No dia 27 de março, começaram a circular nas redes sociais vídeos através dos quais supostamente se denunciavam torturas feitas por soldados ucranianos a prisioneiros de guerra russos. Na passada sexta-feira, uma investigação do Le Monde confirmou que os perpetradores são soldados ucranianos pertencentes ao batalhão Slobozhanshchyna.
Num dos vídeos em causa, de acordo como jornal francês, é possível ver três prisioneiros de guerra russos de mãos amarradas e ajoelhados num local identificado como sendo a aldeia de Mala Rohan. Um outro vídeo, que terá sido gravado a 750 metros do primeiro, mostra os mesmos três soldados russos a serem alvejados na perna por um militar ucraniano.
O Le Monde explica ter recorrido à ajuda do analista independente Erich Auerbach para confirmar a autenticidade das imagens e determinar os seus intervenientes. Através do cruzamento de elementos da paisagem, o jornal conseguiu descobrir não só o local onde as imagens foram captadas, como também a data em que os vídeos foram gravados.
THREAD: I have geolocated footage that shows Ukrainian soldiers of the Slobozhanshchina battalion capturing and mistreating Russian POWs in Malaya Rohan (49.936010, 36.485807), including at least one prisoner who was later kneecapped 750 meters to the east. pic.twitter.com/taXdDIdlqf
— erich_auerbach (@zcjbrooker) May 5, 2022
Nas filmagens, o céu encontra-se limpo e não há indícios de neve – elementos meteorológicos que permitem concluir que o vídeo foi gravado no dia 25 de março e divulgado nas redes sociais dois dias depois.
A investigação permitiu ainda concluir que os soldados pertenciam ao batalhão Slobozhanshchyna – a identificação foi feita através da análise das várias insígnias dos uniformes. O Le Monde explica igualmente que, embora não seja possível garantir a 100% que o homem que dispara pertence a este grupo, o líder do mesmo, Andri Ianholenko, aparece ao lado das vítimas antes dos tiros serem disparados.
Ianholenko criou o batalhão para lutar, em 2014, no Donbas. Meses mais tarde, foi detido por planear assassinar vários oficiais ucranianos e o batalhão foi desmantelado.
A 24 de fevereiro deste ano, contudo, Andri Ianholenko anunciou o reagrupar do seu batalhão, e, a 27 de março, comunicou a morte do seu irmão, tendo jurado vingança para com as tropas russas. Curiosamente, a mesma data em que os vídeos que indicam terem sido violadas as leis da Convenção de Genebra sobre o tratamento dado aos prisioneiros de guerra foram colocados a circular.