Mais de uma centena de personalidades, a maioria de centro-direita, divulgou esta quarta-feira uma carta aberta ao Presidente da República pedindo que a data das eleições tenha em conta os processos eleitorais internos de vários partidos.

“Havendo vários partidos com processos eleitorais internos, regulares, obrigatórios e previamente iniciados, a resposta democrática não pode ser exigir-lhes que prescindam da democracia interna. Tal seria insustentável internamente, mas também criaria uma injusta vantagem ao obrigar alguns partidos a irem a eleições com líderes e programas com legitimidade substancial e formal caducadas”, defendem os 117 subscritores.

A carta, que dizem ser “um contributo cívico e construtivo, livre, independente, imparcial e guiado pelo interesse nacional”, tem assinaturas de políticos e antigos políticos como António Nogueira Leite, Nuno Crato, Luís Campos e Cunha, Diogo Feio, Francisco Mendes da Silva, de antigos presidentes do Tribunal Constitucional como Cardoso e Costa e Rui Moura Ramos e de muitos gestores ou professores universitários, alguns também já com intervenção política, como Rui Medeiros ou Pedro Reis.

Os subscritores da carta — intitulada “Tempo para a Democracia: pela igualdade, qualidade e estabilidade democráticas” — referem que “nem no pico da pandemia, em estado de emergência, se suspenderam ou aliviaram exigências democráticas ou ‘despacharam’ eleições”.

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E, por isso, sem prejuízo do esforço de tais partidos na aceleração e agilização dos seus calendários internos, deve ser assegurado o tempo suficiente — mesmo que adaptado — para o decurso de um processo eleitoral interno livre e transparente que permita a escolha dos líderes, das suas equipas, dos programas e dos respetivos candidatos”, apelam.

Para os subscritores desta carta aberta a Marcelo Rebelo de Sousa, “a normalidade democrática dos partidos, em todos os momentos, mas especialmente em período pré-eleitoral, é um vetor fundamental do interesse nacional na qualidade da democracia e do Estado de Direito”.

O economista do Banco Mundial Abel Mateus, o antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos Álvaro Nascimento, a ex-presidente do Centro de Estudos Judiciários Anabela Miranda Rodrigues, os gestores Bruno Bobone, Francisco Van Zeller, Nuno Fernandes Thomaz ou Luís Filipe Reis, o professor catedrático Clemente Nunes, o jornalista Francisco Sarsfield Cabral, o advogado João Taborda da Gama e médicos como Jorge Marvão ou Jorge Penedo, Manuel Cunha e Sá e Maria Fernanda Lima são outros dos subscritores desta carta aberta.

Os subscritores defendem que a situação do país exige “um quadro parlamentar e um governo estável”, considerando que “a marcação de novas eleições é preferível ao arrastamento da instabilidade, fragilidade e degradação das instituições políticas”.

“A preparação dos programas e escolha dos candidatos, os vários debates e a campanha devem decorrer em tempo rápido, mas razoável, sem precipitações que sempre frustrariam os objetivos de esclarecimento dos eleitores e de superação dos impasses políticos”, consideram.

Os subscritores apontam ainda “experiências congéneres na União Europeia” para referirem que a gestão dos calendários pré e pós-eleitorais “tem sempre em conta a garantia dos mais elevados padrões de igualdade e qualidade democrática, tendendo a favorecer a estabilidade”.

“A discussão sobre alegados danos irreparáveis infligidos ao interesse nacional, quando estão em causa períodos perfeitamente razoáveis que não excedem escassíssimas semanas, afigura-se simplesmente artificial”, consideram.

Os subscritores defendem, por outro lado, ser “falsa” a ideia de “um conflito entre o interesse num processo eleitoral que decorra rapidamente, mas assegurando a normalidade democrática, e o interesse da economia, das empresas e dos trabalhadores, que alegadamente obrigaria a acelerar eleições e ter um Orçamento aprovado em tempo recorde”.

“Esse conflito não existe de todo, seja porque o acréscimo temporal que é indispensável à normalidade democrática interna e igualdade de oportunidades é diminuto; seja porque um processo eleitoral sereno e participado é fator de estabilidade e normalidade, crucial para o tecido económico-social”, apontam, acrescentando que a Comissão Europeia já clarificou que “a execução e pagamentos do PRR e dos fundos estruturais não estão dependentes do novo Orçamento, nem do processo eleitoral“.

Para os subscritores, “o ordenamento jurídico português aceita e acautela (regulando) situações de reprovação ou demora orçamental, mas não tolera e até ilegaliza atropelos democráticos e desigualdades eleitorais”.

“A Constituição quis atribuir as competências para dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas exclusivamente ao Presidente da República, não a uma maioria instantânea ou circunstancial de partidos que decidiriam interessadamente em causa própria”, reforçam.

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