Aquela careta que fazemos, acompanhada de um desvio de olhar, quando vemos um prato de comida de que não gostamos. Ou a sensação de “água na boca” ao sentir um cheiro agradável que vem da cozinha e antecipamos o que será o jantar. Estas são as reações. O que Ana João Rodrigues quer saber é o que ocorre antes: que mecanismos são desencadeados no cérebro humano que provocam estes comportamentos? Que circuitos percorre uma informação, de que neurónios vem, para que neurónios vai, que neurotransmissores são envolvidos entre o momento em que um estímulo é codificado – como positivo ou negativo – e o momento em que isso provoca uma ação.

Estes “selos” que condicionam os comportamentos – sobre uma refeição ou sobre qualquer outro momento da nossa vida – são atribuídos numa zona específica do cérebro, o nucleus accumbens, que faz parte do estriado ventral e desempenha um papel importante na memória emocional. É aqui que se julgava que diferentes populações de neurónios codificavam diferentes categorias de estímulos. Mas a cientista da Instituto de Investigação em​ Ciências da Vida e Saúde, na Universidade do Minho, descobriu que não é bem assim: os mesmos neurónios que atribuem uma valência positiva a um estímulo podem também atribuir um “selo” negativo.

Os primeiros resultados das experiências que estão a ser conduzidas pela equipa da investigadora no Campus de Gualtar, em Braga, deverão ser conhecidos dentro de dois a três anos e permitirão compreender melhor doenças como a depressão ou a adição.

Leia aqui a história deste projeto.

Este artigo faz parte de uma série sobre investigação científica de ponta e é uma parceria entre o Observador, a Fundação “la Caixa” e o BPI. O projeto Como Classifica o Cérebro os Estímulos como Positivos ou Negativos / Encoding Reward and Aversion in the Mammalian Brain: the Overlooked Role of Endogenous Opioids (RewAve), de Ana João Rodrigues, do ICVS/ Escola de Medicina, da Universidade do Minho, foi um do 25 selecionados (6 em Portugal) – entre 602 candidaturas – para financiamento pela fundação sediada em Barcelona, ao abrigo da edição de 2020 do Concurso Health Research. A investigadora recebeu 500 mil euros por três anos. O Health Research apoia projetos de investigação em saúde e as candidaturas para a edição de 2021 encerraram a 3 de dezembro. Em meados deste ano deverão estar disponíveis as informações sobre as candidaturas para 2022.

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