Detalhes de cartas divulgadas pelo descendente suíço de um dos médicos de Adolf Hitler revelam o medo do ditador nazi de sofrer uma doença grave na voz, noticiou este domingo o NZZ am Sonntag. “Se existir alguma coisa má, eu preciso sem dúvida de saber”, terá dito Hitler após a primeira consulta em maio de 1935.

O otorrino Carl Otto von Eicken foi quem tratou das cordas vocais do führer durante dez anos — esteve próximo deste líder como poucos e, tal como descreve o jornal alemão, “se tivesse cortado apenas alguns milímetros a mais com o seu bisturi e ferido fatalmente o seu paciente (…) poderia ter evitado um sofrimento imensurável e salvo milhões de pessoas da morte” — numa referência ao Holocausto.

Hitler conhecia bem o poder da voz, que utilizava efusivamente nos seus discursos para obter o apoio do regime. Teve de ser submetido a uma cirurgia para remover um pólipo, mostram as cartas, contudo só aceitou ser operado depois de falar à nação, já que Otto von Eicken o aconselhou a descansar a voz após o procedimento médico. O ditador terá mesmo afirmado: “O doutor só se pode aproximar de mim depois do discurso“.

O especialista em voz, garganta e ouvidos, nos documentos agora públicos, nunca questionou estar a tratar um homem cujas ordens provocaram um dos maiores genocídios da História.

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Aquando do fim da Segunda Guerra Mundial, Otto von Eicken negou ser antissemita e, quando questionado por um agente dos serviços secretos russos porque é que não matou Hitler, mesmo tendo a oportunidade de fazê-lo, terá respondido: “Eu era médico, não assassino”.

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As cartas do médico para a prima Marie Steneberg foram descobertas por Robert Doepgen, trineto de Otto von Eicken, que as encontrou nos arquivos familiares, na sequência de um projeto académico. Otto von Eicken morreu em 1960.

Robert Doepgen descreveu ao NZZ am Sonntag: “[Otto von Eicken] Era politicamente ingénuo, mas enquanto médico tinha orgulho em cuidar de Hitler“. Doepgen interrogava-se sobre o que teria acontecido se o seu antepassado, em vez de retirar o pólipo, tivesse cortado o esófago do ditador nazi. A conclusão? “Eu também não estaria aqui. Eles [autoridades nazis] teriam exterminado a minha família toda“.

O historiador britânico Richard Evans, especialista em História alemã, comprovou a autenticidade destas cartas, de acordo com a Reuters.