A PSP teve de encontrar um equilíbrio entre a “ordem pública e a saúde pública”, quando, no último sábado, cerca de 3 mil pessoas, muitas delas sem máscara, se juntaram no Rossio, em Lisboa, numa manifestação autorizada contra as restrições impostas pelo Governo para conter a pandemia de Covid-19. Multar centenas de pessoas poderia levar a um aumento de tensão entre os manifestantes e a polícia. Fonte da PSP explica ao Observador que foi por isso que foram levantados apenas três autos durante o protesto, todos por consumo de álcool na via pública e nenhum pela não utilização de máscara, que é obrigatória sempre que não é possível manter o distanciamento social. A resposta policial ao comportamento dos organizadores da manifestação vai chegar, no entanto, em forma de queixa crime, avançou o Expresso e confirmou o Observador junto de fonte policial.

Oficialmente, a PSP não vai prestar quaisquer declarações sobre a manifestação que ocorreu sábado — e na qual, confirmou o Observador, esteve pelo menos uma pessoa infetada, ligada à organização. As imagens registadas no protesto mostram que grande parte dos manifestantes não usavam máscaras nem mantinham o distanciamento social determinado pela Direção Geral da Saúde, o que dá direito a multa. Mostram também vários elementos da polícia, eles sim de máscara, a vigiar de perto o evento, mas sem qualquer intervenção.

Milhares marcham em todo o mundo contra as medidas impostas pelos governos para aliviar pandemia

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Ao que o Observador apurou junto de fonte policial, sendo uma manifestação autorizada em que acabaram por comparecer mais de três mil pessoas, a estratégia policial passou por chegar a um equilíbrio entre a “ordem pública e a segurança pública”. Por isso a PSP optou por não se lançar num registo de multas infindável, que podia gerar confrontos com os manifestantes — como aliás aconteceu noutros países, como a Alemanha e o Reino Unido, onde foram mesmo feitas detenções. E escolheu dar primazia à ordem pública.

No entanto, a PSP não ficará de braços cruzados. Um dia depois de se saber do caso positivo de Covid-19 entre os manifestantes, o Expresso avançou que os organizadores da manifestação vão ser alvo de um processo-crime por vários crimes, como atentado à saúde pública, não criação de condições de segurança no evento e instigação à violação das normas sanitárias. Uma informação que o Observador confirmou junto de fonte da PSP.

A manifestação repetiu-se em cidades de vários países. Em Portugal, segundo a PSP, foram cerca de 3.000 os manifestantes, num protesto autorizado que começou no Parque Eduardo VII, desceu pela Avenida da Liberdade e terminou no Rossio, onde por volta das 17h00 ainda permaneciam cerca de mil pessoas, muitas sem máscara e sem garantir qualquer distanciamento social.

Pessoa envolvida na organização de manifestação contra o confinamento infetada com Covid-19

Essas são, aliás, algumas das medidas impostas pelos governos que estes manifestantes contestam. No comunicado enviado para as redações, o movimento promotor da iniciativa pede “liberdade, respeito, tolerância e direitos humanos”. Assinado por “vários grupos” que se dizem desagradados com as medidas impostas pelo Governo português e pela União Europeia — referindo o passaporte de vacinação como um desses exemplos –, o comunicado refere ainda as consequências dos confinamentos não só para a economia, como para os direitos e liberdade de cada um.

“As medidas de combate à pseudo-pandemia agravam as desigualdades sociais, fragilizam ao ponto de pobreza as classes mais baixas e apenas são eficazes na promoção de um único e verdadeiro confinamento: o do lazer, da cultura e do desporto, também eles fonte de saúde bio-psico-social”, lê-se.

Luís Freire Filipe, responsável pelas operações do “Movimento Defender Portugal”, que contribuiu para a realização do protesto de sábado, inserido na iniciativa World Wide Demonstration, confirmou esta terça-feira o caso positivo entre os organizadores. O diagnóstico foi conhecido esta segunda-feira, cerca de 48 horas após o protesto, e falta ainda realizar um teste PCR.

O Movimento Defender Portugal não foi organizador da manifestação de sábado, mas “colaborou dentro do possível na logística de suporte à manifestação”, usando as redes sociais para publicitar o evento.