Piscar de olho aos quase 3 mil militantes madeirenses, um trunfo chamado Alberto João Jardim, tiro a Rangel, tiro a Costa, certidão de óbito passada à ‘geringonça’. Foi esta a fórmula que Rui Rio escolheu para se despedir da Madeira naquela que foi a primeira e penúltima grande ação de campanha interna do líder social-democrata antes das próximas eleições diretas. Uma fórmula que pode ser resumida em três ideias: António Costa não pode continuar a condenar o país à estagnação; só Rio está preparado para devolver o PSD ao poder; e votar em Rangel, vai dizendo o líder social-democrata, é manter os socialistas no poder.
Com uma casa bem composta — cerca de 140 pessoas assistiram à intervenção de Rui Rio –, com Pedro Coelho, presidente da Câmara de Lobos, e Alberto João Jardim a fazerem o aquecimento, o líder social-democrata arrancou ao ataque.
“Tenho de mostrar aos portugueses e aos militantes do PSD quem é o melhor primeiro-ministro de Portugal. Quem não está verdadeiramente preparado é quem pensa que se pode preparar em 60 dias. O que está em causa é escolher o candidato a primeiro-ministro e não aquele que está em melhores condições de dizer mal do primeiro-ministro em funções.”
A receita não era nova nesta disputa interna, mas Rio não desarmou e carregou na dramatização: ele representa o “voto certo”; Rangel representa a certeza de que António Costa continua no poder. Se os sociais-democratas preferirem o segundo ao primeiro, podem hipotecar tudo. “É evidente o desgaste do PS. Os militantes do PSD estão conscientes de que não podemos perder esta oportunidade”, reforçou Rio.
O caminho para ganhar as legislativas, de resto, está traçado há muito: rumar ao centro e em força, insiste o líder social-democrata. “O PSD é um partido social-democrata, não é um partido de esquerda, nem de direita. É um partido de centro. Tem todas as hipóteses de ganhar pelo recentramento que fez. Não podemos estar concentrados à nossa direita. Temos de ir ao centro buscar aqueles que tendo votado no PS e agora estão disponíveis para votar no PSD.”
A leitura de Rio é simples: há larga fatia de eleitorado flutuante, que vota ao centro, e que está insatisfeito com o rumo seguido até então por António Costa e que está disposto a dar uma hipótese aos sociais-democratas se o líder em funções for alguém com o perfil de Rui Rio e não de Paulo Rangel.
Uma ideia que permitiu a Rio nova referência ao seu adversário direto. Rangel tem insistido em tentar colar ao líder do PSD a imagem de ser o favorito dos socialistas, em teoria por representar menos riscos para o PS. Para Rio, é uma medalha. “Paulo Rangel, pode estar ciente: tenho ouvido muita gente do PS a dizer que se for eu o candidato do PSD não vota no PS e vota no PSD.”
Talvez por isso, para concretizar esse apelo ao eleitor desiludido, Rio tenha a sessão com militantes desta terça-feira para ir mais longe nas críticas à governação de António Costa, acusando o socialista de ter uma política económica “completamente errada”, que se dedica a aumentar o salário mínimo de forma administrativa sem cuidar de um crescimento sustentado que crie mais e melhor emprego, de não resolver, antes agravar, o drama da dívida pública, de contribuir de forma decisiva para o degradar dos serviços públicos, de privilegiar as grandes empresas (TAP, EDP, Novo Banco) enquanto estrangula as pequenas e médias, de fazer da descentralização verbo de encher, e de não ter uma uma visão reformista do país.
Em suma, sugeriu Rio, ao mesmo tempo que ia prometendo resolver os dossiês pendentes entre Administração Central e Governo Regional da Madeira (a questão do aeroporto e a ainda as obras do novo hospital do Funchal), Costa é uma fórmula politicamente esgotada, sem ideias para relançar o país, incapaz de avançar com uma revisão da Constituição da República e reformas do sistema eleitoral, Justiça, fiscal ou da Segurança Social que deem um novo horizonte ao país, e impossibilitado de renovar a solução que lhe permitiu governar nos últimos anos. “Não se pode reanimar algo que já morreu.”
Já na fase de perguntas e respostas — houve apenas três questões colocadas pela plateia –, Rio deixou uma nota mais pessoal que ajuda a perceber o processo de decisão do líder social-democrata quando decidiu ser recandidato à liderança do PSD mesmo sabendo que as estruturas do partido estavam e estão, em teoria, maioritariamente com Paulo Rangel. “Aquilo que mais desejo é não desiludir as pessoas”, deixou escapar. Resta saber se o resultado de sábado vai ou não evitar esse desfecho.
Jardim diz que é tempo de parar de “brincar aos partidos”
Antes de Rio, já Pedro Coelho e Jardim tinham usado da palavra para mimar Paulo Rangel. Sem nunca referir Paulo Rangel, autarca de Câmara de Lobos cumpriu o papel que lhe estava destinado e defendeu que Rui Rio é o homem certo na hora certa.
“Os bons políticos não são aqueles que gritam e falam para as televisões. Quero um primeiro-ministro, não quero um comentador televisivo. Quero um executivo, um homem com provas dadas”, argumentou Coelho, recuperando uma crítica recorrente feita pelas tropas de Rio à falta de currículo de Paulo Rangel.
“A política portuguesa precisa de homens como Rui Rio: pessoas sérias, honestas, sem medo de criar inimigos, homem de convicções e põe sempre o país em primeiro lugar”, sintetizou.
Alberto João Jardim, que se tem destacado como um dos mais fervorosos apoiantes de Rui Rio e críticos de Paulo Rangel, não resistiu a distribuir novas e renovadas “bengaladas”, dizendo-se “estarrecido” com o facto de o eurodeputado minimizar as reformas propostas pelo líder social-democrata como se o país fosse só “beber e comer”.
Insistindo em tentar colar Rangel a uma suposta herança passista, a mesma que foi responsável pelo “genocídio social”, disse Jardim, imposto durante o governo de Pedro Passos Coelho, o ex-presidente do Governo Regional da Madeira insistiu que só Rio tem “preparação para desempenhar funções de primeiro-ministro” e que não era tempo de andar a “brincar aos partidos”.
“Sei que Rui Rio será um grande primeiro-ministro de Portugal. É um político de coluna e duro de roer. Eu tenho é medo de umas figurinhas que aí andam e que fazem da política um processo de tirar fotografias”, despediu-se, esfíngico, Alberto João Jardim.
Quanto a Rio, despedir-se-á da campanha com uma ação em Vila Nova de Gaia na sexta-feira, véspera de eleições. Depois disso, a palavra é devolvida aos militantes sociais-democratas.