Os chefes da diplomacia europeus discutiram em Brest, França, com dirigentes da União Africana a cimeira UE-África agendada para fevereiro em Bruxelas, concordando que esta deve focar-se na segurança, disse a secretária de Estado dos Assuntos Europeus.

Ana Paula Zacarias representou esta sexta-feira Portugal na segunda sessão de trabalhos da reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros, em Brest – em substituição de Augusto Santos Silva, que rumou a Roma para as cerimónias fúnebres do presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli -, que teve entre os pontos em agenda uma discussão sobre a próxima cimeira UE-África.

Para essa discussão, a atual presidência francesa do Conselho da União Europeia (UE) convidou o presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, e a ministra dos Negócios Estrangeiros do Senegal — país que assume a presidência rotativa da UA -, Aissata Tall Sal, algo que a secretária de Estado considerou particularmente útil.

Estas reuniões informais de ministros são extremamente interessantes e importantes, porque os ministros podem falar mais à vontade e, aqui em relação a África, era muito importante que houvesse este relacionamento já com os africanos. Foi isso que o ministro [dos Negócios Estrangeiros de França, Jean-Yves] Le Drian conseguiu fazer, trazendo aqui a Brest a ministra dos Negócios Estrangeiros do Senegal e o presidente da [Comissão] da União Africana, para em conjunto discutirem já connosco que perspetivas para a cimeira”, apontou Zacarias, em declarações à Lusa e RTP.

A secretária de Estado sublinhou então que, das conversas mantidas, resultou que “há uma grande importância das questões de segurança, das questões relativas à paz e relativas à governação”, pois, “sem a verdadeira análise da situação de segurança em África, da luta contra o terrorismo, dificilmente se alcançará a prosperidade partilhada que todos queremos”.

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A ideia de que os problemas de África estão longe não é verdadeira. Os problemas de África são também os nossos problemas e as nossas questões. Esta parceria vai marcar um momento fundamental das relações entre a UE e a África para o futuro. É isso que se quer a todos estes níveis de segurança, de prosperidade e de mobilidade. Foram estas as três grandes palavras que foram usadas quer pelo lado africano, quer pelo lado europeu. Esta é uma cimeira com África, e não uma cimeira para África”, disse.

A secretária de Estado referiu-se em concreto a “toda a zona do Sahel, toda a zona do golfo da Guiné”, que “é preocupante”, e revelou que “o presidente da UA sublinhou aqui esse ponto: a segurança e a luta contra o terrorismo tem de ser um dos pontos fundamentais que esta cimeira tem que trazer”.

“Não vai ser fácil, mas ele também sublinhou que se nós deixarmos as coisas acontecer como aconteceram na Líbia, e as coisas se forem arrastando durante muitos anos, a situação poderá ser muito difícil em todo o continente africano, porque estes problemas de segurança podem-se ir alastrando de um país a outro e isso impede toda a prosperidade que se quer criar e toda a capacidade de relacionamento entre os próprios países africanos”, declarou.

Ana Paula Zacarias considerou que tudo está assim bem encaminhado para o sucesso da VI cimeira UE-África, originalmente marcada para 2020, mas sucessivamente adiada devido à pandemia de Covid-19, que impediu designadamente que ocorresse durante a presidência portuguesa do Conselho da UE no primeiro semestre de 2021, e que deverá agora realizar-se presencialmente em 17 e 18 de fevereiro próximo em Bruxelas.

Esperemos que sim, que a Covid não venha trazer aqui perturbações e que a cimeira possa realizar-se efetivamente com caráter presencial, com todos os líderes. É importante que assim seja, para renovarmos esta parceria com África escutando as perspetivas que os africanos têm para o seu próprio desenvolvimento e que são tão importantes para todos nós e para o próprio continente europeu”, concluiu.