Portugal tem duas novas estrelas Michelin: uma no restaurante Eneko Lisboa, do multi-estrelado chef espanhol Eneko Atxa, e outra no 100 Maneiras, espaço de Ljubomir Stanisic, mediático cozinheiro de origem bósnia.

No atípico ano de 2020, em pleno contexto de pandemia, o famoso guia gastronómico decidiu realizar a habitual gala de divulgação dos novos galardoados em formato digital, sendo esta transmitida a partir da Real Casa de Correos, na Puerta del Sol, em Madrid, via streaming. Como o Observador já tinha noticiado em novembro deste ano, o guia trouxe novidades para Portugal — mas não só em termos de estrelas. A segunda maior distinção que a Michelin entrega aos restaurantes, o chamado Bib Gourmand, também viu um crescimento modesto em terras portuguesas. Aos 35 que já existiam no guia anterior juntam-se mais cinco: o Avista, no Funchal (chef Benoit Sinthon); o algarvio Check-In Faro (chef Leonel Pereira); O Frade, em Lisboa (chef Carlos Afonso); e o portuense Semea by Euskalduna (chef Vasco Coelho Santos).

Eneko Atxa chegou a Lisboa: “Sustentabilidade só como marketing é pão para hoje e fome para amanhã”

“[a estrela] Tem um impacto gigante, principalmente nas pessoas que trabalham comigo e que acreditaram nisto desde o primeiro dia. Principalmente este ano, que foi o pior ano da minha história. Um homem nunca vem só, sem equipa não fazes nada. E é uma constatação de que vale a pena lutar. Não baixámos os braços com a Covid. Tive muitas crises, já estava completamente arrasado, e eles levantaram-me“, reage Ljubomir Stanisic no rescaldo da grande notícia, vivida no 100 Maneiras. “Um ano como este ano acaba com uma vitória, 20 anos depois estamos a colher aquilo que semeámos. Dá muita pica para continuarmos a lutar”, continua Stanisic, que quase dispensa apresentações.

O cozinheiro do 100 Maneiras e do 100 Maneiras Bistro viveu este ano de 2020 como um autêntico turbilhão: mergulhou no cenário político com as reivindicações por apoios estatais ao setor da hotelaria e restauração feitas pelo movimento “A Pão e Água”; fez greve de fome à porta da Assembleia da Republica, com outros membros do movimento, em jeito de protesto pela recusa de serem ouvidos por António Costa e o Ministro da Economia Siza Vieira; viu-se envolvido num processo judicial onde é acusado de corrupção; e agora recebe esta importante distinção internacional.

Já Eneko Atxa é um dos vários super-chefs espanhóis que coleciona estrelas Michelin: esta será a sua sexta, no total, sendo que a sua “joia da coroa” é o tri-estrelado Azurmendi, no País Basco, a sua terra natal. O seu projeto em Portugal foi inaugurado no final de 2019 e está ligado ao luxuoso Penha Longa Resort (que tem outros dois espaços premiados: o Midori e o LAB by Sergi Arola, ambos com uma estrela). Todos estes espaços estão temporariamente encerrados por culpa da pandemia, sendo previsto que reabram a três de março de 2021.

Tanto em Espanha como em Portugal — o guia em questão abrange toda a Península Ibérica –, os únicos espaços que perderam estrela foram aqueles que encerraram definitivamente. Isto justifica que a única “perda” para Portugal seja a estrela solitária do São Gabriel, restaurante em Almancil que era liderado pelo cozinheiro Leonel Pereira (cujo novo projeto ganhou um Bib Gourmand) quando fechou portas em novembro de 2019.

Cabeças de vaca e Mandela no WC. Ljubomir Stanisic reinventa-se mas continua 100 Maneiras

Em novembro deste ano o responsável de comunicação do Guia Michelin Portugal e Espanha, Angel Pardo, já tinha relatado ao Observador o “esforço titânico” que os inspetores tinha feito para conseguir tornar realidade este guia centenário. Agora, o responsável esclarece que os mesmos passaram cinco semanas seguidas, sem parar, a inspecionar todos os restaurantes classificáveis para merecer distinção do guia. Foi até preciso contar com a ajuda de inspetores de outros países para o trabalho ser concluído. 

De destacar ainda a estreia das “Estrelas Verdes”, novo galardão do guia que pretende premiar restaurantes e chefs que primam pela valorização da sustentabilidade e defesa do meio ambiente no seu dia-a-dia. Todas as que foram atribuídas este ano destinaram-se a espaços espanhóis (21 no total), sendo que Eneko, por exemplo, recebeu duas: uma na sua “casa-mãe”, o Azurmendi, e outra no espaço Eneko, também em território basco. Este espanhol é muito conhecido pela importância que dedica à sustentabilidade ambiental e à ecologia.

Tóquio. Um três estrelas com selo verde e outros astros da gastronomia

Finalmente, em Epanha, o número de estrelados cresceu consideravelmente, como costuma acontecer, se bem que neste caso de forma mais contida. Este ano não houve nenhum novo três estrelas, por exemplo, apenas três novos bi-estrelados: o Bo.TiC, em Corçà (Girona), do chef Albert Sastregener; o Cinc Sentits, em Barcelona, do chef Jordi Artal; e ainda o restaurante Culler de Pau, em O Grove (Galiza), do chef Javier Olleros. A somar a estes  contabilizaram-se também 19 novos “uma estrela”.   

Lista dos restaurantes premiados (* indica novidade em relação ao ano passado):

1 estrela

• 100 Maneiras (Lisboa, chef Ljubomir Stanisic)*
• Eneko Lisboa (Lisboa, chef Eneko Atxa)*
• Mesa de Lemos (Viseu, chef Diogo Rocha)
• Epur (Lisboa, chef Vincent Farges)
• Vistas (V.N. de Cacela, chef Rui Silvestre)
• Fifty Seconds by Martín Berasategui (Lisboa, chef Filipe Carvalho)
• Midori (Sintra, chef Pedro Almeida)
• G Pousada (Bragança, chef Óscar Gonçalves)
• A Cozinha (Guimarães, chef António Loureiro)
• Antiqvvm (Porto, chef Vítor Matos)
• Bon Bon (Carvoeiro, chef Louis Anjos)
• Eleven (Lisboa, chef Joachim Koerper)
• Feitoria (Lisboa, chef João Rodrigues)
• Fortaleza do Guincho (Cascais, chef Gil Fernandes)
• LAB by Sergi Arola (Sintra, chef Sergi Arola)
• Largo do Paço (Amarante, chef Tiago Bonito)
• Loco (Lisboa, chef Alexandre Silva)
• Pedro Lemos (Porto, chef Pedro Lemos)
• William (Funchal, chef Luís Pestana)
• Vista (Portimão, chef João Oliveira)
• Gusto (Almancil, chef Heinz Beck)

2 estrelas

• Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira, chef Rui Paula)
• Alma (Lisboa, chef Henrique Sá Pessoa)
• Belcanto (Lisboa, chef José Avillez)
• Il Gallo d’Oro (Funchal, chef Benoît Sinthon)
• Ocean (Alporchinhos, chef Hans Neuner)
• The Yeatman (Vila Nova de Gaia, chef Ricardo Costa)
• Vila Joya (Albufeira, chef Dieter Koschina)