André Ventura acredita que Marcelo Rebelo de Sousa foi “sensível” aos argumentos apresentados pelo Chega sobre os conflitos com Augusto Santos Silva na Assembleia da República, e acredita que, ainda que “de forma discreta”, o Presidente da República “tudo fará” para “chamar à atenção de que a escalada de conflito não interessa a ninguém”.

Porém, depois de ouvir os argumentos do Chega, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, em declarações aos jornalistas, que não vai abrir “uma exceção”: “A minha posição é sempre a mesma: não me pronuncio sobre problemas internos da Assembleia da República.” O chefe de Estado lembra ainda que, na passada legislatura, vários partidos quiseram que se pronunciasse sobre diversos temas e nunca se pronunciou.

Ainda antes das poucas palavras do Presidente da República e logo após a audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, que aconteceu a pedido do Chega, André Ventura sublinhou que só o chefe de Estado “pode ter autoridade política de chamar à atenção do presidente da Assembleia da República” e os dirigentes do Chega ficaram com a sensação de que Marcelo foi “recetivo aos argumentos” apresentados.

“Só há uma autoridade política para chamar à atenção de Santos Silva para que este conflito não passe de conflito de dois ou três meses para um conflito permanente na Assembleia da República, com uma escalada de conflito verbal”, reiterou o presidente do partido, argumentando que não foi ouvido nenhum “constitucionalista que desse razão a Santos Silva”.

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Apesar de não querer falar por Marcelo Rebelo de Sousa e de assumir que pode ter de pedir desculpas caso o Presidente da República o contradiga, André Ventura reiterou a crença de que o Chefe de Estado falará com Augusto Santos Silva.

Ventura chegou mesmo a sugerir que o Chega não é “o único partido a queixar-se” de Santos Silva. “Mais importante do que Presidente da República vir dizer que presidente da Assembleia da República esteve mal, é que Marcelo Rebelo de Sousa fale com Augusto Santos Silva e lhe diga: ‘Isto não pode continuar’.”

O líder do Chega insistiu na ideia de que a atitude de reprimenda levada a cabo por Santos Silva — como aconteceu após uma intervenção sobre imigrantes e já depois de uma chamada de atenção devido a uma declaração sobre a etnia cigana — é “recorrente e intencional” e levou, aos olhos de Ventura, a um “atropelo do regimento” e a “atropelos à liberdade, à ação dos partidos e à democracia parlamentar”.

Depois da notícia do Observador que dava conta de uma ameaça física do líder parlamentar do Chega a um assessor do PS e de um ex-assessor do Chega a questionar um jornalista, André Ventura alerta para um “ambiente a agudizar-se” na Assembleia da República e atribui responsabilidades a Marcelo, dizendo que “cabe ao Presidente da República ter uma palavra”.

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“Disse ao Presidente da República que, ao não exercer nenhuma influência sobre o presidente da Assembleia da República, a possibilidade de um escalar de conflito físico, verbal e político é real. Ninguém quer ver no Parlamento situações como já vimos noutros países do mundo, com deputados desentendidos uns com os outros, quase à batatada no hemiciclo. O ambiente está muito tenso, cabe-lhe a ele garantir que o ambiente serena”, notou, em jeito de alerta, o presidente do Chega.

E disse mais: “Tudo acontece porque o ambiente dentro do hemiciclo, que era onde se deviam dispersar as energias políticas, é abafado e limitado por um presidente da Assembleia da República, porque se tivermos um ambiente onde o debate existe [no sítio] onde deve existir, sem estratégias manhosas, o ambiente é ali que se dá. Se não acontece, [o ambiente] passa para a rua e para os corredores do Parlamento.”

“Parece-nos que o Presidente da República foi sensível aos nossos argumentos e à situação de maioria absoluta e possível mordaça sobre a democracia que o país enfrenta e parece-nos que o Presidente da República, como mais alta figura do Estado, foi sensível aos argumentos de cerceamento constante da liberdade”, disse André Ventura, que se mostrou disponível para reunir com Augusto Santos Silva para “serenar o ambiente”.

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Abusos sexuais na Igreja são “um cancro que tem de ser extirpado”

Relativamente ao facto de D. Manuel Clemente ter ocultado um caso de abuso sexual ocorrido no distrito de Lisboa, uma notícia divulgada pelo Observador, André Ventura assegurou que “se fosse cardeal patriarca teria comunicado à justiça, mesmo contra a vontade da vítima”.

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“Como disse o Presidente da República, não vejo razão nenhuma, quer para José Policarpo, quer para D. Manuel Clemente, ocultarem da justiça o que quer que seja em matéria de abusos sexuais de crianças”, disse, frisando que este tema, “na Igreja, é um cancro que tem de ser extirpado”.

O líder do Chega disse ainda que “a Igreja tem de ter a força de denunciar para a justiça” e “não se pode fechar nela própria”.

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