Quando foi anunciado que Isabel II iria falhar a abertura do parlamento britânico (apenas) pela terceira vez em todo o seu reinado, os corações de quem acompanha a vida da realeza palpitaram a um ritmo mais acelerado. A rainha, fiel cumpridora das obrigações de soberana, havia sido aconselhada pelos médicos a não se deslocar a Westminster. A esta altura do campeonato, em plena contagem decrescente para uma intensa festa de quatro dias que celebrará 70 anos de reinado no início de junho, o mundo está de olhos postos em Isabel II que, aos 96 anos de idade tem dado sinais de uma saúde mais frágil. Mas, tal como ao longo destas sete décadas deu a entender a quem a observava, está tudo sob controlo. E assim, os seus súbditos e os fãs que a seguem para lá das fronteiras do seu reino, foram brindados (até agora) com três aparições de uma monarca que aparenta estar radiante de satisfação.
Esta terça-feira, a rainha viajou até ao centro de Londres para inaugurar uma linha ferroviária com o seu nome na estação de Paddington. A Elizabeth Line abre ao público na próxima semana, mas a soberana teve o privilégio de ser a primeira pessoa a comprar um bilhete com um cartão Oyster, além de revelar a placa que assinala a inauguração. Isabel II esteve acompanhada pelo filho mais novo, o príncipe Eduardo e, embora apenas tenha estado no evento durante 10 minutos, foi mais do que suficiente para impressionar os curiosos que tiveram oportunidade de ver a sua monarca e para mostrar ao público, mais uma vez, a sua vitalidade e boa disposição. Neste evento também estiveram presentes o Primeiro Ministro Boris Johnson e o Presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan.
Perguntámos a Susana Marques Pinto, stylist e professora de styling na sua escola Pulp Fashion, depois destas três aparições da rainha, como é que se pode manter aos 96 anos de idade um estilo com vitalidade e ficamos a saber que, não só observou a presença da rainha pessoalmente, como confessa ser a personalidade mais impactante com quem já se cruzou. O pai trabalhou na embaixada portuguesa em Londres entre 1970 e 1974 e, como tal, era convidado para o baile anual de apresentação de corpos diplomáticos à rainha. Como a mãe já tinha ido ao evento no ano anterior, disse-lhe “Susana vai, é uma oportunidade única na vida” e, assim, “com 17 ou 18 anos fui a Buckingham Palace ser apresentada à corte inglesa enquanto filha do meu pai”. Conta que terá sido uma das cenas mais memoráveis da sua vida: “Abrem-se as portas e a rainha entra na sala, seguida de todo um cortejo de cabeças coroadas, as senhoras passam à nossa frente e, aos olhos de uma miúda de 17 anos, é uma coisa que nunca mais se esquece”.
Voltamos à pergunta sobre como manter aos 96 anos de idade um estilo com vitalidade. “Primeiro nasce-se num país chamado Inglaterra que, além de ser uma monarquia antiga, tem, sem dúvida, o povo mais irreverente, mais rebelde, sofisticado e clássico em simultâneo. E, realmente, a rainha veste-se com esta idade como a maior parte das pessoas nunca se vestiriam, com estas cores extraordinárias que ninguém ousa em circunstância nenhuma, muito menos na idade dela”. Vale a pena lembrar que estamos a falar de uma pessoa que continua a usar tons néon depois dos 90 anos.
Bethan , editora de moda no jornal Telegraph, explica que a rainha teve criar uma nova identidade visual, “da mesma forma que Isabel I tinha os seus poderosos rufos e a rainha Vitória os seus opulentos vestidos e joias. Para Isabel II, a resposta tem sido a cor.” Assina um livro publicado recentemente e dedicado, precisamente, ao estilo da rainha ao longo de todo o seu reinado, “The Queen: 70 years of Majestic Style” (editora Ryland Peters & Small) e escreve na introdução que “o estilo de Isabel II tem sido uma extensão de tudo que representa enquanto rainha”. Agora, já na casa dos noventa anos, é tão respeitada pelo seu estilo, como foi adorada pela sua beleza na juventude.
Nos seus gloriosos noventas, e depois de uma vida inteira a equilibrar o protocolo com a moda e os gostos pessoais, não será agora que Isabel II irá surpreender com as suas escolhas de indumentária. Contudo, passou um fim de semana de eventos equestres a optar por tons azuis mais discretos e quase deixou saudades do seu guarda-roupa arco-íris.
Na passada sexta-feira, a rainha reapareceu em público depois de várias semanas sem ser vista pelos seus súbditos. Foi, sem dúvida, a convidada estrela do Royal Windsor Horse Show, mas Isabel II optou por um look casual composto por um casaco de malha azul escuro e uma saia de pregas cinzenta. Durante parte da sua permanência no evento, usou também a cabeça coberta por um lenço com laço sob o queixo, um estilo a que nos habituou desde cedo e um look em que aposta especialmente quando está de férias. No domingo à noite, para assistir ao espetáculo “A Gallop Through History”, a rainha protegeu-se do frio com uma capa cinzenta sobre os ombros com brilhantes aplicados a toda a volta. Por baixo avistava-se um vestido azul claro que, apesar de já ser num tecido com brilho, estava também bordado e exibia aplicação de brilhantes.
Já a 28 de abril tinha recebido o presidente e a primeira dama da Suíça, Ignazio e Paola Cassis, no castelo de Windsor com um vestido em tons de azul e amarelo. Poder-se-ia pensar que Isabel II estaria a definir um novo estilo ou até a enviar uma mensagem. Mas a ordem no universo que gira em torno do guarda-roupa da rainha ficou reposta esta terça-feira, 17 de maio, com o regresso ao estilo assinatura de cores vibrantes através de um casaco e um chapéu amarelos.
Nestes últimos eventos a rainha não dispensou os seus acessórios mais clássicos. Primeiro as suas carteiras Launer, a única marca que usa. Terá, pelo menos, 200 exemplares e os seus modelos preferidos são o Royale e o Traviata. As pegas são maiores para facilitar todos os cumprimentos que a rainha tem de fazer. Na verdade, esta assinatura de estilo é uma herança de família. A primeira pessoa a usar uma carteira desta marca na casa Windsor foi a rainha mãe na década de 1950 e, depois de oferecer uma à filha mais velha, esta tornou-se fã da marca, conta a Town & Country. A marca era também a preferida da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. E, dúvidas houvesse da precisão da série The Crown (Netflix), na 4ª temporada as carteiras assumem o seu papel nos braços das respetivas personagens.
De óculos escuros, baton e muito sorridente: mais de um mês depois, Isabel II reaparece em público
Quanto ao calçado, a rainha é fiel há muito tempo (há pelo menos cinco décadas) à marca de sapatos Anello & Davide. Os sapatos em pele feitos especialmente para Isabel II, têm em média um pouco mais de cinco centímetros de salto e contam com uma palmilha especial para mais conforto. Já passaram por várias cores, mas desde há muitos anos que o preto é a escolha de eleição da monarca. Cada par é feito à mão para a rainha, mas, como acontece em geral, o calçado novo pode causar algum desconforto nas primeiras vezes que é usado e, como a rainha não pode estar num importante evento com aquela incómoda sensação, os seus sapatos novos são primeiro usados por uma ajudante. E essa pessoa é Angela Kelly, a responsável pelo guarda-roupa da rainha. É ela própria que o conta no seu livro “The Other Side Of The Coin: The Queen, The Dresser And The Wardrobe”. Escreve que “como tem sido muito referido na imprensa, uma ajudante usa os sapatos de Sua Majestade para garantir que são confortáveis e que ela os pode usar em qualquer altura. E sim, eu sou essa ajudante”. Acrescenta ainda que: “A rainha tem pouco tempo para si e para fazer este tipo de testes. Como calço o mesmo número que ela, faz todo o sentido que assim seja”.
A bengala está a tornar-se um dos acessórios indispensáveis de Isabel II, desde outubro de 2021. Nestes últimos eventos em que vimos a monarca, esteve sempre com esse apoio, embora ao seu estilo: com uma bengala diferente para cada look.
Diriam muitos especialistas que não há produto de beleza que mais vitalidade dê à monarca do que o radioso sorriso que tem mostrado. Mas é impossível não reparar nos batons cor de rosa e até nas maçãs do rosto rosadas com que Sua Majestade se tem apresentado. Segundo a diretora de beleza do jornal britânico Telegraph, Sonia Haria, “o seu tom de assinatura é o batom Boots’ 9,95 libras Nº7 Stay Perfect no tom Gay Geranium, um tom coral vigoroso bestseller com um acabamento semi-mate”. Também se crê que a rainha use batons Clarins e Elizabeth Arden. A editora explica ainda que “a forma como usa o blush também é inteligente”, porque “a rainha aplica a cor num ponto alto das bochechas, o que, instantaneamente, levanta todo o rosto”. Haria lembra ainda que dosear a exposição ao sol, um dos principais fatores de envelhecimento, é outro dos preciosos aliados, cuidado que a rainha manterá — não por acaso, David Bailey, que fotografou a monarca em 2014, chegou a gabar-lhe a qualidade da pele.
Além do brilho natural, se há acessório obrigatório nos looks de Isabel II são as joias. Normalmente, a rainha não se apresenta em público sem brincos e uma das suas pregadeiras recheadas de história e que, muitas vezes, enviam mensagens. Foi o que aconteceu esta terça-feira. Complementou o seu look amarelo com uma pregadeira dourada e com os clássicos brincos e colar de pérolas. Contudo no passado domingo, no espetáculo do Royal Windsor Horse Show, Sua Majestade optou por descrição no que toca às joias. Usou uns brincos de pérolas muito simples e um colar que mal se viu nas fotografias. O brilho deste look estava todo na roupa que já foi descrita em cima.
As histórias do guarda-joias da rainha: os diamantes são eternos e as pedras vieram de todo o mundo
As grandes celebrações do Jubileu de Platina da rainha estão marcadas para o primeiro fim de semana de junho, entre 2 e 5 de junho, com feriados, paradas militares e muitas celebrações por todo o país.