O índice de transmissibilidade no continente atingiu o valor que o Governo determinou como linha vermelha numa das linhas da matriz que apresentou a 11 de março. Segundo o comentador Luís Marques Mendes, o valor do Rt, que mede o ritmo da transmissão do SARS-Cov-2, chegou este domingo a 1. O Governo determinou como critério, na matriz de risco apresentada, que o Rt a 14 dias de 1 é uma das duas linhas vermelhas (a outra é atingir os 120 mil casos por cem mil habitantes).

“O Rt nacional está nos 0,98 e o fator mais perigoso é que o R aqui no continente já está em 1”, afirmou Marques Mendes no seu espaço de comentário na SIC, este domingo. Há dois dias, o matemático Óscar Felgueiras tinha explicado, em declarações ao Expresso, que “o Rt divulgado esta sexta-feira tem uma semana de desfasamento e aponta uma média a cinco dias, centrada no dia 26”, os números consolidados (a 14 dias) revelados por Marques Mendes são já relativos a este domingo, garantiu o comentador. Isto numa altura em que arranca a segunda fase do plano de desconfinamento.

Também o primeiro-ministro, na última quinta-feira, afirmou que “o ritmo de transmissão dirige-se para uma zona cada vez mais próxima do amarelo [da matriz de risco apresentada na apresentação do plano de desconfinamento]”.

Vacinação: idade será critério, mas com exceções

Marques Mendes disse ainda que recolheu dados sobre a vacinação, junto da Direção Geral de Saúde e a task force da vacinação e que na próxima fase, depois de vacinadas todas as pessoas com 80 anos ou mais, o “critério principal” passará a ser o da idade, “dos mais velhos para os mais novos” com algumas exceções. As “pessoas transplantadas, com doenças neuromusculares ou pessoas com doença oncológica ativa” vão ser prioritárias, disse o comentador e ex-líder do PSD que garantiu ter apurado esta informação junto da DGS.

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Já se sabia que a vacinação em massa começaria neste mês de abril e agora Marques Mendes vem acrescentar que isso vai acontecer no domingo dia 18 de abril, com inscrição feita de forma eletrónica, no Portal da Saúde, e as pessoas a poderem escolher a data e o ponto de vacinação onde querem ser vacinadas. Quem não usar a plataforma será contactado pelos meios tradicionais, garantiu o comentador que diz que o objetivo é “ter toda a população acima dos 65 anos vacinada até fim de Maio” e a partir desse mês vacinarem-se 100 mil pessoas por dia, o que o primeiro-ministro já tinha dito ser o objetivo em maio, em 162 grandes postos de vacinação.

Apesar das alterações, Mendes considera que o ritmo de vacinação até agora tem tido “um resultado insuficiente”, já que até agora 1.280 milhões de pessoas receberam uma dose e apenas 550 mil têm a vacinação completa. Nos próximos meses, Mendes diz que a previsão aponta para 1,8 milhões de pessoas vacinadas no mês de abril e mais de 3 milhões em maio. Até junho, o valor subirá para 9 milhões, nestas estimativas.

“Relação Belém São Bento vai ficar mais azeda”

O comentador também analisou a situação política da última semana, marcada pela promulgação pelo Presidente da República do reforço dos apoios sociais pelo Parlamento, contra a vontade do Governo. E do consequente envio dos diplomas para o Tribunal Constitucional por António Costa, contrariando o Presidente. “Foi um beliscão forte ” esta semana, disse Marques Mendes que acredita que “nada ficará como antes” mas que, no entanto, disse que esta situação não vai resultar numa “crise política, mas a relação vai ficar mais azeda entre Belém e São Bento“. E isto porque o ” primeiro-ministro não se limitou a assumir uma divergência. Fez questão de afrontar, beliscar e desafiar o Presidente”.

O social-democrata responsabiliza António Costa por esta situação, dizendo que “o primeiro-ministro “semeou vento se vai colher tempestadas” e que transformou isto num conflito que não é bom para ninguém, a começar pelo próprio Governo”. E acredita que a questão agora aberta “vai ter consequências na Assembleia da República”, acusando António Costa de “descurar sempre o dia de amanhã” uma vez que, na sua opinião, se prevêm “muitas coligações negativas” e possivelmente “um Orçamento que vai ser uma manta de retalhos, completamente desfigurado”, com uma “relação mais difícil com o PCP e o BE”.

Para Mendes, a questão da norma-travão “é um pretexto” e que o “verdadeiro conflito é de poder”, já que “o primeiro-ministro acha que depois da reeleição Marcelo está mais livre e forte e quer ser mais interventivo, e por isso está a tentar condicioná-lo”. Quanto à decisão do Tribunal Constitucional, o comentador acredita que será pela inconstitucionalidade dos diplomas.