Todos queriam virar a página de 2021 e olhar apenas para 2022. Max Verstappen, Lewis Hamilton, a Red Bull, a Mercedes. No entanto, o fim de semana inaugural do Mundial de Fórmula 1 de 2022 começou com uma última decisão em relação a 2021 e que em resumo confirmava tudo aquilo que tinha ficado decidido nos dias seguintes à última corrida em Abu Dhabi: o Conselho Mundial da Federação Internacional do Automóvel (FIA) considerou que houve um erro humano na avaliação do então diretor de corridas Michael Masi (entretanto saiu) mas que agiu sempre de boa fé apesar da grande pressão a que foi sujeito por parte das equipas e, como tal, todos os resultados são “válidos, finais e não podem mais ser alterados”.

Último capítulo de uma longa novela que há muito tinha o seu final definido, início de uma nova história com um mediatismo como há muito não se via na modalidade, as marcas que ficaram de 2021 como se viu na habitual entrevista após a qualificação conduzida por David Coulthard com Max Verstappen.

– Imagino que estejas desapontado com a falta de ritmo da Mercedes…
– Sim, sim, estou muito desapontado…

O neerlandês ironizou no sábado com aquilo que não acreditava na sexta-feira: que a Mercedes estivesse tão mal como Lewis Hamilton e o próprio George Russell tinham comentado. Confirmou-se. E até deu para perceber mais do que isso: o problemas não era apenas da equipa mas sim da unidade motriz que tinha sido desenvolvida pela marca como se viu também nos resultados da McLaren, da Aston Martin ou da Williams. Em contrapartida, a Ferrari criara “ouro”. E a equipa aproveitou da melhor forma isso.

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Depois de três treinos livres onde o neerlandês foi dando sinais de alguma vantagem, foi a Ferrari que mais se destacou na qualificação e sobretudo na Q3, colocando Charles Leclerc como o mais rápido e Carlos Sainz em terceiro com Verstappen a evitar o 1-2 da escuderia italiana. Mas a história não ficou por aí, no lançamento para a primeira corrida do ano: se Lewis Hamilton ficou com o quinto lugar tendo ainda Sergio Pérez à sua frente e com uma assinalável desvantagem para os rivais diretos, George Russell não foi além do nono posto sendo superado pelas surpresas Valtteri Bottas (Alfa Romeo), Kevin Magnussen (Haas) e Fernando Alonso (Alpine). Se a vitória era um cenário em aberto para Ferrari e Red Bull mediante a resposta dada em corrida, existia espaço para mais surpresas entre os oito primeiros na classificação.

A Ferrari apostava forte no arranque e foi por isso que teve uma escolha de pneus diferente entre Leclerc e Sainz. Primeiro objetivo conseguido: Verstappen forçou mas o monegasco segurou o primeiro lugar, com as alterações no top 10 a surgirem um pouco mais atrás: Pérez desceu de quarto para sexto ultrapassado por Hamilton e à boleia do britânico Magnussen, Alonso foi passado por Russell e Gasly e Bottas desceu de sexto para 14.º enquanto no final da primeira volta Daniel Ricciardo era o último, confirmando o mau fim de semana da McLaren que tinha ainda Lando Norris numa anormal 17.ª posição.

Aproveitando um erro de Magnussen, Pérez subiu à quinta posição, Russell conseguiu também ultrapassar o dinamarquês da Haas e à décima volta voltou a vir ao de cima todos os problemas que Mercedes continua a sofrer neste início, com Hamilton superado por Pérez sem hipóteses de defesa. E até as novas regras de temperatura de pneus tiveram o seu reflexo no britânico, que foi o primeiro a parar nas boxes à 12.ª volta para calçar duros e teve uma saída conturbada em que não conseguiu segurar o carro nas duas curvas iniciais que fez. Mesmo sendo sete vezes campeão, mesmo partindo como vice-campeão de 2021, não é ali que se concentram os holofotes. E os dois da frente justificaram por completo todas as atenções.

Na volta 17, Verstappen conseguiu aproveitar o DRS para ultrapassar Leclerc em reta, Leclerc respondeu duas curvas depois e saltou para primeiro. Na volta 18, Verstappen viu uma pequena hesitação de Leclerc e ultrapassou na curva 1, Leclerc respondeu duas curvas depois. Na volta 19, Verstappen voltou a arriscar tudo após a reta da meta mas queimou a travagem e foi logo dobrado por Leclerc. A corrida estava ao rubro com a Ferrari a mostrar argumentos para jogar de igual com a Red Bull como há muito não se via e Leclerc a fazer relembrar os duelos com Verstappen nos karts, como um que ainda hoje é falado em 2012 na WSK Euro Series em que ambos andaram “picados” com lutas “a queimar” com análises diferentes.

– Isto é injusto! Eu estou à frente, ele tenta passar, empurrou-me, eu empurrei-o e depois ele empurrou-me outra vez outra vez para fora da pista. Não é justo!, queixou-se o neerlandês

– O que se passou? Nada, foi só um incidente na carrida, respondeu o monegasco

Talvez por tudo o que se passou em 2021, ambos tiveram especial cuidado em todos os momentos numa luta sempre dentro dos limites e sem toques no Bahrain mas começava-se a desenhar aquela que poderá ser a grande luta de 2022 a não ser que a Mercedes tenha um qualquer truque que torne o carro de Hamilton mais competitivo do que está. E Verstappen não gostou nada de ouvir a equipa pedir para que não forçasse os pneus na volta a seguir a nova passagem pelas boxes, dizendo pela rádio que cumpriu mas que nem por isso conseguiu aproximar-se de Leclerc, a menos de dois segundos que depois passaram a quatro.

A ida às boxes de Max Verstappen a 12 voltas do final também não foi uma decisão que neerlandês acatasse de ânimo leve, perguntando o que se estava a passar de mal com o carro para ter de parar, mas um pequeno incêndio no AlphaTauri de Pierre Gasly logo de seguida mudou aquele que seria o final de corrida esperado, levando à entrada do safety car físico enquanto o carro era retirado. No reatamento, a luta foi sobretudo entre Verstappen e Sainz, com o neerlandês a segurar a segunda posição antes de sentir problemas no carro que a própria equipa não conseguia explicar e a ter de ir mesmo às boxes antes de abandonar de forma oficial a corrida com Sainz a subir a segundo e Hamilton a lutar com Pérez pela terceira posição e o carro a bloquear as rodas do Red Bull em modo de segurança na última volta deixando o britânico no título. Foi um verdadeiro golpe de teatro que mudou tudo e deixou Magnussen, com um Haas, em quinto.