Olaf Scholz, Justin Trudeau, Boris Johnson, Emmanuel Macron, Mario Draghi, Charles Michel, Ursula von der Leyen. A lista de líderes mundiais é vasta, mas a Ucrânia conseguiu reuni-los, esta terça-feira, por videoconferência na Plataforma da Crimeia. As hostes foram abertas pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que afirmou que “tudo começou com a Crimeia e tudo vai acabar com a Crimeia”, garantindo que a península vai voltar a ser controlada por forças afetas ao regime de Kiev.
O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, foi o primeiro líder mundial a discursar. Acompanhado pelo chanceler alemão, que está numa visita oficial ao Canadá, o chefe do executivo canadiano assegurou que continuará a apoiar “a restauração da independência, integridade territorial e soberania da Ucrânia”. “A Crimeia é uma parte da Ucrânia, não da Rússia. O povo ucraniano tem o direito de se defender, incluindo na Crimeia”, disse Justin Trudeau.
Desde Toronto, Olaf Scholz lamentou a “anexação ilegal da Crimeia” e garantiu que a “comunidade internacional nunca aceitará a anexação imperialista do território ucraniano” pela Rússia. Elogiando a coragem das forças ucranianas, o chanceler alemão assegurou que os aliados estão “mais unidos do que nunca” na defesa da Ucrânia. “Vamos continuar a fornecer armas”, afirmou Olaf Scholz.
Numa mesa redonda em que estavam sentados — entre outros — Volodymyr Zelensky, Dmytro Kubela (ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano) e Andrej Duda (Presidente polaco), Boris Johnson também discursou — e foi uma presença inesperada, já que não constava no plano oficial. O primeiro-ministro britânico advertiu que o Presidente russo, Vladimir Putin, pode invadir outro país europeu.
“Vladimir Putin foi contra os princípios internacionais” quando invadiu a Crimeia, disse Boris Johnson, denunciando as violação dos Direitos Humanos por parte do regime russo. A Crimeia transformou-se num “campo armado” e a “plataforma de lançamento” para a invasão total da Ucrânia, lamentou o primeiro-ministro britânico, que acrescentou que Vladimir Putin está preparar mais “anexações e referendos ilegais”. “Nunca reconheceremos a independência da Crimeia.”
O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos convidados para participar no evento, recordando que há oito anos “a Rússia anexou ilegalmente a Crimeia”, algo que não respeitou os princípios que regulam as relações internacionais. A anexação da penínsua teve “consequências humanitárias e energéticas”, enfatizou o chefe de Estado francês, que deixou uma mensagem ao Kremlin: “Gostava de apelar à Rússia para parar com a ação militar e tirar as forças do território ucraniano e usar todas as formas da diplomacia.”
“Permitam-me reafirmar o meu respeito pela luta do povo ucraniano”, afirmou Emmanuel Macron, que garantiu o apoio de França — nesta “luta pela justiça” — à Ucrânia para “amanhã, depois de amanhã e depois disso”.
Por Itália, o primeiro-ministro, Mario Draghi, fez promessa idênticas. Roma “vai continuar a apoiar a Ucrânia na luta para resistir à invasão russa”. O desencadear de uma guerra foi “inaceitável”, assim como a anexação da Crimeia pela Rússia. “A luta pela Crimeia é parte da luta para libertar a Ucrânia”, sublinhou, exortando a Rússia a “parar”.
A União Europeia (UE) fez representar-se pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O primeiro destacou que a guerra na Ucrânia começou em 2014 e que, desde aí, o povo ucraniano “tem sofrido bastante”. Denunciando a “tortura” e os “abusos” que vários cidadãos têm sido alvo, o responsável também focou a tentativa russa de parar com a exportação de cereais. “É uma forma de instrumentalizar a fome.” Também trouxe o assunto da central nuclear de Zaporíjia para cima da mesa e deixou uma mensagem de esperança à Ucrânia: “O vosso futuro é na União Europeia”.
Ursula von der Leyen frisou que a anexação da Crimeia foi uma agressão “brutal” no que concerne ao respeito do direito internacional e à integridade territorial da Ucrânia. “Marcou o início de uma tentativa deplorável de Putin de negar à Ucrânia a sua liberdade.” Desde 2014, a Crimeia tem sido usada não só como uma “base militar russa”, mas também como um lugar para testar os “métodos brutais” que a Rússia emprega “em todas as partes ocupadas na Ucrânia”. “A União Europeia nunca reconhecerá a anexação da Crimeia”, afirmou a responsável, que descreve uma “realidade negra da ocupação de Putin”.
“Estamos convosco desde sempre”, notou Ursula von der Leyen, que lembrou o acolhimento de refugiados e o fornecimento de armas. “A União Europeia vai continuar a ajudar-vos pelo tempo que demore. Putin queria terminar com a independência da Ucrânia e o oposto aconteceu; não só a Ucrânia está a celebrar o 31.º aniversário, como se tornaram um candidato para a União Europeia.” “O nosso compromisso para uma Ucrânia livre e democrática nunca foi tão forte.”
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, também discursou na cimeira. Recordando que em 2014 a Rússia converteu a Crimeia num dos “lugares mais militarizados da Europa”, o líder da organização transatlântica disse que Vladimir Putin esperava “esmagar” as tropas ucranianas e “dividir as nações democráticos”. “O Presidente Putin estava errado e os amigos da Ucrânia presentes nesta conferência provam-no.”
“A Ucrânia sofreu seis meses de guerra, mas mostrou a sua habilidade para resistir e provocar inúmeros custos à Rússia”, afirmou Jens Stoltenberg, que defendeu que Kiev deve escolher o seu próprio caminho. “Putin deve parar com a guerra e tirar as suas tropas da Ucrânia.” Assegurando o apoio militar, o secretário-geral fala numa “parceira a longo termo” com Kiev, apesar de a Rússia ser abertamente contra a entrada da Ucrânia na organização.
Uma das mensagens mais fortes veio do Presidente turco. Recep Tayyip Erdoğan, afirmou que a “anexação da Crimeia é inconstitucional” e vai contra os princípios do direito internacional. “A lei internacional manda que a Crimeia deve regressar à Ucrânia”.
A Crimeia é, segundo o chefe de Estado turco, fundamental para “preservar a integridade territorial e soberania” da Ucrânia, assim como a península é crítica para a “região e para a segurança global”. Recep Tayyip Erdoğan lembrou ainda os esforços da Turquia no “caminho da paz” e também o empenho para o “estabelecimento” de um acordo entre a Rússia e a Ucrânia.
Por Espanha, Pedro Sánchez, chefe do governo espanhol, reprovou a anexação da Crimeia pela Rússia e voltou a condenar a “agressão injustificada” da Rússia. “Pedimos a Moscovo para sair de todo o território da Ucrânia”. “Estamos muito preocupados com a violação do trânsito marítimo no Mar Negro”, salientou ainda.
Por sua vez, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, defendeu o princípio que “nenhum país deve redesenhar as fronteiras de outros países”. Lamentando a “pegada” da invasão da Rússia, o responsável acusou Moscovo de não cumprir várias resoluções da Carta das Nações Unidas.
Referindo que a Rússia coloca “fantoches” nos territórios ocupados tal como na Crimeia, Antony Blinken assinalou que o objetivo dessa medida é “tentar legitimar”o controlo das autoridades de Moscovo, tal como vez na península.
Antony Blinken elenca ainda as “atrocidades, repressões, execuções e desaparecimentos forçados” de que os territórios ocupados pela Rússia têm sido alvo. “As razões desta conferência são importantes”, sinalizou também, referindo que é “importante insistir que a Crimeia é Ucrânia, tal como Donetsk e Lugansk”. A posição norte-americana é, de acordo com o secretário de Estado, a mesma quer em 2014, quer em 2022.
Sublinhando que as sanções contra o Presidente russo devem aumentar, Antony Blinken garantiu que os Estados Unidos vão continuar a apoiar a Ucrânia.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, reiterou a mensagem de que a ONU vê a república da Crimeia como “parte da Ucrânia”.
Como convidado inesperado na Plataforma da Crimeia, António Guterres disse reafirmar o “compromisso da ONU para a soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia” de acordo com o que foi estipulado.
“O respeito da integridade territorial dos Estados é fundamental e está protegida por vários princípios da Carta da ONU”, indicou António Guterres, que criticou os Estados quem tentam “adquirir” outros — sem nunca mencionar, no entanto, a Rússia.