Vive-se um clima de guerra fria numa moradia em Villaviciosa de Odón, nos arredores de Madrid. Felipe Turover, um antigo espião da KGB (serviço de espionagem soviético) que conviveu de perto com Putin, alugou um quarto naquela residência, através do Airbnb, e não paga a renda desde setembro: deve aos proprietários mais de 3.000 euros, relata o El País.
Eladio Freijo e a mulher María acusam-no ainda de falsificação de documentos, já que Turover lhes apresentou os recibos bancários que alegadamente comprovam as transferências, argumentando que o atraso não deve passar de alguma falha técnica.
O medo assombra o casal, que dorme de porta trancada e ouve o hóspede indesejado a falar espanhol, inglês, russo ou francês ao telemóvel, no quarto ao lado. Uma vez, conta Eladio, aquele atirou: “Vocês sabem que eu tenho vantagem”.
Quando questionado pelo El País sobre o porquê de não pagar a renda, o antigo espião recusou responder. “Achei que íamos falar apenas sobre política e não sobre a minha vida. Isso é sensacionalismo”, reclamou. Esta afirmação está relacionada com o pretexto usado pelo jornal espanhol para conseguir a entrevista: falar sobre a sua presença no bestseller Putin’s People.
Turover contou também ao El País que Putin lhe disse friamente: “Tens duas semanas para deixar o país. Se não saíres, internamos-te”. Nessa altura, Turover fugiu para a Suíça. Na década de 1990, vários artigos na imprensa destacavam que Turover era um charlatão — por isso, é possível que parte desta história seja um exagero ou pura fantasia.
Mas, afinal, quem foi Felipe Turover? Foi quem revelou a corrupção do presidente Boris Yeltsin, dando início a um escândalo que terminou a 31 de dezembro de 1999 com a ascensão de Putin à presidência da Rússia.
O “amigo” de Putin sabia como causar uma boa primeira impressão, quando a 7 de janeiro de 2021 alugou o quarto na casa do casal espanhol por 10 dias. Era cordial e, pormenoriza o El País, utilizava emojis carinhosos nas mensagens do WhatsApp. Falava fluentemente espanhol, mas a pronúncia dos “r’s” denunciava a origem russa. Quando o casal já reformado escreveu o nome de Felipe Turover no Google, descobriram que se tratava de um antigo espião da KGB.
Turover assegurou-lhes que as mais de 4.000 entradas que apareciam no Google eram de uma época passada e distante. Além disso, o casal acreditava que ele “era um bom homem, que contribuiu para desmascarar a corrupção”, justifica María.
A justiça espanhola não pode fazer nada, mas a Guarda Civil garantiu que não esta não é a primeira vez que Turover prolonga uma estadia em casa de outras pessoas.