A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apontou nesta segunda-feira “progressos” e “esclarecimentos” após uma reunião com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, sobre “segurança energética”, numa altura em que Budapeste bloqueia o embargo ao petróleo russo.
O encontro entre os dois líderes, que ocorreu durante um jantar de trabalho num mosteiro carmelita em Budapeste, “ajudou a esclarecer alguns pontos sobre as sanções a segurança energética” da Hungria, disse no Twitter Ursula von der Leyen.
This evening’s discussion with PM Viktor Orban was helpful to clarify issues related to sanctions and energy security.
We made progress, but further work is needed. I will convene a VC with regional players to strengthen regional cooperation on oil infrastructure.
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) May 9, 2022
“Fizemos progressos, mas vai ser necessário mais trabalho”, acrescentou, anunciando a próxima realização de uma videoconferência “com outros “atores da região” para “reforçar a cooperação regional nas infraestruturas petrolíferas”.
Sendo um país dependente dos hidrocarbonetos russos, a Hungria está a pedir aos seus parceiros europeus garantias sobre o seu fornecimento de energia para concordar com um sexto pacote sanções contra Moscovo, incluindo a suspensão das compras de petróleo da Rússia.
“A Hungria não vai dar o seu consentimento à proposta de sanções da Comissão contra a Rússia, porque é um problema para ela e não oferece uma solução“, declarou o chefe de diplomacia húngara, Peter Szijjarto, citado pelo porta-voz do Governo, Zoltan Kovacs.
A proposta da Comissão teria o efeito de “uma bomba atómica para a economia da Hungria e destruir o nosso fornecimento energético estável”, explicou.
No entanto, é necessária a unanimidade dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) para a adoção de novas sanções.
Há “necessidade de garantir fontes alternativas de fornecimento aos países sem litoral dependentes do petróleo russo através de oleoduto”. E não é fácil”, sublinhou no domingo um diplomata europeu questionado pela agência de notícias AFP no final de um encontro entre os representantes dos 27 em Bruxelas.
“São novas infraestruturas e mudanças tecnológicas que exigem não só financiamento europeu, mas também acordos entre vários Estados-membros. Estamos a fazer progressos, mas isso mecanicamente demora um pouco”, acrescentou.
A proposta apresentada na passada quarta-feira por Bruxelas aos 27 Estados-membros prevê a cessação das importações de petróleo bruto russo no prazo de seis meses e de produtos refinados, em particular o gasóleo, até ao final de 2022.
“No último pacote de sanções, começámos com o carvão, agora estamos a abordar a nossa dependência do petróleo russo. Sejamos claros, não vai ser fácil [pois] alguns Estados-membros são fortemente dependentes do petróleo russo, mas temos simplesmente de trabalhar nesse sentido e propomos agora uma proibição do petróleo russo”, declarou na altura Ursula von der Leyen.
Em causa está um sexto e novo pacote de sanções contra Moscovo devido à invasão da Ucrânia, no final de fevereiro passado, após a Comissão Europeia ter abrangido, no anterior conjunto de medidas restritivas, a proibição da importação de carvão.
Agora está em causa “uma proibição total de importação de todo o petróleo russo, marítimo e oleoduto, bruto e refinado”, elencou Ursula von der Leyen, falando numa eliminação gradual a realizar “de forma ordenada, de modo a permitir […] assegurar rotas de abastecimento alternativas e minimizar o impacto nos mercados globais”.
Ainda assim, este sexto pacote de sanções à Rússia, centrado na proibição gradual das importações de petróleo pelos Estados-membros até final do corrente ano, prevê uma derrogação de um ano suplementar para Hungria e Eslováquia.
No entanto, ainda nesse dia, a Hungria disse rejeitar a proposta de um embargo progressivo da UE ao petróleo russo nos termos propostos pela Comissão Europeia, alegando que põe em causa a segurança energética do país.
A guerra na Ucrânia expôs a excessiva dependência energética da UE face à Rússia, que é responsável por cerca de 45% das importações de gás europeias. A Rússia também fornece 25% do petróleo e 45% do carvão importado pela UE.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.