André Ventura considera que Augusto Santos Silva devia ter “coragem” e “pedir a demissão”. As declarações do líder do Chega surgem na sequência da intervenção do presidente da Assembleia da República, que esta quarta-feira voltou a dizer que “não é tolerável que a Assembleia da República ou qualquer outra instituição da democracia portuguesa seja palco para discursos de ódio” — mais uma referência indireta a Ventura.

Em declarações ao Observador, o líder do Chega vai direto ao ponto. “Acho que em vez de estar contente com o comportamento que tem tido e em vez de ir levar isso como um reflexo dos valores de Abril, Santos Silva devia ter a coragem de se demitir no início desta sessão legislativa”, atira André Ventura.

Na perspetiva do líder do Chega, Santos Silva deve dar lugar a outros deputados para que possa existir alguma “tranquilidade democrática” até ao final desta legislatura. De resto, Ventura antecipa que se o atual presidente da Assembleia da República se mantiver no cargo, o Parlamento vai continuar “de conflito em conflito”. Para Ventura, a atitude de Augusto Santos Silva tem sido “prepotente, arrogante e conflituosa” e isso deveria fazer com que o próprio repensasse o seu lugar no Parlamento.

O líder do Chega reage assim às declarações desta quarta-feira de Augusto Santos Silva. No final de uma visita à exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril”, o presidente da Assembleia da República reafirmou que “não é tolerável que a Assembleia da República ou qualquer outra instituição da democracia portuguesa seja palco para discursos de ódio“. “Isso seria, aliás, a pior maneira que nós teríamos de falar ou de respeitar o 25 de Abril”, acrescentou o socialista.

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Permitir discurso de ódio na AR seria pior maneira de respeitar 25 de Abril, diz Santos Silva

Agora, em declarações ao Observador, Ventura não poupa críticas ao presidente da Assembleia da República. “Em vez de estar contente com o comportamento que tem tido, em vez de ir levar isso como um reflexo dos valores de Abril, acho que Augusto Santos Silva devia dar lugar a outros deputados da maioria, para ver se conseguimos ter alguma tranquilidade democrática. Nunca houve uma moção de censura ao presidente da Assembleia, mas só este ambiente e só este contexto devia ser motivo para perceber que não está no lugar certo”, diz o líder do Chega.

Recorde-se que o braço de ferro entre os dois já se prolonga há várias semanas. Depois de advertidos por Augusto Santos Silva, a propósito da questão da imigração, os deputados do Chega decidiram abandonar o hemiciclo em protesto e Ventura acabou a exigir a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa — que recebeu ambos em Belém.

À saída da audiência com o Presidente da República, o líder do Chega disse mesmo que, se nada fosse feito, poderia existir uma escalada de tensão. “A possibilidade de um escalar de conflito físico, verbal e político é real. Ninguém quer ver no Parlamento situações como já vimos noutros países do mundo, com deputados desentendidos uns com os outros, quase à batatada no hemiciclo”, ameaçou Ventura.

André Ventura sobre Santos Silva: “Escalar de conflito físico, verbal e político é uma possibilidade real”