A Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR) defendeu esta sexta-feira que a demissão do ministro Eduardo Cabrita só “peca por tardia” e lamenta que aconteça por questões políticas e eleitorais e não em consequência do trabalho não desenvolvido.

Só é pena que esta demissão seja uma demissão por aquilo que foi feito ou não foi feito durante o período em que foi ministro da Administração Interna, mas sim que tenha sido por uma questão política, meramente porque vamos para eleições e por causa do inquérito que está a decorrer por causa do atropelamento do cidadão que faleceu na autoestrada. Isto já era uma atitude que o senhor ministro já devia ter tomado há muito tempo”, disse à Lusa César Nogueira, presidente da APG/GNR.

O responsável da associação socioprofissional dos guardas republicanos defendeu que mais do que mudanças de ministros, a Administração Interna precisa de “mudança de políticas” e de investimento, “coisa que este ministro não avançou muito”, criticando ainda o facto de se ter tornado “protagonista” de tudo o que envolvia o ministério.

Eduardo Cabrita demite-se depois de acusação no caso de atropelamento mortal

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“Esta demissão peca por tardia, sim, mas será nomeado por um período muito curto um novo ministro que não irá fazer nada, porque depois iremos para eleições. Enquanto as políticas da Administração Interna não mudarem o ministro pode ser qualquer um. Aquilo que nós pretendemos é que mudem as políticas da Administração Interna. A demissão do ministro era uma coisa que veio dar jeito ao Governo ainda em funções e possivelmente ao PS, que depois irá para eleições”, disse César Nogueira.

O presidente da APG/GNR disse que do sucessor de Eduardo Cabrita espera poder trabalhar em propostas que deem resposta às reivindicações das polícias.

“Foi um trabalho inglório na tutela de Eduardo Cabrita. Andámos quase a passar o tempo, foi o que andámos a fazer. Ter como resultado o subsídio de risco de 69 euros, só por aí diz tudo, andamos com muitas reuniões para pouca coisa. O próximo ministro será a curto prazo, não irá mudar nada, apenas irá fazer cumprir o calendário. Agora estamos focados nas próximas eleições para ver quem irá governar e aí sim, iremos com todas as forças”, disse.

Eduardo Cabrita demitiu-se esta sexta-feira do cargo de ministro da Administração Interna, seis meses depois do acidente mortal provocado pelo carro em que seguia, terminando um mandato marcado por várias polémicas que desgastaram a sua imagem.

O motorista de Eduardo Cabrita foi esta sexta-feira acusado de um crime de homicídio por negligência no acidente de 18 de junho de 2021 em que foi atropelado na autoestrada A6 um trabalhador que fazia a manutenção da via na zona de Évora. A acusação pelo Ministério Público (MP) precipitou a demissão de Eduardo Cabrita, que já era pedida regularmente por várias forças políticas.

Após mais de cinco meses de silêncio quase total sobre o caso, Eduardo Cabrita deixou passar apenas algumas horas sobre a acusação do MP até à decisão de apresentar a demissão do cargo, anunciada ao final da tarde numa declaração aos jornalistas sem lugar a perguntas.

António Costa disse ter aceitado o pedido de demissão de Eduardo Cabrita do cargo de ministro da Administração Interna e que “nos próximos dias” indicará o nome do sucessor.