Começou por anunciar um discurso “curto, estreito e direto” para anunciar que a Fed vai continuar a sua política restritiva. A mensagem de Jerome Powell, em Jackson Hole, era aguardada com expectativa já que os mercados queriam avaliar a posição da Fed face ao que alguns dizem ser os erros cometidos.
Jerome Powell serviu no discurso a defesa do que tem vindo a fazer, mantendo a garantia que a política monetária restritiva é para ser mantida, mas com um olhar atento sobre os dados económicos que vão saindo.
Em julho a Fed subiu as taxas em 75 pontos base pela segunda reunião consecutiva e referiu, então, que poderia acontecer uma terceira subida dessa dimensão. Agora, a meio da última reunião (27 de julho) e da próxima (20 e 21 de setembro), Powell sugere que a decisão de setembro “dependerá de todos os dados recebidos e da evolução das perspetivas”. Mas admitiu já que a dado momento que a política monetária se torne demasiado restritiva será a altura para desanuviar o ritmo de aumentos. Sem sugerir o timing.
Mas para quem esperava que Powell fizesse um mea culpa por ter assumido cedo uma postura de falcão (que é normalmente referido para os banqueiros centrais mais restritivos, em contraponto com a pomba para uma política monetária menos agressiva ou mais acomodatícia), viu o presidente da Fed a justificar essa tomada de decisão e a reforçar que é sua determinação fazer baixar a inflação. Logo, a Fed tomará medidas para que isso aconteça. Ainda assim, admitiu que este caminho traz “alguma dor” para famílias e empresas. Mas “a nossa responsabilidade em garantir estabilidade de preços é incondicional”.
Jackson Hole. É nas montanhas que Powell vai ter de mostrar a sua estratégia
“A estabilidade de preços é responsabilidade da Fed e é um alicerce para a nossa economia. Sem essa estabilidade, a economia não funciona para ninguém. Em particular, sem essa estabilidade de preços, não alcançaremos um período sustentável de condições no mercado de trabalho que beneficiem toda a gente. Os fardos da inflação alta caem mais sobre quem os consegue menos suportar”, salientou Powell, assumindo que restaurar essa estabilidade de preços “levará algum tempo e requer o uso determinado das nossas ferramentas para equilibrar a procura e a oferta”. E admite, por isso, que a redução da inflação poderá exigir “provavelmente” um período de crescimento menor. No seu discurso a palavra recessão só foi referida uma única vez, e para falar de um período de queda da economia anterior. “A economia norte-americana está, claramente, a abrandar face ao crescimento histórico de 2021, que refletiu a reabertura da economia depois da recessão pandémica”.
Embora afastada do discurso, no entanto, a eventual recessão ficou subentendido, para Powell admitir que nem essa queda da economia o vai afastar do seu mandato de fazer a inflação descer para uma média no longo de prazo de 2%. Admitiu, por isso, que o caminho não é isento de dor. Pode “muito provavelmente” levar a algum abrandamento nas condições do mercado de trabalho.
“Ainda que as taxas de juros mais elevadas, os crescimentos menores e o abrandamento nas condições do mercado de trabalho permitam reduzir a inflação, vão, no entanto, também, trazer mais alguma dor nas famílias e empresas. Estes são os custos infelizes de reduzir a inflação. Mas falhar no restabelecimento da estabilidade de preços significará uma dor ainda maior”.
Jerome Powell ainda reconheceu que as ferramentas da Fed atuam mais no lado da procua, sendo certo que a atual inflação elevada nos Estados Unidos é resultado de uma procura forte que existe ao mesmo tempo de um constrangimento da oferta. “Nada disto diminui a responsabilidade da Fed de continuar na missão de alcançar a estabilidade de preço. Há claramente um trabalho a fazer na moderação da procura para alinhar com a oferta. E estamos comprometidos a fazer esse trabalho”.