Quase duas mil pessoas protestaram este domingo em Amesterdão contra as restrições ligadas à pandemia de covid-19 e contra o governo dos Países Baixos, que renunciou na sexta-feira. Muitos dos manifestantes não cumpriram as medidas sanitárias impostas e a polícia dispersou a multidão com recurso a canhões de água. Cem pessoas foram detidas.
Os manifestantes reuniram-se à tarde na praça dos museus (Museumplein), no centro da capital, no seguimento de um apelo lançado nas redes sociais: “Nunca mais votem no governo Rutte!”.
Os manifestantes, muitos dos quais não cumpriram as medidas sanitárias impostas, foram expulsos pela polícia, em particular com o uso de canhões de água, afirmou o município de Amesterdão em comunicado. Alguns manifestantes atiraram pedras aos polícias, acrescentou o município, que contabiliza uma centena de detenções.
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, apresentou na sexta-feira a sua demissão e a de todos os ministros do executivo, na sequência de um escândalo relacionado com abonos de família e a acusação indevida de milhares de pessoas de fraude.
“O Estado de Direito deve proteger os seus cidadãos de um Governo todo-poderoso. Isso falhou de forma horrível”, declarou Rutte durante uma conferência de imprensa, na qual confirmou ter apresentado a sua demissão ao rei dos Países Baixos, Guilherme Alexandre.
“Todos nós concordamos: quando todo o sistema falha, só uma responsabilidade conjunta pode ser assumida”, acrescentou o primeiro-ministro demissionário.
Momentos antes deste anúncio de Mark Rutte (no poder desde 2010), os ‘media’ holandeses já tinham avançado que o primeiro-ministro holandês ia avançar com a demissão do Governo de coligação de centro-direita (que inclui quatro partidos), que acontece a cerca de dois meses das eleições legislativas, previstas para 17 de março, e em plena crise sanitária da pandemia da doença covid-19.
Esta decisão surge após a divulgação de um caso que envolve os serviços tributários holandeses e a acusação indevida de milhares de famílias de fraude em relação a atribuição de abonos para crianças e jovens.
O caso veio a público através de um relatório de uma comissão de inquérito parlamentar divulgado em dezembro.
De acordo com o documento, entre 2013 e 2019, pelo menos, os serviços fiscais holandeses terão acusado erradamente milhares de pais de fraude em relação a atribuição de apoios, tendo cancelado os respetivos abonos e exigido às famílias, muitas delas com graves problemas financeiros, a devolução (com retroativos de vários anos) dos subsídios.
Muitas destas famílias foram igualmente submetidas a perfis étnicos, em função da sua dupla nacionalidade.
Na sequência deste caso, o líder do Partido Trabalhista holandês (PvdA), Lodewijk Asscher, que foi ministro dos Assuntos Sociais e do Trabalho durante o período em questão, anunciou na quinta-feira a sua demissão.
Após a divulgação deste caso, altos responsáveis políticos holandeses, incluindo vários ministros em funções, têm sido acusados de ter conhecimento destas disfuncionalidades do sistema e de terem optado por ignorá-las.
Ainda na conferência de imprensa e a propósito da crise da covid-19, e numa altura em que o país está a aplicar as medidas mais restritivas desde o início da pandemia, Mark Rutte quis tentar tranquilizar os holandeses e garantiu que “a luta contra o novo coronavírus prossegue”.
Antes deste escândalo, Mark Rutte, primeiro-ministro desde 2010 e um dos líderes políticos que está há mais tempo no poder no espaço europeu, tinha manifestando a sua intenção de se candidatar a um quarto mandato.