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epa09678981 Federal Reserve Board Chairman Jerome Powell listens during his re-nominations hearing of the Senate Banking, Housing and Urban Affairs Committee on Capitol Hill in Washington, DC, USA, 11 January 2022.  EPA/Brendan Smialowski / POOL
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Jerome Powell discursa esta sexta-feira em Jackson Hole

Brendan Smialowski / POOL/EPA

Jerome Powell discursa esta sexta-feira em Jackson Hole

Brendan Smialowski / POOL/EPA

Jackson Hole. É nas montanhas que Powell vai ter de mostrar a sua estratégia

Devia ser, segundo alguns analistas, o momento do mea culpa da Fed. O sentido da Reserva Federal norte-americana vai ter novo foco na reunião de Jackson Hole, a rentrée dos bancos centrais.

O dia despertou enublado em Jackson Hole, uma cidade do estado norte-americano de Wyoming. Esta tarde (noite em Portugal) começa a reunião dos banqueiros centrais, na conferência organizada há 44 anos pela Fed do Kansas. Sempre em finais de agosto, marca a rentrée dos bancos centrais.

O primeiro encontro aconteceu em 1978 ainda na cidade do Kansas, andando de terra em terra até se mudar em definitivo para Jackson Hole em 1982, há 40 anos. A Reserva Federal do Kansas faz questão de explicar que a reunião decorre no parque nacional, cujo alojamento é desprovido de serviços como spa, ginásio ou um salão, não recebendo qualquer tratamento especial e mantendo-se o parque aberto aos visitantes durante os dias da conferência. Em comunicado, diz esperar representantes de bancos centrais de mais de 40 países.

E a organização diz, ainda, que a Fed do Kansas recupera todos os custos associados à cimeira, já que os participantes pagam a sua presença, incluindo os jornalistas e elementos dos media. “Uma prática muito diferente da maior parte das outras conferências do setor público e privado, em que os jornalistas são normalmente admitidos de forma gratuita”, assume a organização, acrescentando que além do pagamento da entrada os participantes são os responsáveis pelos custos da viagem de avião, alojamento e qualquer despesa com atividades recreativas que incorram durante o tempo da cimeira.

Nos dois últimos anos, devido à pandemia de Covid-19, o encontro aconteceu virtualmente. E assistir online ainda é uma possibilidade. Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, acompanhará os trabalhos através da internet.

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Liz Cheney

Jackson Hole alberga o encontro dos banqueiros centrais há 40 anos

The Washington Post via Getty Im

O tema deste ano “Reavaliando as restrições à economia e à política” dá o mote para a reflexão sobre o papel dos bancos centrais no combate à inflação que está aos níveis dos anos de 1970, precisamente quando começaram estes encontros.

Há um ano ainda o presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), Jerome Powell, ia apregoando que os níveis da inflação se esperavam temporários. Um ano depois, a inflação nos Estados Unidos está nos 8,5% (julho), o que, ainda assim, já expressa uma descida face ao valor de junho que atingiu os 9,1%. A Fed foi dos bancos centrais a reagir mais rapidamente, levando já quatro reuniões de política monetária a subir taxas de juro, colocando-as a níveis pré-pandemia. E nas últimas duas atirou mesmo para cima da mesa uma subida de 75 pontos base, admitindo que pode não ficar por aqui.

Taxas de juro da Fed voltam a níveis pré-pandemia. Subida “extraordinariamente grande” (75 pontos base) pode continuar

Com a inflação em alta, as taxas de juro a subir e dois trimestres económicos a cair (EUA), Powell vai enfrentar, pela primeira vez em três anos, uma plateia à espera de saber o que a Fed acredita que vai acontecer. Powell já disse, na sua última mensagem, a 27 de julho, depois da decisão de política monetária, acreditar que os Estados Unidos não estão em recessão, mas logo nos dias seguintes foi revelado o segundo trimestre consecutivo de queda.

A mesma plateia estará à espera de questioná-lo sobre o que falhou na abordagem às perspetivas inflacionistas, consideradas, inicialmente, como temporárias. Os bancos centrais, e a Fed em particular, têm agora o desafio de conter a inflação para uma média em torno dos 2%, sem infligir maiores danos à economia.

O que se espera de Powell?

“Não é um grande momento para a Fed, não apenas porque os desafios são enormes, mas também porque penso que a Fed cometeu alguns erros”, comentou ao Financial Times, Ellen Meade, que foi conselheira da Fed até 2021 e que é atualmente professora da Universidade de Duke, acrescentando acreditar que “Powell quer fazer o acertado e não cometer erros”. Powell viu o seu mandato ser renovado em novembro, quase em simultâneo com a decisão de retirar a palavra “temporário” da ementa da política monetária.

Se há quem considere que a Fed puxou o travão cedo demais — com as subidas de juros agressivas — há quem defenda, por outro lado, que os estímulos deviam ter começado a ser retirados mais cedo. Mas as subidas agressivas são vistas, no essencial, como a forma como a Fed assume os seus eventuais erros. E, por isso, o mercado agora espera que a Fed mantenha a sua retórica mais restritiva na reunião ladeada pelas montanhas. Até porque viu nos últimos dias algo que não desejaria — a valorização bolsista no arranque do terceiro trimestre. O S&P 500 está a subir 10,4% desde o final de junho, e segundo a CNBC o índice teve mesmo o melhor arranque do terceiro trimestre desde 1932.

Jerome Powell vai discursar sexta-feira, o dia em que os dados da inflação serão libertados, assim como os últimos dados da criação de emprego. Antes mesmo da reunião de 20 e 21 de setembro da Fed, na qual já se vai apontando para nova subida de 50 ou 75 pontos base. Mas tudo depende do evoluir da economia. Há ainda muito a processar antes da decisão de política monetária. O discurso acontecerá às 8 horas em Jackson Hole (15 horas em Lisboa), estando os mercados à espera do reforço dessa mensagem de uma política mais restritiva, depois das taxas de juro a 10 anos dos Estados Unidos terem tocado os 3%.

Powell tem de ser capaz, dizem os analistas, de dar a mensagem certa aos mercados, sob pena de minar os esforços que tem vindo a fazer para conter a inflação, que já tiveram impacto na evolução económica, no sentimento dos consumidores e nos níveis de aprovação de Joe Biden que conseguiu ver aprovado um pacote que apelidou de ato para a redução da inflação.

“Perante uma inflação muito elevada, que continua difícil de prever no curto prazo, espera-se que a Fed reitere a sua prioridade absoluta de combater a subida dos preços e o seu desejo de continuar a apertar a sua política monetária”, comenta, numa nota enviada ao Observador, Franck Dixmier, diretor global de investimentos em obrigações, Allianz Global Investors (Allianz GI), lembrando que os mercados acreditam que a Fed “está próxima do seu pico de subida das taxas de juro, e esperam subidas entre os 50 e os 75 pontos-base (pb) em setembro, seguidas de 50 pb em novembro e 25 pb em dezembro”. Mas este gestor de investimentos acrescenta: “Isso não nos parece suficiente” e, por isso, considera que “Jackson Hole será uma oportunidade para Jerome Powell redefinir as expectativas do mercado e reafirmar a sua prioridade máxima no combate à inflação. Acreditamos que a mensagem de Jerome Powell deve ser clara e firme”.

Também Schmieding Holger, do banco Berenberg, diz ao Observador que na reunião que arrancou esta quinta-feira e decorre até sábado, Powell deverá “enfatizar a determinação da Fed no combate à inflação”, considerando que tal pode sugerir aos mercados que haverá maior probabilidade de em setembro se assistir a uma subida de 75 pontos e não de 50 pontos base.

Mas é um sinal claro do sentimento da Fed que se espera de Powell esta semana. “Não há respostas fáceis”, concluiu, em declarações ao Politico, Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Global Management,  admitindo que “a Fed está muito preocupada em enviar o sinal errado”.

O fantasma dos anos de 1970 está a pairar em Jackson Hole. Eram anos em que a Fed oscilava entre o aumento de taxas para conter os preços ou cortá-las para fomentar crescimento económico, falhando no travão à inflação. Charles Plosser, que foi presidente da Fed de Filadélfia entre 2006 e 2015, sugere, ao FT, que “o maior risco é de que a Fed reverta o andamento cedo demais, e não que o aperte por muito tempo.”

Qual é a importância de Jackson Hole?

Não sendo uma reunião do conselho de governadores da Fed para decidir política monetária, porque têm tanta relevância estes encontros no parque natural?

A história responde à questão. Além de marcar a rentrée dos bancos centrais, o encontro não tem apenas banqueiros, mas é um espaço de discussões com políticos sobre questões económicas. Este ano apanha o mundo a ser impactado pela guerra na Ucrânia, que já fez disparar os preços dos produtos energéticos e alimentares que são algumas das causas para a subida da inflação.

O encontro começou na cidade do Kansas, com os primeiros anos a debruçarem-se sobre agricultura. Mas já passou pelo fim da União Soviética, depois de ter passado pela guerra fria, já passou pelo rebentar da bolha das tecnológicas, já passou pela crise financeira, pela crise dos emergentes, nomeadamente a crise financeira russa. Foi especialmente marcante nos anos em que se sentava no banco do governador Ben Bernanke que foi presidente da Fed de 2006 a 2014, durante a crise financeira. Os seus discursos na reunião acabaram, sempre, por divulgar medidas. Em 2008, um mês depois de Jackson Hole o mundo assistia à queda do Lehman Brothers. O que levou à primeira bazuca de Bernanke, prolongada em 2010 com a segunda grande compra de ativos por parte da Reserva Federal. Foi também nessa reunião que Mario Draghi, então líder do BCE, antecipava que o BCE ia também puxar pelo gatilho, no primeiro grande pacote de estímulos do banco central europeu, em 2014, que via alguns dos membros da zona euro numa crise de dívida. Portugal estava sob a batuta da troika desde 2011.

Nunca mais a bazuca deixou de disparar. Depois da crise financeira e na Europa da crise de dívida soberana, quando o mundo se preparava para a normalização da política monetária veio uma pandemia que atirou a população para casa e a economia para recessões nunca sentidas. Novos pacotes de estímulos foram concertados. Em 2021 começava, com o atenuar da pandemia, a falar-se, novamente, da retirada de estímulos. Mas veio a guerra. E a inflação. E o regresso à subida de juros.

O BCE ensaiou em Sintra a resposta ao momento. Mas é em Jackson Hole que, segundo Marcus Ashworth, comentador da Bloomberg, os banqueiros centrais deviam fazer o mea culpa.

O que saiu de Sintra: Governos devem ter cuidado com gastos para compensar inflação

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