As regiões Centro e Lisboa e Vale do Tejo serão os principais motores do aumento de óbitos por Covid-19 que se tem registado nas últimas duas semanas em Portugal, calculou o engenheiro Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Em declarações ao Observador, o investigador esclareceu que, apesar de a média de óbitos por Covid-19 nos últimos sete dias no Norte estar a diminuir paulatinamente, desde 1 de dezembro que está a aumentar no Centro e em Lisboa e Vale do Tejo. Nas outras regiões, as variações são ténues e têm pouca expressão nas contas nacionais.

O balanço entre as médias de casos letais por semana em Lisboa e Vale do Tejo, Centro e Norte aponta para mais 10 a 12 mortes por semana, um número que coincide com o que se tem observador em termos nacionais. Se a 28 de novembro, a média de óbitos semanais nos sete dias anteriores era de 74 mortes, agora é de cerca de 86 óbitos.

Foi este salto que causou estranheza a Carlos Antunes e aos cientistas com quem trabalha no aconselhamento ao governo. O número de mortes já tinha estabilizado e nada parecia justificar que tivesse voltado a aumentar. Na verdade, as previsões eram de que o número de óbitos deveria começar a baixar na primeira semana de dezembro.

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A “incógnita” da segunda vaga: porque é que as mortes por Covid-19 voltaram a aumentar?

“A média de sete dias tem uma inércia, não muda de um momento para o outro, é estável”, descreveu o engenheiro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Tendo em conta os dados desta terça-feira, com uma taxa diária de 1,8%, Portugal pode duplicar o número de óbitos diários por Covid-19 a cada 39 dias. 

Na segunda-feira, a taxa era 0,2 pontos percentuais maior e a duplicação do número de mortes ocorreria a cada 35 dias. É que esta é uma métrica flutuante, que se ajusta conforme a realidade epidemiológica. “Está a estagnar, depois vai descer até zero. Quando baixar daí, o número de mortes começa a diminuir“, resumiu Carlos Antunes.

Questionado sobre o que deve estar a causar o aumento considerável do número de óbitos em Lisboa e Vale do Tejo e no Centro, mas não nas outras regiões portuguesas, Carlos Antunes responde que o motivo pode estar no relaxamento das medidas nos concelhos dessas regiões que baixaram o nível de risco nos últimos tempos.

Tanto na Grande Lisboa como em Coimbra, muitos concelhos baixaram do nível vermelho para o laranja e daí para o amarelo. Com a diminuição do número de novos casos nos 14 dias anteriores por cada 100 mil habitantes, as medidas tornaram-se menos restritivas, a mobilidade aumentou e os contactos também.

Na região Norte, o pico do número diário de óbitos por Covid-19 foi atingido a 23 de novembro, cerca de três semanas depois do pico do número de novos casos de infeção pelo novo coronavírus, registado a 04 de novembro. É de esperar que o mesmo venha a acontecer em Lisboa e no Centro, onde ainda não foi atingido o pico da incidência.

Carlos Antunes não consegue prever quando é que o pico da incidência será atingido. Neste momento, os dados indicam que os casos nestas regiões devem continuar a aumentar porque o número de reprodução (Rt) continua acima de 1. Isto significa que alguém infetado pelo novo coronavírus tem capacidade de o transmitir a mais do que uma pessoa, o que faz subir os números de forma exponencial.