“É muito importante que não se continue a propagar a infeção. O nosso país está à beira de controlar a situação epidémica e portanto temos de fazer um esforço final.” O apelo foi feito, esta sexta-feira, pela diretora-geral da Saúde, durante a conferência de imprensa sobre a situação epidemiológica do país.
Graça Freitas fez, aliás, dois apelos à população: começou por pedir às pessoas a quem foi dito para ficar em isolamento que cumpram essa indicação para assim não transmitirem o vírus a outras pessoas. Sejam infetados — com ou sem sintomas —, sejam pessoas que são consideradas contactos próximos desses doentes e que estão sob vigilância das autoridades de saúde.
“Quero fazer um apelo muito sério a que mantenham esse isolamento durante 14 dias após a data de início de sintomas para os doentes ou após terem dado positivo ou após a data em que estiveram em contacto com um caso positivo”, disse Graça Freitas, acrescentando que o isolamento que se pede a estas pessoas é para não transmitirem o vírus e que é essencial para que não haja uma propagação do vírus.
O segundo apelo da diretora-geral da Saúde teve a ver com a época balnear. Graça Freitas sublinhou a necessidade de manter o “distanciamento físico” de pessoas com quem não se conviva habitualmente. Ou seja, familiares e coabitantes podem manter-se juntos, mas é necessário manter a distância física de outras pessoas como “amigos, familiares e conhecidos”.
Usar máscara quando necessário, não partilhar objetos, manter a higiene frequente das mãos, se necessário higienizar as superfícies. Serão férias diferentes, com outras regras, em que podemos descontrair, mas com cuidado.”
Assinado despacho que autoriza “mobilidade temporária” de médicos e enfermeiros para o Algarve
O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, anunciou a assinatura de um despacho que autoriza a “mobilidade temporária” de médicos e enfermeiros “para serviços e estabelecimentos de saúde” na área geográfica de influência da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve.
Uma medida que se prende com o “aumento transitório da população” que se verifica nesta zona do país devido à época balnear, com a “necessidade de ajustamento da prestação de cuidados de saúde nos postos de praias” e com a situação epidemiológica que se vive no país.
Com esta medida queremos garantir a segurança e a saúde de todos em tempo de férias”, afirmou Lacerda Sales.
Em resposta aos jornalistas, o secretário de Estado da Saúde indicou ainda que, no total, serão contratados 5510 profissionais de saúde para Serviço Nacional de Saúde (SNS): aos 2800 que já tinham sido contratados no âmbito da pandemia, acrescem os 2710 anunciados ontem pelo primeiro ministro.
Lacerda Sales indicou ainda o número de óbitos em lares: contam-se 529 vítimas mortais, das quais 273 na região Norte, 141 no Centro, 109 em Lisboa e Vale do Tejo, 1 no Alentejo e 5 no Algarve.
Também em resposta aos jornalistas, Graça Freitas adiantou que, dos 377 novos casos em todo o país, a região de Lisboa e Vale do Tejo contribuiu com 336, o que representa cerca de 89% de todos os casos.
“A situação [nesta região] tem sido acompanhada com muita atenção, porque, de facto, as outras regiões apresentam uma tendência decrescente, até acentuada, e Lisboa apresenta uma tendência estável, mas com números de incidência relativamente elevados em relação ao restante país.”
Há quase um mês que infeções não aumentavam tanto. Lisboa e Vale do Tejo com 89% dos novos casos
“Temos que continuar a acompanhar a situação dos jogos”
Em resposta a uma pergunta da Rádio Renascença sobre o regresso da Primeira Liga de futebol, a diretora-geral da Saúde referiu que ainda é cedo para se estar a pensar em mudar o parecer sobre o futebol.
Graça Freitas afirmou que as decisões relativamente ao futebol “foram tomadas muito precocemente, para que desse tempo para toda a atividade ser preparada” e que, na altura, foi considerado adequado não haver público nos estádios.
Já evoluímos para outra situação epidemiológica, mas temos que continuar a acompanhar a situação dos jogos”, disse a diretora-geral da Saúde, ou seja, analisar o comportamento do adeptos para perceber se “vai no sentido de se poder vir a fazer uma abertura ao público”.
“Não sei responder se vão estar criadas [condições] nas próximas semanas ou não para que se mude o parecer sobre o futebol. Temos que ver, só agora começámos. Vamos no segundo dia de jogos, temos que esperar um bocadinho para ver se corre bem.”
“Temos alguns indicadores que a perceção do risco começa a ser menor”
Questionada pelo Observador sobre se o apelo feito no início da conferência de imprensa para que as pessoas infetadas se mantenham em isolamento — apelo já feito noutra ocasião por Graça Freitas — tem a ver com o facto de haver muitos infetados na rua, a diretora-geral da Saúde remeteu para a “perceção do risco”.
Graça Freitas explicou que a perceção que as pessoas têm do risco de ficarem infetadas ou de transmitirem o vírus a outra pessoa “difere ao longo da epidemia” e é essa perceção que determina certos comportamentos.
Nesta altura, temos alguns indicadores, através de estudos, que a perceção do risco começa a ser menor, que as pessoas estão mais aliviadas. Se a perceção é menor, é normal que as pessoas tendam a abandonar o estado de isolamento”, afirmou a diretora-geral da Saúde, ressalvando que isto “não quer dizer que não tenha acontecido noutras alturas.”
Quanto à questão sobre se, numa altura em que se retomam as viagens e há abertura de fronteiras, haverá algum tipo de controlo às pessoas que venham de países em que o surto do novo coronavírus esteja mais descontrolado, o secretário de Estado da Saúde recordou que o primeiro-ministro esteve esta sexta-feira no aeroporto de Lisboa, “onde teve oportunidade de confirmar todas as medidas de segurança”.
Lacerda Sales sublinhou ainda que “o espaço Schengen, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPS) e os países onde havia portugueses estiveram sempre abertos”.
“Até agora tudo tem corrido normalmente, de acordo com as medidas de segurança e controlo que se verificam. Há um conjunto de decisões, em função da evolução do surto que, obviamente, serão remetidas para o próximo Conselho de Ministros.”