Um equipa de cientistas  britânicos vai perceber porque foram mumificadas dezenas de crianças nas Catacumbas dos Capuchinhos, em Palermo, na ilha de Sicília (Itália).

O estudo vai ser liderado por Kirsty Squires, professora de bioarqueologia da Universidade de Staffordshire (Reino Unido) e o trabalho de campo começará na próxima semana.

Serão analisadas 41 crianças com recurso a equipamentos de raio-x, para que o estudo seja feito num processo menos invasivo. Completamente vestidas, algumas das múmias foram colocadas em cadeiras e berços, estando ainda algumas das crianças mumificadas “de pé”, com a ajuda de cabos de madeira.

“Nós queremos compreender a vida destes indivíduos, o seu estado de saúde e o seu desenvolvimento, A partir daí, queremos comparar os dados biológicos com a componente cultural destas pessoas”, explicou à CNN a cientista.

“Vamos utilizar uma máquina portátil de raio-x para estimar a idade dos indivíduos com base na sua dentição e desenvolvimento, além da estrutura óssea“, explicou. A equipa que vai investigar as crianças mumificadas é composta por Kirsty, o seu colega Diario Piombino-Mascali, da Universidade de Vilnius, dois técnicos de radiologia e um artista de desenho.

Depois de tiradas 14 fotografias a cada uma das múmias — um total de 574 radiografias — os investigadores vão criar perfis biológicos sobre as crianças numa tentativa de compreender se este processo de conservação teria ligação com uma idade ou sexo específicos. Além disso, segundo o The Guardian, os dados serão depois cruzados com os registos presentes em dois livros também eles descobertos, que contêm nomes e datas da morte das múmias.

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Kirsty Squires afirmou que “[as radiografias] vão ainda ser utilizadas para detetar a presença de defeitos no desenvolvimento, indicadores de lesões patológicas , de modo a compreender o estado de saúde e o estilo de vida destas crianças em vida”.

As imagens via raio-x vão ser analisadas por Robert Loyes, um cirurgião ortopédico reformado que já colaborou anteriormente na análise de múmias descobertas no Egito.

Os Frades Menores Capuchinhos instalaram-se na igreja de Santa Maria della Pace em 1534. Quando o seu primeiro túmulo, semelhante a uma vala comum acessível através de uma porta no chão de um altar, ficou cheio, os mortos foram colocados num jazigo, enquanto as novas catacumbas eram construídas.

Na altura da transladação dos corpos para as criptas, 45 dos cadáveres foram mumificados de forma natural, o que foi visto como um “sinal de Deus”. Em vez de serem enterrados, os corpos foram então expostos como relíquias.

Em 1787, foi publicado um decreto que previa que todos os habitantes da região — incluindo crianças — tinham o direito de ser colocados naquelas catacumbas após a morte.

Nas catacumbas da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos existem 163 corpos mumificados de crianças, de um total de 1284 múmias presentes nestas catacumbas.

Enterradas entre 1787 e 1880, sendo parte da maior coleção de restos mumificados da Europa, cada uma das 41 crianças pertencia à classe média do seu período histórico, uma vez que a mumificação estava apenas reservada a quem possuísse mais riqueza, como a nobreza, a classe média e o clero, de acordo com Kirsty Squires.

As imagens da fotogaleria acima podem ferir a suscetibilidade de alguns leitores.