A direita está pronta a entender-se e a bola está do lado do PSD. Ainda que o caminho esteja longe de ser linear. Menos de 24 horas depois das eleições regionais dos Açores, os primeiros sinais apontam para a existência de uma vontade comum em derrubar Vasco Cordeiro. Mas ninguém quer entrar em loucuras se José Manuel Bolieiro, líder regional do PSD/Açores, não garantir condições mínimas de estabilidade governativa. CDS não derruba PS sem certezas. Chega já tem duas e uma delas é reduzir para metade os beneficiários de Rendimento Social de Inserção. Baralhando e dando de novo: são os sociais-democratas que têm de pescar à linha todos os apoios de que precisam.

O PSD vai olhando para os parceiros de direita com uma ideia em mente, sabe o Observador: levar o CDS e o PPM para o Governo e deixar o Chega e a Iniciativa Liberal como parceiros parlamentares. Mas é tudo muito prematuro nesta fase quanto à maneira como se vão distribuir as peças.

Do lado do CDS, que conseguiu eleger três deputados e apoiou em coligação o PPM no Corvo, a disponibilidade existe e é para ser levada a sério. “Ventos de mudança”, disse Francisco Rodrigues dos Santos na noite eleitoral. “Agora, o PSD tem a responsabilidade de falar connosco”, diz ao Observador fonte da direção democrata-cristã.

O aviso, todavia, é claro: não há qualquer hipótese de o CDS alinhar em ‘geringonças’ de direita sem que elas tenham pernas para andar. O mesmo é dizer que antes de Vasco Cordeiro apresentar o seu programa de Governo no Parlamento regional, o CDS terá de ter garantias de que a direita tem de facto uma maioria ou, caso contrário, não mexerá um músculo para o derrubar.

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No Chega, as contas são mais sensíveis, mas há, para já, uma certeza: o partido vai votar contra qualquer programa de governo apresentado por Vasco Cordeiro. Se depois há ou não aliança à direita é outra questão.

Mas que condições é que exige o Chega? De acordo com o que o Observador apurou junto de fontes da direção do partido, há duas reivindicações claras: que, a nível nacional, Rui Rio admita estudar um processo de revisão constitucional; e, que nos Açores, um eventual futuro Governo liderado pelo PSD venha a reduzir para metade o número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) e que estes sejam obrigados, como constrapartida, a ter um emprego.

Carlos Furtado, líder do Chega/Açores, corrobora a posição da direção nacional: “Não rejeito essa opção [coligação de direita]. Havendo uma possibilidade de tirar o PS do governo seria desperdiçar oportunidade se não se fizesse isso”. Ao Observador, Furtado diz que há muita “opressão e falta de democracia” nos Açores por causa dos 24 anos de governação socialista, e que é altura de pôr fim a isso. “Foi com essa mensagem que chegamos aqui e é para levar até às últimas consequências”. Tudo dependerá da “boa fé” dos parceiros de negociação, alerta.

Do lado do PPM, o sinal inequívoco de rutura com o Vasco Cordeiro chegou pela voz de Gonçalo da Câmara Pereira, presidente do partido. “Neste momento, somos uma força a considerar na formação do futuro governo açoriano. Nós, nesta campanha, andámos sempre a dizer que o governo [regional socialista] estava cansado e já não tinha ideias. O povo açoriano mostrou isso dando-lhe um cartão vermelho. Estão fechadas todas as portas”, disse.

Menos efusivo, João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal, manifestou, ainda assim, a disponibilidade para fazer negociações com os partidos à direita, nomeadamente com o de José Manuel Bolieiro. Mais uma vez: o PSD tem de dizer ao que vem.

Na noite eleitoral, Rui Rio manteve tudo em aberto em relação ao futuro dos Açores. E, mesmo reconhecendo que não seria fácil juntar todos os partidos de direita no mesmo barco, o líder social-democrata deixou o toque: “Em face destes resultados, a governabilidade dos Açores não é simples, porque a esquerda não consegue maioria”.

Bolieiro escolheu a mesma estratégia — manter margem para acudir a todos os cenários. “Reafirmo a minha total disponibilidade para assumir responsabilidades, mas nunca através de uma declaração unilateral, sempre com humildade, e disponível para o diálogo e para a concertação que interprete bem a vontade do povo”, apontou o social-democrata.

Contas à direita numa altura em que o PS vai tendo dificuldade em gerir o nervosismo. “[O governo regional] está feito num molho de brócolos”, diz uma fonte do partido ao Observador. O Bloco de Esquerda já assumiu que não vai ser força de bloqueio à governação PS, mas, com apenas dois deputados eleitos, não é suficiente. Os socialistas já se vão voltando para outro cenário: forçar eleições antecipadas.