Quando terminou a segunda mão da final do Campeonato Carioca, com o Flamengo a ganhar ao Fluminense e a garantir o quinto título apenas num ano com Jorge Jesus no comando, a festa do treinador português foi bem mais comedida do que tinha sido, por exemplo, na Taça dos Libertadores. Os jogadores puxaram por ele, fizeram com que fosse ele, que ali no meio se tornou Ele, a levantar o troféu, quase “enxotando” o vice para o futebol, Marcos Braz da frente. Tudo porque existia a perceção de um princípio de acordo entre o técnico e o Benfica. Com viagem marcada para Lisboa, tudo apontava para que tivesse uma conversa com Luís Filipe Vieira e assinasse. Não foi assim, esta madrugada as negociações estagnaram mesmo, mas agora está confirmado: Jorge Jesus vai assinar contrato com o Benfica por três temporadas, regressando à Luz cinco anos depois da saída para Alvalade.

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O empresário Costa Aguiar, que já tinha estado envolvido na mudança do treinador da Luz para Alvalade (com uma comissão de intermediação de 140 mil euros, como seria mais tarde revelado pelo Football Leaks) e que continuou a trabalhar com o Sporting (como na contratação de Bruno César), esteve também envolvido na negociação que vai levar Jesus de volta para o Benfica, confirmou o Observador. O técnico reuniu ainda esta sexta-feira com a direção do Flamengo para anunciar o desejo de sair e a saída foi oficializada já depois das 22h, sendo que menos de uma hora depois também os encarnados anunciaram à CMVM a contratação do técnico. A imprensa brasileira voltou a falar na tentativa de contratação de Márcio Tannure, responsável pelo departamento médico do Flamengo há 15 anos e que terá recebido um convite por telefone do próprio Jesus em Abu Dhabi, onde está como médico do UFC. Segundo soube o Observador, o Benfica vai enviar um avião privado para trazer toda a equipa técnica, sendo que o clube carioca deverá oficializar em breve a saída do treinador que ganhou cinco títulos num ano no clube.

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E a primeira reação à saída, vinda de um técnico brasileiro com currículo de seleção e passagem pelo Real Madrid, Vanderlei Luxemburgo criticou a postura de Jesus. “O Flamengo tem que resolver o problema do Flamengo, que perdeu o treinador. O treinador cismou de ir embora no meio do caminho, largou. É um treinador estrangeiro mas, se fosse um brasileiro que tivesse feito isso aí, a porrada hoje seria tamanha. Seria porrada a todo momento no treinador”, atirou o agora treinador do Palmeiras. “Ele foi, o Flamengo vai escolher o treinador e vai continuar com elenco forte e um dos candidatos em potencial à conquista do título. Não muda. Com Jesus ou sem Jesus, é candidato em potencial à conquista do título. Se vai ganhar é outra história. Tem que jogar”, acrescentou.

Na última semana de junho, depois da derrota frente ao Santa Clara, o Benfica começou a perceber que o futuro não iria ser com Bruno Lage. A seguir, novo desaire com o Marítimo na Madeira e saída confirmada do treinador que tinha sido campeão na temporada anterior. Foi nessa semana que houve a primeira abordagem a Jorge Jesus, que renovara menos de um mês antes. Uma abordagem que foi recusada sem margem para conversas, o que até deixou Luís Filipe Vieira surpreendido. Razão? O que estava em cima da mesa era terminar ainda a Primeira Liga e fazer a final da Taça de Portugal, sem haver propriamente um projeto desportivo em discussão. Nessa ótica, o treinador não iria deixar o Flamengo. Assim ficou uns dias, com os encarnados a assumirem a rescisão com Bruno Lage e a permanência de Nelson Veríssimo até 1 de agosto. Depois, o cenário mudou.

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Jesus sempre foi a prioridade de Luís Filipe Vieira, como o Observador foi destacando. A diferença com o passar dos dias acabou por ser o peso no plano interno na contratação do treinador, que aumentou com a contestação a Vieira e com o aparecimento de um movimento mais consistente do que todos os outros que quiseram ir a votos com o líder dos encarnados até agora, visando uma mudança de paradigma na gestão do clube. Quando percebeu que não era uma missão impossível trazer Jesus, colocou as cartas na mesa para resgatar o técnico ao Flamengo: não havendo um problema no pagamento da cláusula, de um milhão de euros (sendo que, no total, os encarnados deverão ter de pagar o dobro pelas verbas que tinham sido pagas de forma antecipada ao treinador), a questão salarial ficou resolvida e, mais tarde, a grande vontade em termos de projeto também, o que passava por uma maior capacidade de investimento no plantel para começar um novo ciclo a olhar para as provas europeias.

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Entre alguns jogos a contar para a Taça Rio no Brasil, que viria a perder na final com o Fluminense no desempate por grandes penalidades, o Benfica foi reorganizando os planos para a temporada de 2020/21 numa perspetiva financeira e, depois de Domingos Soares de Oliveira, CEO dos encarnados, ter assumido uma maior contenção em termos de investimento tendo em conta as dificuldades acrescidas que a pandemia trouxe, a incerteza em relação ao público nas bancadas e a previsível quebra dos valores praticados a nível do mercado de transferências, houve uma viragem que permitia aumentar e muito as verbas disponíveis para melhorar o plantel (o que poderá ser feito também com a venda de dois ativos, o que continua a ser hipótese, libertando dinheiro para reforços).

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Um exemplo prático: Rúben Dias entra nas contas para a próxima temporada mas se surgir uma proposta que convença os responsáveis a vender, sempre num valor que fizesse do central o defesa com mais caro de sempre a sair da Luz (Nelson Semedo para o Barcelona, por 35 milhões mais cinco por objetivos), pode sair. Essa verba poderá depois ser utilizada para trazer um ou até mesmo dois centrais, tendo em conta que Garay, antigo jogador dos encarnados que saiu para o Zenit que representou depois o Valencia, é agora um atleta livre.

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Já tinham sido colocados nomes em cima da mesa, os mesmos começaram a ser vistos com maior atenção, sendo que o médio Gerson e o avançado Bruno Henrique foram desde início vistos como prioridades para posições que Jesus pretendia ver reforçadas no Benfica: um ‘8’ puro, um médio box to box do qual o técnico não prescinde na sua ideia de jogo (nem que tenha de fazer uma adaptação, como aconteceu com Enzo Pérez nas duas últimas épocas no Benfica ou como iria acontecer com William Carvalho no Sporting caso os leões conseguissem contratar Danilo Pereira ao Marítimo, em 2015), e um segundo avançado mais móvel, capaz de jogar entre linhas, de cair numa das alas, de ser a referência nas transições ofensivas e que tivesse sentido de finalização. Em paralelo, Léo Pereira, central esquerdino contratado ao Athl. Paranaense, também surgiu como hipótese. As contratações que estavam na calha na Primeira Liga, casos do guarda-redes Helton Leite (Boavista) ou do avançado Taremi (Rio Ave), bem como de outros dois jogadores de campeonatos europeus, ficaram estagnadas.

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Com um acordo para assinar contrato por três temporadas (chegaram a ser ponderadas quatro) por uma verba total a rondar os sete milhões de euros brutos por época (envolvendo não só salário mas também o prémio de assinatura, além dos bónus por objetivos), um pouco menos do que recebia atualmente no Flamengo (3,7 milhões), e a garantia de verbas para montar um plantel mais forte e com ambição de ir longe nas provas europeias, a segunda mão da final do Campeonato Carioca foi jogada com um princípio de acordo que a mudança para a Luz era uma inevitabilidade. No entanto, e ainda antes de viajar para Lisboa, Jorge Jesus mostrou-se inflexível em relação à equipa técnica e à estrutura com que gostaria de contar. E esta madrugada as negociações ficaram estagnadas nesses pontos, sendo depois superados para o acordo total garantido esta sexta-feira. De notar que as primeiras ofertas dos encarnados previam um salário mais baixo, a três ou quatro épocas.

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Assim, os adjuntos João de Deus e Tiago Oliveira, os preparadores físicos Mário Monteiro e Márcio Sampaio, os analistas Gil Henriques e Rodrigo Araújo e o psicólogo Evandro Mota seguem também para a Luz (o que obriga a que se desfaçam dos atuais compromissos, até do aluguer das casas no Rio de Janeiro que tinha sido renovado). Fica por saber se Minervino Pietra (adjunto) e Fernando Ferreira (treinador de guarda-redes), que estão com Nelson Veríssimo, também integram a equipa técnica, assim como Marco Pedroso, o único que não se mudou para Alvalade em 2015. De acrescentar que, à exceção de Mário Monteiro, todos os seis elementos que estavam agora com Jesus foram com o técnico do Sporting para o Al Hilal e para o Flamengo, à exceção de João de Deus e Tiago Oliveira, que ocuparam as vagas deixadas em aberto por Raúl José e Miguel Quaresma depois da passagem pela Arábia Saudita (e mais tarde regressaram a Alcochete). Para já, e apenas com os sete membros da equipa técnica além de Jorge Jesus, o “bolo” total de vencimentos passará os 11 milhões brutos por temporada.

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Esta semana, segundo soube o Observador, alguns adjuntos ainda desconheciam se o futuro de Jorge Jesus passava ou não pelo Benfica e se iriam ou não com o número 1 em caso de mudança. No caso de Mário Monteiro, houve até uma viragem em relação ao projeto de carreira que tinha. “Vou terminar a carreira brevemente. Só não o fiz na altura da invasão à Academia [maio de 2018] porque houve a hipótese de ir para a Arábia Saudita e para o Brasil. Regresso a Portugal? Vai ser muito difícil, só em homenagem à minha mãe poderei treinar o FC Porto. Não estou para passar por aquilo que passei”, comentou em conversa com os jornalistas em janeiro, quando prestou depoimento presencial no Tribunal de Monsanto no âmbito do processo de Alcochete.

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Outro ponto importante tem a ver com a própria estrutura do futebol. À semelhança do que já tinha sido pensado quando Rui Vitória saiu e Bruno Lage acabou por passar de solução interina a efetiva, em janeiro de 2019, Luisão poderá ocupar uma posição mais próxima do plantel e um possível regresso de Lourenço Coelho, uma pessoa de confiança de Jesus, também está a ser equacionado. Júlio César foi outro nome abordado nos últimos dias – e que já tinha sido ventilado nessa fase de indecisão em janeiro de 2019. Estas entradas iriam significar em contrapartida saídas ou, pelo menos, atribuição de novas funções para alguns desses responsáveis.