Angola, com 24 episódios de cheias no período 2010-2022, foi o país africano que mais sofreu os efeitos desse tipo desastres naturais, de acordo com o mais recente relatório da Fundação Mo Ibrahim.
No documento, “O Caminho para a COP27 — O exemplo de África no debate climático”, divulgado na terça-feira, refere-se que entre os 10 países africanos com mais registos de cheias, no período 2010-2022, figura outro país lusófono, Moçambique, com 16 episódios.
Os 10 países africanos com mais registos de cheias são Angola (24), Quénia (22), Nigéria (21), Tanzânia (21), República Democrática do Congo (20), Níger (19), Uganda (19), Moçambique (16), Somália (16) e África do Sul (16).
No que diz respeito a episódios de seca no mesmo período, Quénia, com seis registos, lidera a lista, seguindo-se-lhe Somália (também com seis), Mauritânia (cinco), Etiópia, Lesoto, Madagáscar, Níger, África do Sul e Zimbabué (todos com quatro) e Angola (três).
O relatório salienta que o impacto dos desastres naturais em África é desigual.
A África do Sul é o único país africano afetado por cinco dos seis tipos de eventos climáticos extremos analisados (secas, cheias, eventos de deslizamento de terra, temperaturas extremas, tempestades e incêndios florestais).
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Cinco países africanos — Angola, Quénia, Níger, Somália, África do Sul — que têm 13,9% da população do continente, sofreram secas e cheias em 2010-2022.
O Quénia é o país mais afetado por secas ao lado da Somália (seis), bem como o segundo mais afetado por cheias (22) e Angola é, como destaca o relatório, o país mais afetado pelas cheias (24).
A Fundação Mo Ibrahim destaca que as alterações climáticas agravam a crise de deslocações internas em África, que considera terem aumentado constantemente desde 2016.
“Em 2020, 4,3 milhões de pessoas foram recentemente deslocadas por eventos de desastres naturais, representando quase 40% de todos os novos deslocamentos internos naquele ano”, salienta.
“Em nove países africanos — República Democrática do Congo, Etiópia, Quénia, Moçambique, Níger, Nigéria, Somália, Sudão do Sul e Sudão — pelo menos um milhão de pessoas foram deslocadas internamente por desastres naturais desde 2010”, acrescenta.
O documento sublinha ainda que os 10 países mais vulneráveis à escala global são africanos, com 20,1% do total da população do continente, e entre estes figura a Guiné-Bissau.
Os 10 países em causa são: Níger, Somália, Guiné-Bissau, Chade, Sudão, Libéria, Mali, República Democrática do Congo, Eritreia e Uganda.
No capítulo intitulado “Evitar a maldição dos recursos“, o relatório chama a atenção para o facto de, em vários casos, “a riqueza dos recursos naturais teve um impacto adverso na industrialização e no desenvolvimento”.
“Muitos países ricos em petróleo, gás e minerais não conseguiram atingir todo o seu potencial por causa da chamada “maldição dos recursos”, com Angola, República Democrática do Congo e Nigéria a serem frequentemente citados como exemplos”, alerta.
Segundo a Fundação Mo Ibrahim, “há uma tendência dos países dependentes de recursos se tornarem mais autoritários, mais propensos a conflitos e menos estáveis economicamente do que países similares sem recursos”.