Quando o jogo entre o Manchester United e o Liverpool foi adiado, no passado dia 2 de maio, depressa se percebeu que a nova data para a partida iria complicar ainda mais os calendários das duas equipas — duas das equipas que, em Inglaterra e ao longo da temporada, mais se queixaram da acumulação de muitos jogos no espaço de poucos dias. O encontro acabou por ficar marcado para esta quinta-feira: o que significa que os red devils vão assim completar uma semana em que jogaram quatro vezes em oito dias.

Para equilibrar esforços e gerir o plantel, até porque ainda tem de garantir o segundo lugar da Premier League e disputar a final da Liga Europa, Solskjaer mudou por completo a equipa no jogo contra o Leicester, com 10 alterações e a entrada de Bruno Fernandes apenas na segunda parte. A consequência acabou por ser a derrota com a equipa de Brendon Rodgers e a conquista do título por parte do Manchester City — que foi campeão no sofá, beneficiando do deslize do Manchester United. Mas Jürgen Klopp, que esta quinta-feira visitava então Old Trafford na continuação da demanda para chegar à Liga dos Campeões da próxima época, garante que teria feito exatamente o mesmo que o homólogo dos red devils.

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“Foi a equipa de que estava à espera. Eu sabia que ele tinha de fazer aquelas alterações. Com tudo o que aconteceu com os protestos em Manchester e com tudo o que levou a essa situação, jogar no domingo, na terça-feira e na quinta-feira é um crime. E isso não é culpa do Ole Gunnar Solskjaer e dos jogadores. A pergunta é: ‘Eu teria feito o mesmo?’. Sim. Tem de ser. Estamos no fim da época, o United vai à final da Liga Europa e isso significa um número terrível de jogos. E agora têm domingo, terça-feira, quinta-feira. Isso não é possível. E depois têm o fim de semana seguinte livre. Eu não sou o tipo que faz o calendário mas quando pensámos em como é que se podia fazer, no dia em que foi adiado, não havia jogos à terça e à quinta. A explicação da Premier League foi que nenhuma outra equipa deveria ser prejudicada pelo que aconteceu em Manchester. Mas isso não resultou muito bem”, atirou o treinador alemão do Liverpool.

Com o título arrumado na Premier League e com três jornadas por disputar, as contas para as duas equipas eram simples: o Manchester United estava confortável no segundo lugar e tinha garantido o apuramento para a Liga dos Campeões da próxima época, com mais 12 pontos do que o quinto classificado; o Liverpool precisava de vencer todas as partidas até ao final da temporada e esperar por deslizes do West Ham e do Chelsea para ainda acreditar nas competições europeias. Sendo que, para os reds, a melhor possibilidade para ainda chegarem à Liga dos Campeões é mesmo esperar que o Manchester United, precisamente, conquiste a Liga Europa e solte uma vaga na Premier League.

Solskjaer não podia contar com Harry Maguire, que se lesionou num joelho e tem até a final da Liga Europa em dúvida, e também estava desprovido de Martial e Daniel James, ambos com problemas físicas há algumas semanas. Do outro lado, Klopp não tinha Ozan Kabak, o que significava que Nathaniel Phillips e Rhys Williams eram os únicos centrais aptos, e confirmou também que o capitão Jordan Henderson não vai voltar a jogar pelo Liverpool até ao fim da época. Assim, no Manchester United, Bruno Fernandes era titular e capitão, acompanhado por Rashford, Pogba e Cavani, e Diogo Jota também começava de início no Liverpool, completando o trio ofensivo com Firmino e Salah, já que Mané estava no banco.

Centenas de adeptos voltaram a protestar contra a família Glazer, os donos do clube, junto a Old Trafford, novamente com o objetivo de evitar que o jogo se realizasse, mas desta feita não tiveram sucesso. A equipa de Solskjaer abriu o marcador à passagem dos 10 minutos iniciais, depois de os primeiros minutos terem sido discutidos principalmente no meio-campo e com muitos passes falhados. Rashford surgiu a dar apoio na direita, Wan-Bissaka cruzou atrasado a partir da linha final e Bruno Fernandes rematou, com a bola a trair Alisson depois de desviar em Nathaniel Phillips (10′). O Liverpool melhorou depois do golo sofrido e conquistou algum ascendente na partida, desenhando uma grande oportunidade para Diogo Jota, que apareceu na cara de Henderson na sequência de um enorme passe de Alexander-Arnold mas permitiu que o guarda-redes se antecipasse (23′).

O árbitro do jogo ainda assinalou uma grande penalidade de Bailly sobre Phillips, recuando na decisão depois de analisar as imagens do VAR, e Jota teve outra ocasião para empatar, com um remate forte que Henderson defendeu (33′). O golo do avançado português, porém, já não tardaria: na insistência depois de um canto na direita, Phillips atirou e Jota conseguiu desviar de calcanhar, apanhando o guarda-redes totalmente de surpresa com um toque de grande categoria (34′). A equipa de Klopp acabou a primeira parte por cima do jogo e conseguiu mesmo dar a volta ao marcador já nos descontos, com Firmino a responder da melhor forma a um livre batido de forma milimétrica por Alexander-Arnold (45+3′). O avançado brasileiro não marcava há 1.144 minutos pelo clube inglês mas não precisou de muitos mais para o voltar a fazer.

Logo no arranque da segunda parte, Roberto Firmino bisou. O Liverpool recuperou a bola numa zona muito adiantada do terreno, Salah deu largura do lado direito e atirou para uma defesa incompleta de Henderson, com o avançado brasileiro a atirar para dentro da baliza na recarga (47′). Diogo Jota ficou perto de fechar as contas, ao acertar no poste (59′), e Solskjaer reagiu às ocorrências com a entrada de Greenwood para o lugar de Fred.

O Manchester United conseguiu voltar ao jogo por intermédio de Rashford, que combinou com Cavani e ficou na cara de Alisson, atirando rasteiro para reduzir a desvantagem (68′). Nesta fase, a cerca de 20 minutos do final, o Liverpool começava a dar sinais de estar a quebrar em concentração e energia e Klopp trocou Jota e Wijnaldum por Mané e Curtis Jones para responder às investidas letais de Rashford, Bruno Fernandes e Cavani. Até ao fim, e depois de um período mais acelerado motivado pelas substituições, o jogo caiu em ritmo e intensidade e acabou por ficar oficialmente decidido com um golo de Salah, à beira do apito final, depois de mais uma perda de bola do United (90′).

Na primeira vitória de Jürgen Klopp em Old Trafford, o Liverpool bateu o Manchester United, ultrapassou o West Ham e subiu ao quinto lugar, posição de apuramento para a Liga Europa, a quatro pontos do Chelsea — o tal lugar que, caso a equipa de Solskjaer conquiste a segunda competição europeia, vale a Liga dos Campeões. Já os red devils, com duas derrotas consecutivas, ficam com menos margem de manobra em relação ao Leicester, que pode ainda roubar o segundo lugar da Premier League. E tudo isto graças a Roberto Firmino, que não marcava pelos reds há mais de mil minutos e escolheu a noite desta quinta-feira para ser decisivo.