Uma semana depois o objetivo era exatamente o mesmo para equipa de futebol feminino do Benfica, que esta quarta-feira voltava a encontrar as suecas do Häcken, mas em Gotemburgo: conseguir a primeira vitória de sempre na fase de grupos da Liga dos Campeões. Após os três primeiros jogos, a equipa orientada por Filipa Patão somava apenas um ponto, conseguido frente ao Bayern Munique (0-0). Além de uma derrota frente ao todo poderoso Lyon, por 0-5, foi precisamente o Hacken que a semana passada veio ganhar a Portugal. Com o Benfica no último lugar do grupo, estava ainda no poder das águias a manutenção, ou não, da esperança em continuar com hipóteses de seguir em frente na prova.

Após o jogo do passado dia 10 de novembro, o treinador adjunto André Vale referiu que a equipa “não conseguiu aproveitar as oportunidades num jogo em que esteve por cima na maior parte do tempo”. “É como dizemos: no futebol quem não marca sofre, e foi o que aconteceu. Estamos a aprender muito e a crescer ao defrontar estas jogadoras experientes. Conseguimos competir neste tipo de jogos, o que nos deixa orgulhosos”, referiu então. Assim, ficou logo claro depois desse jogo o que as encarnadas precisavam de fazer. Simples na teoria? Sim. Na prática, ainda saberíamos.

Na antevisão ao encontro desta quarta-feira, o mesmo André Vale lembrou que a sua equipa vai jogar “num estádio com muitos adeptos adversários e num relvado sintético”, mas assegurou que “isso não vai servir como desculpa” para um eventual resultado negativo e que as jogadoras estão “mais do que preparadas”. “Viemos mais cedo, com tempo para fazer um treino de adaptação ao relvado e nos habituarmos às condições que vamos ter. Também já mostrámos que sabemos jogar com público e com adversidade. Portanto, sacudidos aqueles nervos iniciais, será um jogo estrategicamente parecido e a nossa ambição será a mesma do jogo anterior, que é ganhar”, garantiu o adjunto de Filipa Patão, que queria ainda aproveitar “os espaços concedidos” pela equipa sueca. Tal como havia dito após o jogo da primeira volta, a equipa precisava de ser “menos perdulária”.

Não só por ser uma equipa experiente, não só por serem campeãs suecas, mas também os números não estavam a favor do Benfica. Isto porque o Häcken apenas perdeu um dos últimos 11 jogos em casa para todas as competições – 8 vitórias e 2 empates – não tendo sofrido golos em quatro dos últimos seis jogos. Por seu lado, o Benfica procurava ao quarto jogo o seu primeiro golo na competição. Uma das esperanças para se conseguir esse golo era a jovem Kika Nazareth, que esta quarta-feira fazia 19 anos.

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E rapidamente as águias começaram a procurar esse tal o golo, com Kika Nazareth, ainda dentro dos primeiros 90 segundos, a rematar forte depois de um bom momento de controlo de bola, perceber que não havia mais a fazer e rematar à baliza depois de conseguir espaço. Atenta, a guarda-redes Falk defendeu com classe e para canto. As jogadoras do Benfica, orientadas no papel por André Vale, visto Filipa Patão não ter ainda as qualificações exigidas pela UEFA, começavam o jogo na área adversária e foi a própria Kika a encarregar-se do pontapé de canto que viria a ser histórico. Bola na área, muita confusão, as defesas do Häcken não resolvem, Ana Seiça rematou contra a muralha sueca e acabou por ser Cloé Lacasse a resolver a situação da melhor forma: colocando a bola dentro da baliza sueca. Estava feito o primeiro golo do Benfica na Champions feminina deste ano e de sempre. Estavam decorridos 3′.

Uma entrada de luxo das encarnadas, mas o Häcken não se deixou ficar e foi rapidamente à procura do empate e de entrar no jogo. As suecas pressionavam e as encarnadas não conseguiam sair com qualidade, mas compensavam com luta e intensidade, não dando bolas por perdidas e tentando simplificar processos. Kika, Lacasse e Larisse e Valéria eram setas apontadas à baliza da equipa de Gotemburgo, que dominava a bola e tentava incomodar Letícia.

Com um ambiente de luxo, com os adeptos suecos a demonstrarem muito entusiasmo e os poucos do Benfica a fazerem-se ouvir e bem, o jogo continuava a ser bem disputado, entre duas equipas bem organizadas, mas a com objetivos diferentes praticamente desde o início do jogo. A equipa da Luz acabou por sacudir um pouco a pressão à passagem dos 25′ e Ana Vitória, aos 40′, podia ter feito golo de livre direto. No entanto, justificando um pouco a posse de bola e a pressão efetuada, foi o Häcken a criar muito perigo em cima do intervalo. Cruzamento da direita e Larsen, no centro da área, cabeceou muito perto da baliza do Benfica.

Se a primeira parte começou com um golo encarnado, a segunda arrancou com um susto. Kaneryd apareceu em boa posição na direita da área e rematou cruzado, com a bola a rasar o poste da baliza de Letícia. Parecia que as suecas vinham com tudo, mas foi a capitã encarnada, Pauleta, que de cabeça quase fez o 2-0 para o Benfica. Grande defesa fez Falk nesse lance. Passados três minutos foi Lacasse que quase bisou no encontro. Parecia que as águias tentavam acabar com a pressão sueca e, tirando mais um remate do Häcken, as águias conseguiram manter as adversárias a boa distância e foram encetando boas jogadas, sobretudo pela direita de Cloé Lacasse.

Depois de Zomers quase empatar o jogo aos 70′, o Häcken marcou mesmo… de penálti. Ucheibe cortou a bola na área com o braço e voltou a acontecer o que sucedeu em Portugal há uma semana: Rubensson da marca dos 11 metros frente a Letícia. Como há sete dias, o remate saiu para a direita da guarda-redes encarnada, que adivinhou o lado mas não conseguiu defender. Estava feito o empate à entrada dos últimos 15 minutos de jogo. Podia pensar-se que o Benfica ia acusar o golo, mas no minuto seguinte, de cabeça, Ana Vitória quase colocou a equipa portuguesa em vantagem novamente.

Parecia que os últimos minutos não iam ser fáceis para as encarnadas. Larsen quase fez golo de cabeça, mas Letícia agarrou, e depois foi Mijatovic, que saiu do banco das suecas para ser um autêntico quebra cabeças com a bola nos pés, a rematar em jeito com a bola passar muito perto da baliza encarnada. Letícia estava batida.

Contudo, já dentro dos 90′, e novamente com ambas as massas adeptas a darem um belo show, foi o Benfica a ganhar pontapés de canto e a jogar no meio-campo sueco. Nenhuma equipa se dava por derrotada, nem estava satisfeita com o empate.

E este mindset acabou por beneficiar as encarnadas. Livre marcado por Kika Nazareth, mais uma vez muito bem batido, e Catarina Amado aparece na cara de Falk a fazer o segundo golo, mais um histórico golo, o remate certeiro que carimbou a primeira vitória de sempre da equipa feminina do Benfica na Liga dos Campeões. A equipa técnica queria uma equipa “menos perdulária” e foi isso que teve. Marcar a começar, marcar a acabar e sair da Suécia com história feita.