O primeiro-ministro, António Costa, saudou terça-feira o acordo alcançado no Conselho Europeu, em Bruxelas, em torno do sexto pacote de sanções à Rússia, afirmando que a mensagem que é dada a Moscovo é que “o petróleo russo tem os dias contados na UE”.

No final de uma cimeira extraordinária de dois dias que foi marcada pelas difíceis negociações em torno do embargo às importações de petróleo russo, elemento central do sexto pacote de sanções à Rússia pela sua agressão militar à Ucrânia, apresentado há praticamente um mês pela Comissão Europeia, António Costa comentou que, “ao contrário do que muitos previam, foi possível encontrar um consenso” e congratulou-se por a União Europeia ter conseguido, “uma vez mais, demonstrar a sua unidade”.

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“O essencial é que conseguimos aprovar por unanimidade um pacote de sanções que abrange o embargo da totalidade do petróleo exportado pela Rússia, sendo que há um diferimento do prazo relativamente àqueles aqueles países que são abastecidos por via dos oleodutos, de forma a dar-lhes mais tempo de encontrarem soluções alternativas para poderem continuar a satisfazer as suas necessidades energéticas sem recorrer ao petróleo russo. Mas de qualquer forma, a mensagem que é dada à Rússia é que o petróleo russo tem os dias contados na UE”, sublinhou.

A presidente da Comissão Europeia defendeu que já são visíveis os efeitos das sanções à Rússia no que toca à energia. “Desde o início do ano começámos a procurar outros fornecedores mais fiáveis e isto está a ter uma resposta: os fornecimentos de energia de outras partes do mundo que não a Rússia duplicaram em 2022 no primeiro trimestre, por comparação com período homólogo”, disse Ursula von der Leyen em conferência de imprensa.

Von der Leyen lembrou que a Rússia cortou o fornecimento de gás à Finlândia, Bulgária, Polónia e a empresas dos Países Baixos e da Dinamarca. “A nossa resposta tem de ser muito clara: como é que vamos gerir tudo isto e qual o roteiro para nos conseguimos libertar da dependência?”. A resposta, disse, está na diversificação das fontes de energia e nas compras conjuntas de gás.

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O primeiro-ministro português indicou também que a cimeira esteve focada na “necessidade de acelerar fontes e rotas de abastecimento à UE e acelerar a transição para as energias renováveis”, para mitigar os efeitos do “brutal aumento de preços da energia”. “Desta vez há uma referência expressa quanto ao potencial que a Península Ibérica tem para contribuir para a segurança energética da União Europeia e a necessidade de concluir o programa de interconexões entre Portugal, Espanha e resto da Europa.” E destacou o reconhecimento pelos líderes da União Europeia do “potencial da Península Ibérica para a segurança energética”, em altura de crise, defendendo avanços nas interconexões elétricas e de gás entre Portugal e Espanha.

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António Costa destacou outros resultados do conselho europeu: o esforço comunitário no apoio aos refugiados; a decisão de conceder um apoio macroeconómico de 9 mil milhões de euros ao longo deste ano à Ucrânia; a suspensão dos direitos aduaneiros sobre todos os produtos com origem no país, para facilitar as exportações; e a criação de uma plataforma conjunta para a reconstrução da Ucrânia.

E alertou ainda alusão para o que que considera “uma das consequências mais graves desta guerra”: “a segurança alimentar a nível mundial”. “O Conselho manifestou todo o apoio aos esforços que as Nações Unidas têm vindo a desenvolver para reabrir os portos e encontrar rotas de escoamento”, anunciou.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, avançou que a UE está a estudar os corredores alternativos pelos quais podem ser escoados os cereais da Ucrânia. “Apoiamos todos os esforços das Nações Unidas para abrir um corredor marítimo para o mar Negro, seria uma possibilidade para exportação de cereais, mas não sabemos se vai funcionar”, disse, acrescentando que espera que os Estados-membros cheguem a acordo neste tema. “Estamos a trabalhar nesses corredores para facilitar rotas alternativas”, indicou, embora reconheça que tal será mais “dispendioso e complicado por motivos logísticos”.

Segundo Ursula Von der Leyen, há 20 milhões de toneladas de trigo retidas na Ucrânia que “têm de sair”. A UE, assegura, está a trabalhar para que o trigo possa ser escoado para a Europa. A presidente da Comissão Europeia diz que se espera uma “exportação recorde de cereais em 2022 e 2023 de 40 milhões de toneladas de cereais”. E, por isso, pede que os países não implementem restrições no comércio mundial. “Quaisquer obstáculos ou restrições ao comércio não devem acontece.