde esse valor é inferior.
Já sobre a evolução diária de novos casos notificados, desde dia 23 de maio que este número tem vindo a crescer, depois de alguma instabilidade entre os dias 8 e 22 de maio, mas tal já se verificou também entre 3 e 8 de maio, com um ligeiro pico nas linhas do gráfico, compensadas depois com uma descida mais significativa a partir de dia 8 e daí em diante com menores oscilações. Ainda assim, os números continuam bem longe do pico registado no início de abril com quase mais 1.500 novos casos num só dia.
E poder-se-ia dizer que uma menor testagem também contribuíra para que os números de novos casos diários fosse mais pequeno, mas de acordo com os números ilustrados pelo Executivo, a curva relativa ao número de amostras recolhidas para testes ainda não parou de aumentar desde o início da pandemia, tendo sido realizados no total quase 800 mil testes em Portugal.
Só pontualmente há dias em que se registam menores números de testagem algo que, aliás, acontece desde o início da testagem de pessoas em Portugal. O dia 20 de maio foi o dia em que se testaram mais pessoas, com 20 mil testes realizados e desde que foi anunciado o plano de desconfinamento — a famosa linha verde — os testes têm oscilado entre os cerca de 6.000 (a 24 de maio) e os 18.000 (a 13 de maio). A mesma oscilação ou aumento não se verificou no número de casos positivos. Ainda que com ligeiras oscilações, os números diários de casos positivos desde o anúncio do plano de desconfinamento mantêm-se bem longe sequer da linha dos 2.000 diários.
Mas para uma leitura mais facilitada, o Governo apresentou os números em percentagens. Assim, antes do anúncio do desconfinamento cerca de 5,6% dos testes realizados testavam positivo, número que tem vindo a decrescer para os 4,3% a 13 de maio e 3,3% a 24 de maio. Contudo, considerando os dias decorridos desde o início da segunda fase do desconfinamento, a 18 de maio, os números apresentados ainda não espelham os efeitos dessa segunda fase.
A capacidade de testagem de Portugal deixa o país à beira do pódio dos países com uma maior capacidade de testagem, por milhão de habitantes. Num ano em que as competições desportivas se viram interrompidas e os Jogos Olímpicos adiados, a nova luta é pelo menor número de óbitos registado e uma maior testagem, que permite despistar os infetados e quebrar cadeias de transmissão. E aí, segundo os dados apresentados pelo Governo estamos bem colocados.
Portugal é o quarto país, depois da Lituânia, Dinamarca e Chipre, na relação do número de testes realizados por milhão de habitantes. Em cada milhão de portugueses estão a ser testados 76,35, ligeiramente acima dos 76,07 da vizinha Espanha.
Além do R, os indicadores que são caros ao Governo são os que dizem respeito às unidades de saúde e à ocupação das enfermarias e das unidades de cuidados intensivos. E também aí continua a haver boas notícias — ainda que o boletim desta sexta-feira tenha vindo quebrar a tendência com um aumento no número de internados — com os números a baixarem de forma consistente desde meados de abril.
No que diz respeito ao número de doentes internados nas enfermarias, desde 12 de abril que o número tem vindo a baixar. Depois de ultrapassar os 1.200 doentes internados, Portugal tinha a 28 de maio 529 doentes em hospitais a necessitar de cuidados intermédios. Já no número de doentes em cuidados diferenciados, que chegou a estar acima dos 250 a 6 de abril, estava a 28 de maio em 66 internados.
Recorde-se que nas reuniões com os especialistas que terão contribuído para delinear o plano de desconfinamento português o “travão de emergência” criado apontado era de 4.000 internamentos, uma margem que ainda parece bem distante, apesar dos focos que entretanto foram identificados maioritariamente na região de Lisboa e Vale do Tejo.
E há um gráfico que junta o número de internados em enfermaria, unidades de cuidados intensivos e ainda o número de doentes que estão em “isolamento domiciliário”, que são a grande mancha a azul na ilustração do Governo.
Um dos gráficos que mais agradará a todos ver é o que ilustra o número de recuperados que, na última semana, registaram um aumento exponencial — o mesmo que era temido na curva de infetados, mas desta vez é um bom indicador. Depois de uma atualização no sistema, anunciada pela ministra da Saúde, que permitiu também atualizar aos milhares o número de portugueses que já estavam recuperados da Covid, o gráfico do número de recuperados apresenta agora uma curva bem expressiva e que, mesmo depois dessa atualização não estagnou e continua a crescer de dia para dia.
Já o número de casos ativos nos últimos dias, depois da grande diminuição promovida pela atualização no sistema informático de registo do número de recuperados, parece ter estagnado acima dos 10.000 casos ativos desde 23 de maio.
Mas nem tudo são boas notícias, como já dissemos e a realidade de Lisboa e Vale do Tejo justificou a existência de um gráfico que apresenta o número de novos casos por cada região de Portugal continental. Fica claro que a região de Lisboa se mantém com uma dinâmica oposta à das restantes regiões, pelo menos desde dia 25 de maio, estando a crescer e todas as outras a decrescer, algo que o Executivo admite causar “preocupação face à evolução da área de Lisboa”.
Para a terceira fase do desconfinamento há já algumas aberturas que vão ficar em stand-by até ao próximo Conselho de Ministros, na quinta-feira dia 4 de junho, o que permitirá ao Governo ter mais dados sobre um período mais alargado da segunda fase de desconfinamento e poder tomar outras decisões que poderão traduzir-se, ou não, na abertura dos serviços que para já ficam fechados na região de Lisboa e Vale do Tejo em consequência dos números pouco encorajadores verificados nos últimos dias.