O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou esta segunda-feira que o “risco nuclear atingiu o seu ponto mais alto em décadas” e apelou ao fim da corrida ao armamento nuclear “de uma vez por todas”.
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU subordinada ao tema “Manutenção da paz e segurança internacionais: promover a segurança comum através do diálogo e da cooperação”, Guterres avaliou que o sistema de segurança coletivo está atualmente a ser testado como nunca, tendo referido diretamente a situação na central nuclear ucraniana de Zaporijia, alvo de vários bombardeamentos.
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“Diferenças persistentes entre as grandes potências mundiais — inclusive dentro deste Conselho — continuam a limitar a nossa capacidade de responder coletivamente. A ajuda humanitária está a ser levada ao limite. Os Direitos Humanos e o Estado de direito estão sob ataque. A confiança está em falta“, disse o secretário-geral.
Muitos dos sistemas estabelecidos há décadas agora enfrentam desafios que eram inimagináveis para os nossos predecessores — guerra cibernética, terrorismo e armas autónomas letais. E o risco nuclear atingiu o seu ponto mais alto em décadas. As ferramentas que nos têm impedido de uma guerra mundial catastrófica são mais importantes do que nunca”, frisou.
Durante a sua intervenção, o ex-primeiro-ministro português referiu a viagem que fez na semana passada à Ucrânia, Turquia e Moldova, durante a qual acompanhou os desenvolvimentos do acordo recentemente alcançado para desbloquear a exportação de cereais ucranianos, um compromisso impulsionado pela própria ONU e pela Turquia e negociado em coordenação com a Rússia e a Ucrânia.
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Com base neste exemplo, o secretário-geral pediu que um acordo e um consenso semelhantes sejam aplicados também à situação crítica da central de Zaporijia (sul da Ucrânia), o maior complexo de energia nuclear da Europa.
António Guterres insistiu na necessidade de se restabelecer uma cooperação que garanta a segurança coletiva, incluindo o próprio trabalho das Nações Unidas.
Essa também é a força motriz por trás da minha proposta de uma Nova Agenda para a Paz, contida no meu relatório sobre A Nossa Agenda Comum. Através dela, estamos a explorar a caixa de ferramentas diplomáticas da Carta da ONU para acabar com conflitos — especialmente as disposições do Capítulo VI sobre negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem e solução judicial”, anunciou.
“Também estamos focados na prevenção e na construção da paz. Isso inclui fortalecer a nossa previsão de ameaças futuras — e antecipar pontos de inflamação e condições de longa data que podem explodir em violência“, prosseguiu.
Entre as iniciativas que Guterres pretende levar a cabo estão esforços para reunir os países em torno da necessidade de reduzir os riscos decorrentes da guerra cibernética e das armas autónomas letais e “acelerar os esforços para eliminar a ameaça nuclear de uma vez por todas”.
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A 10.ª Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares deve demonstrar que o progresso é possível, de acordo com o líder da ONU.
Ao apelar à flexibilidade nas negociações, Guterres pediu que países com armas nucleares se comprometam com o “não primeiro uso” dessas armas e que assegurem aos Estados que não possuem armas nucleares que não usarão — ou ameaçarão usar — esse tipo de armamento contra eles.
O barulho do sabre nuclear deve parar”, frisou.
“Precisamos que todos os Estados se comprometam com um mundo livre de armas nucleares e não poupem esforços para chegar à mesa de negociações para aliviar as tensões e acabar com a corrida ao armamento nuclear de uma vez por todas. O futuro da humanidade está hoje nas nossas mãos”, reforçou.
E concluiu: “Neste momento de perigo máximo para o nosso mundo, agora é a hora da comunidade internacional se comprometer novamente com a Carta da ONU e com os ideais que ela representa. Não há solução melhor para cumprir a promessa da Carta de salvar as gerações futuras do flagelo da guerra do que substituir a divisão pelo diálogo e pela diplomacia”.
Atualmente, a central nuclear de Zaporijia — agora sob o controlo das tropas russas — continua a funcionar e a produzir eletricidade para responder às necessidades do sistema elétrico ucraniano, mas representa uma das maiores preocupações da comunidade internacional no contexto da invasão russa da Ucrânia.
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As autoridades ucranianas acusaram hoje as forças russas de novos bombardeamentos perto das instalações de Zaporijia, horas depois dos últimos apelos internacionais para que o perímetro da principal central nuclear da Ucrânia não seja alvo de ataques.