O padre Mário Rui Leal Pedras, da Paróquia de São Nicolau, teceu duras críticas ao Governo na sequência das restrições impostas por altura dos Finados — entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro está impedida a circulação dos cidadãos entre concelhos —, argumentando que não compreende que o Governo imponha “restrições tão duras a um dever básico como é o cuidar dos nossos mortos e, ao mesmo tempo, crie de forma arbitrária ou política exceções à lei para eventos e atividades culturais”.

A mensagem do prior consta num vídeo publicado esta segunda-feira na conta de Youtube da Paróquia de São Nicolau, em Lisboa, e o mais certo é dizer respeito à missa do último domingo. Não é, porém, a primeira vez que o padre lança críticas neste contexto: já antes as comemorações do 1.º de maio mereceram um comentário por parte do pároco. No mais recente discurso, já visualizado mais de 6 milhares de vezes, o padre diz não colocar em causa a gravidade da pandemia, nem tampouco a necessidade de “encontrar medidas para controlar os contágios”, mas estranha a decisão do executivo de António Costa.

“Provavelmente não devia estranhar. Não tem sido esta a atuação do Governo? Se for a Páscoa não pode, se for o 25 de abril, sim, pode. Se for o 13 de maio, em Fátima, não pode. Se for o 1º de maio, sim, pode. Se forem os Santos populares, não pode. Mas se for o Avante!, sim, já pode. Se for a uma igreja, guarde dois metros de distância entre cada pessoa. Se for a um cinema ou a um teatro, basta uma cadeira de intervalo. E num avião nem isso é preciso. (…) Nos transportes públicos o Governo garante que não pode haver contágio”, argumenta.

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Os exemplos de Mário Rui Leal Pedras não se ficam por aqui, com o pároco a também mencionar o Grande Prémio da Fórmula 1, que aconteceu este fim de semana em Portimão e cuja lotação foi reduzida para 27.500 lugares, de acordo com as recomendações da Direção-Geral da Saúde. “Dá vontade de perguntar: mas os cemitérios não são quase há 2 séculos ao ar livre? Porque insiste então o Governo em penalizar a fé dos católicos? Não seria possível indicar regras para que se realizasse a expressão normal e ordeira da fé, da piedade, da saudade, do amor familiar? Porquê restringir? Porquê menorizar os portugueses? Quase apetece perguntar, se formos de Ferrari, podemos ir rezar pelos nossos mortos?”, pergunta, referindo-se ainda à declaração “assética” de luto nacional pelas vítimas da pandemia para o dia 2 de novembro.

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A intervenção culmina com as palavras que constam na nota enviada às redações pelo Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) a 12 de outubro: “Não se adoece apenas de Covid-19. A impossibilidade de exprimir de forma sensível e concreta saudades e afetos também é causa de sofrimento e de doença, por vezes grave e até mortal”.

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No comunicado então divulgado, a CEP pediu que os cemitérios se mantivessem abertos nos dias de Todos os Santos e de Todos os Fiéis Defuntos, a 1 e 2 de novembro: “Tenha-se em conta que a emergência sanitária já dura desde março e que muitas famílias enlutadas neste período nem sequer puderam acompanhar adequadamente os seus entes queridos em exéquias muitas vezes celebradas, como diz o Papa Francisco, de um modo que fere a alma”.