O teatro de Mariupol era um lugar de cultura e, com a invasão russa na Ucrânia, tornou-se um “santuário”. Era um abrigo para os civis que esperavam ser retirados da cidade, um ponto onde se distribuíam medicamentos, água e comida. Tudo mudou a 16 de março quando um bombardeamento russo o transformou no palco de um “crime de guerra”, como o classificou a Amnistia Internacional. Agora surgem relatos de que começou a ser reconstruido pelas forças russas, que controlam a cidade, com o objetivo de encobrir o que lá se passou.

Teatro de Mariupol. Mesmo com “crianças” escrito em “letras garrafais”, bombardeamento foi “deliberado” e é “crime de guerra”, diz Amnistia

Para Petro Andriushchenko, conselheiro do governador de Mariupol, não há dúvidas quanto às motivações dos russos: eliminar provas. “Os ocupantes estão a esconder os próprios crimes de guerra, o assassinato em massa de 600 civis no teatro de Mariupol”, afirmou, citado pela Ukrinform. Segundo Andriushchenko, as forças russos estão mesmo com “pressa” para apagar as evidências.

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Adianta que os invasores justificaram a reconstrução com o “valor histórico” do teatro, no entanto explica que é uma desculpa e que se trata de um edifício típico do período soviético.

O único valor histórico surgiu quando duas bombas foram largadas. E este é o valor histórico que os ocupantes estão agora a tentar esconder.”

Esta quarta-feira, o departamento de comunicação estratégico das Forças Armadas da Ucrânia trouxe mais detalhes sobre o caso, denunciando que as forças russas estão a cobrir a área do teatro com cloro, para disfarçar o cheiro dos cadáveres, e a “tapar os corpos das vítimas com cimento” para os esconder.

Forças russas bombardeiam teatro em Mariupol onde estavam crianças. Piloto foi um “monstro”, diz ministro ucraniano

Numa publicação no Telegram, indicam que os residentes locais relataram que os construtores foram instruídos a não criar confusão, a deixar os corpos no local e a “trabalhar silenciosamente”.

Quando o teatro de Mariupol foi bombardeado, centenas de civis, incluindo menores, estavam dentro e nas proximidades. Vídeos partilhados na altura, incluindo pela agência NEXTA, mostravam o edifício cheio de pessoas.

A Amnistia Internacional lembra que o ataque provocou uma grande explosão, que levou ao colapso do teto e de grande parte das duas paredes principais do edifício. Num relatório divulgado em junho, a organização não governamental reconhece que o edifício estava claramente marcado como uma área civil. Alias, como se pode ver numa imagem de satélite divulgada pela empresa Maxar Technologies, nas laterais do edifício podia ler-se, em letra gigantes: “crianças”, escrito em russo.

RUSSIANS INVADE UKRAINE -- MARCH 14, 2022: 01 Maxar satellite image before the Mariupol Drama Theater was bombed on March 16th. Mariupol, Ukraine. 14march2022_wv2. Please use: Satellite image (c) 2022 Maxar Technologies.

Este foi o bombardeamento mais mortal desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro. O número de vítimas é incerto, mas as autoridades ucranianas estimam que pelo menos 300 civis morreram, enquanto se escondiam e esperavam ser retiradas da cidade. Uma investigação da Associated Press mostra um valor diferente. Com base no relato de 23 sobreviventes, pessoas que conheciam a vida no interior do abrigo, a opinião de especialistas, bem como fotos e vídeos  do interior do teatro, avançam que 600 pessoas terão morrido no ataque aéreo.