O contrato de gestão do Lar Mansão Santa Maria de Marvila, em Lisboa, entre a Fundação D. Pedro IV e a Segurança Social termina nesta quinta-feira, mas a transferência de todos os idosos para outras instituições só deve estar concluída “no final de setembro”. De acordo com a vogal do Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, Ana Vasques, decorrem negociações com a fundação que gere a estrutura “para se encontrar uma solução que assegure a permanência dos idosos no lar” para lá da data em que o contrato termina.

Apesar de o encerramento ter sido anunciado a 21 de julho, a demora em conseguir recolocar todos os idosos antes do fim do contrato prende-se com “o contexto de pandemia” que torna a operação “muito complexa”, avança Ana Vasques à Rádio Observador. “Há necessidade de aplicar procedimentos adicionais para segurança de todos os idosos de acordo com as orientações da Direção Geral da Saúde”, explica garantindo que “neste momento existem soluções para todos os utentes”.

Pode ouvir aqui as declarações de Ana Vasques à Rádio Observador:

Trabalhadores de Lar de Marvila vão ser absorvidos pela Santa Casa da Misericórdia, avança Segurança Social

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“A Segurança Social diz-nos que ainda está à espera de conseguir arranjar colocação para o meu pai”, diz à Rádio Observador Álvaro Silva, contrariando a indicação da responsável da Segurança Social. “Não faço ideia do sítio para onde pode ir, a única garantia que nos deram é de que vai ficar no distrito de Lisboa”. A falta de perspetiva está a deixar Firmino Silva “numa ansiedade enorme, porque não sabe o que vai acontecer”.

A mãe de Ilda Plácido está numa situação diferente, uma vez que já sabe qual vai ser a sua próxima morada: “É lá para Caneças e eu sou da zona de Marvila, fica fora de mão”, lamenta explicando que foi informada da decisão da transferência “tardiamente, só depois de ver o caso nas notícias”.

Do lado da Fundação D. Pedro IV o arrastar da situação até setembro é “uma novidade”. O presidente da instituição que gere o lar, Vasco Canto Moniz, não está disponível para falar até estarem concluídas as negociações com a Segurança Social, mas uma fonte próxima diz ao Observador que a partir de quinta-feira deixa de haver responsabilidade legal e todos os funcionários deixarão de prestar serviço, uma vez que foram alvo de um despedimento coletivo. A mesma fonte dá conta de que a fundação está sem saber o que fazer, uma vez que as negociações ainda não chegaram ao fim.

Dos 140 idosos que residiam no Lar Mansão Santa Maria de Marvila, o Observador sabe que 28 já estão recolocados e outros 25 devem ser transferidos ainda esta quarta-feira. 87 idosos continuam sem sítio para onde ir.

Quem também estava sem sítio para onde ir eram os 79 trabalhadores que prestam serviço no Lar Mansão Santa Maria de Marvila, mas a reunião entre o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Insittuto da Segurança Social encontrou uma solução para a “Santa Casa acolher todos os trabalhadores que assim o pretendam”, avança Ana Vasques à Rádio Observador.

A solução encontrada nesta quarta-feira surge depois de numa outra reunião, desta vez com o ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, o sindicato ter acusado o governo de “não dar garantias de que todos os trabalhadores iam ser colocados”, como tinha prometido a ministra Ana Mendes Godinho. Desta vez o discurso do coordenador da região de Lisboa do sindicato, Orlando Gonçalves, foi diferente: “É uma solução que vai deixar os trabalhadores melhor do que estavam na Fundação D. Pedro IV”.

“Divergências antigas” e más condições estruturais determinam encerramento do lar

O encerramento do Lar Mansão Santa Maria de Marvila foi determinado porque “o edifício já não tem as condições necessárias para continuar a dar esta resposta social”, explica ao Observador a vogal do Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, mas também porque há “divergências antigas” entre a Segurança Social e a Fundação D. Pedro IV. O motivo para tais divergências e a possibilidade de serem elas a pedra na engrenagem que bloqueia a continuidade deste lar não é adiantada pela responsável, mas ao Observador fonte da Fundação fala em 2 milhões de euros gastos em obras desde 2004 (o ano em que passou a controlar o lar) e que nunca foram reembolsados, um assunto que levou, inclusivamente, a Fundação a avançar com um processo em tribunal contra a Segurança Social.

Para além do valor que alegadamente já foi gasto em obras, a entidade que atualmente gere o lar explica ao Observador que são necessários sete milhões de euros para recuperar o edifício.

O Observador esteve no Lar Mansão Santa Maria de Marvila e ouviu trabalhadores e familiares de idosos. Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador:

Lar Mansão Santa Maria de Marvila vai fechar. Idosos numa “ansiedade enorme”