913kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Da Ucrânia para Hollywood: Halyna Hutchins, a diretora de fotografia cuja vida e carreira promissora acabaram com um tiro acidental

Este artigo tem mais de 3 anos

Começou como jornalista na Ucrânia, mas dedicou-se ao cinema nos EUA. "Estrela em ascensão" em 2019, a carreira ainda estava no início. Morreu no incidente com Alec Baldwin.

SAGindie Sundance Filmmakers Reception
i

Halyna Hutchins tinha 42 anos

Getty Images for SAGindie

Halyna Hutchins tinha 42 anos

Getty Images for SAGindie

Um disparo acidental tirou-lhe a vida e o futuro promissor que parecia estar à espreita. A diretora de fotografia foi atingida pelo ator Alec Baldwin com uma arma de fogo — que deveria estar sem balas — no set de filmagens do western “Rust”, o filme onde era diretora de fotografia e que poderia vir a tornar-se importante na sua carreira. Passou pelo jornalismo, mas foi no cinema e atrás das câmaras que encontrou a sua maior paixão. Halyna Hutchins morreu aos 42 anos.

Halyna estava, passo a passo, a conseguir traçar o seu caminho, sobretudo nos últimos anos onde integrou a equipa de filmes maiores e com algum peso no universo cinematográfico. Mas antes de chegar ao lugar onde estava até esta quinta-feira, quando morreu em plenas filmagens, Halyna Hutchins percorreu outras estradas fora de Hollywood.

“Acidente trágico.” Tiro de Alec Baldwin com arma de adereço mata diretora de fotografia e fere realizador

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nasceu em 1979 na Ucrânia, ainda quando o país integrava a União Soviética, e teve isso bem presente até porque, filha de um oficial, cresceu precisamente numa base militar em climas árticos com direito a renas e submarinos nucleares. A própria assumia-se como uma “pirralha do exército”, mas não eram essas as lides que a fascinavam, pelo contrário. Já nessa altura o cinema começava a deixar marca porque “não havia muito a fazer lá fora”, dizia, citada pelo Guardian.

Apesar do gostinho pelo grande ecrã, foi no jornalismo que começou. Iniciou a carreira como jornalista depois de se ter formado na Universidade Nacional de Kiev. Mas rapidamente os planos mudaram de tom. Estava na hora de seguir o sonho. “A minha transição do jornalismo começou quando estava a trabalhar em produções cinematográficas britânicas na Europa de Leste, a viajar com equipas para locais remotos e a ver como o cineasta trabalhava”, observou Halyna na altura. “Fiquei fascinada com a forma de contar histórias baseadas em personagens reais.”

Ao Guardian, Yana Nestoliy, uma amiga da universidade, descreveu a cineasta como “uma verdadeira líder, mas também calma e atenciosa — uma personalidade realmente única, ela era uma estrela entre a multidão”, disse. “Pode-se ver desde sempre que ela iria longe, que não ficaria apenas na Ucrânia. Ela tinha sempre um objetivo de ir para a América para trabalhar em cinema, era tudo o que ela falava e sonhava. E é tão trágico que a única coisa que ela amava a matou.”

Em 2013 Halyna mudou-se para Los Angeles para estudar cinema

Getty Images for AMC Networks

Em 2013 partiu para a Califórnia onde estou até 2015 no American Film Institute Conservatory, em Los Angeles. “Fez-me realmente repensar quem eu era como artista e como eu queria trabalhar”, disse, tendo começado a trabalhar em várias pequenas produções e curtas-metragens. Foi conseguindo desenvolver “a sua própria visão”, mas também foi sendo capaz de perceber como era trabalhar com um realizador e uma equipa.

Era o início de uma carreira em Hollywood. Trabalhou como diretora de fotografia em “Darlin” (2019), de Pollyanna McIntosh, nos filmes “Archenemy” (2020), de Adam Egypt Mortimer e com elenco composto por atores como Joe Manganiello, “Blindfire” (2020), de Michael Nell, e “The Mad Hatter” (2021), de Catherine Devaney.

Houve dois disparos acidentais dias antes do acidente fatal de Alec Baldwin. Arma seria uma “cold gun” e não estaria carregada

Em 2019, foi distinguida como uma estrela em ascensão do cinema pela American Society of Cinematographers.

Sensibilidade, compreensão e talento. O elogio final a Halyna

No mundo do cinema, são muitos os que lamentam a morte prematura de Halyna. Manganiello acabou por partilhar na sexta-feira uma fotografia a preto e branco de Hutchins no Instagram, onde dizia que Halyna era “um talento absolutamente incrível e uma grande pessoa”, escreveu. “Tinha um olho e um estilo visual tais, era o tipo de cineasta que se queria ver ter sucesso, porque se queria ver o que ela conseguia fazer a seguir […] Não havia nenhuma pressão que ela não conseguisse aguentar. Era uma grande colaboradora e uma aliada de qualquer pessoa em frente da câmara. Todos os que a conheciam estavam a torcer por ela”.

Ainda de “Archenemy”, também o realizador Adam Egypt Mortimer reagiu à morte daquela que um dia foi sua diretora de fotografia. “Estou tão triste por perder a Halyna. E tão furioso por isto poder acontecer num set de filmagens”, escreveu no Twitter. Mortimer acabou também por recuperar um tweet de 2020 onde tecia elogios à cineasta dizendo que Hutchins tinha “uma mente brilhante para a luz e a textura”, escreveu. “Os seus gostos e sensibilidade ao que é cinematográfico foram uma enorme mais-valia para a execução do nosso filme — o sentimento sombrio mas belo que referi como brutalismo romântico.”

A também realizadora Olia Oparina, que trabalhou com Halyna em vários filmes, e que era uma amiga pessoal da cineasta, diz ter “perdido a melhor amiga”. “A dor é insuportável, e nada pode preencher esse espaço que agora está vazio sem o meu amor, apoio, e compreensão por Halyna […] Trabalhámos juntas, sonhámos com grandes filmes, e sempre acreditámos uma na outra. Halyna era dedicada ao seu trabalho; ela nunca se queixava, nunca dizia que estava cansada ou infeliz. Os seus olhos brilhavam de entusiasmo e paixão por cada um dos projetos em que trabalhou”, escreveu Olia.

“Trabalhou incansavelmente durante 11 anos, e a sua carreira apenas começou a descolar este ano. E termina assim? […] Porque demorou tanto tempo para que uma pessoa tão inegavelmente talentosa e carismática lá chegasse? Porque é que esta indústria leva uma eternidade a reparar num talento? Eu sei que se ela estivesse viva, um dia iria receber um Óscar. Pelo menos posso dizer que ela morreu a fazer o que mais amava”, rematou.

Frances Fisher, atriz em “Rust”, publicou uma fotografia sua em que abraça Hutchins. “Descansa no paraíso, querida Halyna — adorei ver-te trabalhar: o teu foco intenso e o teu comando vibrante da sala”, escreveu. “Pedi-te que ficasses ao meu lado na nossa fotografia porque queria ter a certeza de que estavas na frente e no centro, uma vez que há tão poucos realizadores de fotografia que não sejam homens.”

A propósito da indústria não a ter reconhecido quando devia, também a realizadora, produtora e escritora Sidra Smith deu conta no Instagram que ficou “arrasada” pelas notícias sobre Hutchins, com quem trabalhou na minissérie “A Luv Tale”. “Aqui é difícil para as mulheres cinematógrafas e esta foi uma oportunidade enorme para ela. Ela era tão jovem e tão talentosa. Halyna e eu passámos tanto tempo juntas. Ela era tão belamente graciosa e as palavras não conseguem expressar o apoio que me dava”, pode ler-se.

Matthew Hutchins, marido da cineasta que já tinha revelado estar em contacto com Baldwin, em declarações à Insider disse estar “sem palavras” para falar sobre a situação. “Não vou poder comentar os factos ou o processo daquilo por que estamos a passar neste momento, mas agradeço que todos tenham sido muito simpáticos”, lamentou Matthew de 38 anos. “Penso que vamos precisar de um pouco de tempo antes de podermos realmente encapsular a sua vida de uma forma que seja fácil de comunicar.”

“Sonhadora inquieta. Viciada em adrenalina. Diretora de fotografia” — era assim que se definia a si mesma na curta biografia da sua página de Instagram. Por lá, desde o início do mês que Halyna publicava imagens das filmagens no Novo México, algumas do por do sol alaranjado, outras do próprio set de rodagem, do elenco e da equipa e, a última, aconteceu na quarta-feira, um dia antes de morrer, em que se mostrava a andar a cavala no cenário do filme. “Uma das regalias de fotografar um western é poder andar a cavalo no seu dia de folga”, escreveu por último.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.