O representante do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Moçambique, Alexis Meyer-Cirkel, considerou esta terça-feira pouco sensato pensar em limitar o desenvolvimento dos projetos de gás do país.

“Não me parece muito sensato esse movimento” oposto àqueles investimentos, referiu Meyer-Cirkel, em resposta a questões do público, após uma apresentação feita na Internet sobre as perspetivas económicas regionais e da nação lusófona.

O representante do FMI reconheceu que “as alterações climáticas têm efeitos negativos óbvios“, mas a sua ligação ao consumo de combustíveis fósseis “é um problema para ser resolvido a nível global” e não à custa de um ou outro país.

Moçambique é um país que emite muito pouco” carbono, proporcionalmente à população (30 milhões de habitantes) e em comparação com os restantes países no mundo, disse.

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Por outro lado, “a transição para fontes renováveis vai levar algum tempo e essa transição só pode ser feita com fontes não renováveis, pelo menos por um certo tempo”.

Alexis Meyer-Cirkel considerou que “o gás de Moçambique é um gás razoavelmente limpo” comparado com outras fontes não renováveis.

Acho que essa discussão, o impedimento de Moçambique desenvolver essa riqueza, penaliza desproporcionalmente um país que não tem contribuído” como outros “para a criação do problema e que é um país mais pobre”, sublinhou.

Moçambique começa a exportar a partir de 2022 gás natural liquefeito a partir da bacia do Rovuma, onde foram descobertas algumas das maiores reservas do mundo.

O gás deverá desempenhar um papel fundamental na economia moçambicana na próxima década.

No evento desta terça-feira, Alexis Meyer-Cirkel reafirmou a previsão do FMI de que Moçambique deverá crescer 2,5% este ano – sendo que o Produto Interno Bruto (PIB) já cresceu 1,78% até setembro, segundo dados oficiais.

Durante o primeiro trimestre deverá ser publicado o relatório da auscultação ao país no âmbito do artigo quarto dos seus estatutos, que prevê consultas aos Estados-membros, mesmo sem programa financeiro em vigor.

Questionado pela Lusa sobre se um novo programa pode ser celebrado em 2022, Alexis Meyer-Cirkel referiu que o FMI está a “conversar com o Governo” após este ter demonstrado interesse por um “programa de financiamento de mais longo prazo”.

“A materialização de um programa financeiro vai depender do diálogo e do interesse por parte do Governo”, concluiu.

Apesar de ter suspendido o apoio ao país em 2016, depois de reveladas as dívidas ocultas do Estado, no valor de 2,7 mil milhões de dólares — caso cujo julgamento decorre — , o FMI emprestou 104 milhões de euros em 2019 após os ciclones Idai e Kenneth para apoiar o Orçamento do Estado nos esforços humanitários e de reconstrução.

Depois de declarada a pandemia de Covid-19, o fundo concedeu 564 milhões de euros em apoios a Moçambique, cerca de metade num empréstimo a reembolsar “só depois de a produção, exportação e receitas fiscais do gás natural liquefeito arrancarem”, anunciou o organismo na altura.