Há cerca de 40 anos, Katalin Karikó já tinha a ideia de fazer medicamentos e vacinas baseadas na molécula de ARN, tal como as vacinas agora desenvolvidas pela Moderna e pela Pfizer/BioNTech. Mas, ao contrário destas farmacêuticas, que receberam centenas de milhões de euros para desenvolver uma vacina em tempo recorde, a investigadora húngara não conseguiu sequer uns poucos milhares de euros para trabalhar a sua ideia.

Nos anos 1990, quando Katalin Karikó queria explorar a possibilidade de usar tratamentos com ARN, a ideia que vingava era a da terapia genética, que mudava de forma permanente o ADN — isto antes de se perceber os riscos da terapia. A ideia de Karikó era a de que, injetando uma pequena molécula de ARN mensageiro, a célula do doente pudesse produzir a proteína que o curaria. “Agora toda a gente percebe, mas na altura não”, disse a cientista ao jornal El País.

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Katalin Karikó estudou Biologia na Hungria e, em 1985, foi fazer o doutoramento para os Estados Unidos — e nunca mais voltou ao país de origem. Foi na Universidade da Pensilvânia, já nos anos 2000, que conheceu Drew Weissman, que procurava uma vacina contra o VIH. Em 2005, os dois investigadores verificaram que bastava mudar uma letra na sequência de ARN para que não houvesse inflamação — um dos problemas identificados nas vacinas daquele tipo.

Em 2010, as patentes de Karikó e de Weissman foram compradas por um grupo de investigadores nos Estados Unidos que fundaram uma empresa que queria tratar doenças com ARN mensageiro — a ModeRNA (acrónimo para ARN modificado). Em poucos anos, e sem terem apresentado qualquer produto (até agora), a Moderna recebeu centenas de milhões de dólares de investidores que viam no ARN um caminho — 20 anos depois de a cientista húngara ter demonstrado isso mesmo.

Pela mesma altura, dois cientistas nascidos na Turquia fundaram uma pequena empresa na Alemanha, a BioNTech, e também adquiriram patentes de Karikó e Weissman. Em 2013, Katalin Karikó foi convidada para se juntar à empresa e é atualmente vice-presidente. Karikó e Weissman já foram vacinados.