A Amnistia Internacional pediu esta sexta-feira à China que permita às crianças da minoria uigure juntarem-se aos pais, fugidos do país devido à campanha de detenção em massa em Xinjiang, e instou outros governos a ajudarem as famílias a localizarem-se.

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Num relatório que divulga os resultados de uma investigação feita pela organização humanitária, a Amnistia Internacional revela sexta-feira casos de famílias exiladas cujas crianças ficaram entregues a parentes, mas que são enviadas pelo Governo chinês para “orfanatos” estatais na região chinesa de Xinjiang para serem doutrinadas.

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Numa petição lançada pela organização de direitos humanos, é pedido ao Governo chinês que dê, de forma completa e sem restrições, acesso aos especialistas em direitos humanos da ONU, aos investigadores independentes e a jornalistas para investigar a situação em Xinjiang.

Ao mesmo tempo, a organização insta outros governos a fazerem tudo o que puderem para garantir que uigures, cazaques e outras minorias étnicas chinesas residentes nos seus países recebam ajuda na tentativa de localizar, contactar e reunir-se com os seus filhos.

A organização falou com pais que foram separados dos seus filhos – alguns com apenas cinco anos de idade – e não podem regressar à China devido à ameaça de serem enviados para campos de internamento e “reeducação”.

A implacável campanha de detenção em massa da China em Xinjiang colocou famílias separadas numa situação impossível: as crianças não podem sair e os seus pais enfrentam perseguições e detenções arbitrárias se tentarem voltar para casa para cuidar deles”, explica o investigador da Amnistia Internacional na China, Alkan Akad, no relatório divulgado sexta-feira.

“Os testemunhos comoventes dos pais com quem falámos apenas afloram a superfície da escala de sofrimento suportado pelas famílias uigures separadas dos seus filhos. O Governo chinês tem de acabar com as políticas cruéis em Xinjiang e garantir que as famílias podem reunir-se o mais rapidamente possível, sem medo de serem enviadas para um campo opressor”, afirma.

Nos últimos quatro anos, cerca de um milhão de pessoas foram detidas arbitrariamente nos chamados centros de “transformação pela educação” ou “treino vocacional” em Xinjiang, onde foram submetidos a várias formas de tortura e maus-tratos, incluindo doutrinação política e assimilação cultural forçada, denuncia a Amnistia Internacional.

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A organização entrevistou seis famílias uigures exiladas, que atualmente residem na Austrália, Canadá, Itália, Países Baixos e Turquia, e que deixaram filhos na China, antes da intensificação da repressão contra as minorias muçulmanas, em 2017.

Uigures no estrangeiro hesitam, muitas vezes, em falar publicamente sobre os abusos de direitos humanos contra eles e contra as suas famílias por medo de represálias para os seus parentes na China. Apesar disso, alguns pais decidiram partilhar publicamente as suas histórias na esperança de que isso os ajude a reunirem-se aos seus filhos em breve”, disse Alkan Akad.

Um dos casos é de Mihriban Kader e Ablikim Memtinin, que fugiram de Xinjiang para Itália em 2016, depois de serem assediados pela polícia e pressionados para entregarem os seus passaportes.

O casal deixou quatro filhos aos cuidados temporários dos avós, mas, pouco tempo depois, a avó foi levada para um campo de detenção e o avô foi levado para ser interrogado pela polícia.

“Nenhum outro familiar se atreveu a cuidar dos meus filhos depois do que aconteceu aos meus pais. Tinham medo de também serem enviados para campos”, disse Mihriban à Amnistia Internacional, citado no documento divulgado sexta-feira.

As três crianças mais novas foram enviadas para um “campo de órfãos” – instalações criadas em Xinjiang para alojar e doutrinar crianças cujos pais foram detidos, explica a Amnistia, acrescentando que o filho mais velho foi colocado numa espécie de colégio interno, onde ficou submetido a vigilância pesada.

Mihriban e Ablikim nunca conseguiram contactá-lo, apesar de, em novembro de 2019, terem recebido autorização do Governo italiano para levar os seus filhos para o país.

As quatro crianças – com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos – viajaram sozinhas pela China até ao consulado italiano em Xangai, mas foram detidas pela polícia e enviadas de volta para o orfanato e colégio interno.

“Agora os meus filhos estão nas mãos do Governo chinês e não tenho certeza se alguma vez os conseguirei voltar a ver”, lamentou Mihriban.

A tragédia da separação das famílias em Xinjiang expõe a desumanidade da China no controlo e doutrinamento de uigures e outros grupos étnicos muçulmanos em nome do ‘combate ao terrorismo'”, acusa Alkan Akad.

“A China tem de acabar com as medidas que restringem os direitos de todas as minorias muçulmanas de sair e voltar ao país livremente. Deve fechar todos os ‘campos de reeducação’ políticos e libertar imediata e incondicionalmente os detidos”, defendeu.