Uma onda de protestos, nas ruas e nas redes sociais, tem vindo a ganhar força no Irão após o funeral da Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que morreu depois de ter sido detida pela Polícia da Moral, uma força policial que zela pelo cumprimento das regras de vestuário e de comportamento social no país.

No funeral que se realizou este sábado na cidade natal da jovem, Saqez, na província do Curdistão, algumas mulheres terão deixado cair o véu em sinal de protesto contra a imposição do uso do hijab, um pano que cobre o cabelo e que as mulheres são obrigadas a usar na rua e em todos os locais públicos.

De acordo com a BBC, que cita vídeos publicados nas redes sociais e cuja autenticidade foi validada pelos serviços da BBC Pérsia, o funeral foi também marcado por apelos de “morte ao ditador” que terão levado a polícia a disparar para a multidão.

A agência Reuters refere que os protestos prosseguiram no domingo, destacando a sua força nas redes sociais para a qual foi criada a hashtag #MahsaAmini que já se tornou numa das mais populares em publicações feitas na língua persa no Twitter. Também há vídeos no Twitter a mostrar protestos em Teerão.

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Mahsa Amini foi detida na terça-feira em Teerão, capital do Irão, pela Polícia da Moral alegadamente por não estar a cumprir o código de vestuário que exige em particular a cobertura da cabeça. De acordo com testemunhas no local, foi agredida dentro da carrinha da polícia onde foi retida e acabou mais tarde por entrar em coma e morrer. A polícia iraniana negou já estas alegações, justificando que a jovem faleceu na sequência de uma falha cardíaca súbita.

O pai de Amini, citado pelo site noticioso pró-reformista, Emtedad, nega a tese das autoridades, segundo a qual a filha morreu de um problema médico congénito. “Pessoalmente desminto essas alegações porque a minha filha era saudável e não tinha qualquer problema de saúde”.

O presidente iraniano, o conservador da linha dura, Ebrahim Raisi, deu já instruções ao ministro do Interior para a abertura de uma investigação.

O Kasra Hospital, localizado no norte da capital iraniana, emitiu um comunicado a indicar que Mahsa Amini deu entrada nos serviços a 13 de setembro já sem sinais vitais. Este comunicado foi mais tarde removido das redes sociais do hospital depois de comentários em redes sociais próximas das forças mais conservadoras terem acusado a instituição de ser um agente anti-regime. Um vídeo publicado no Twitter da editora do site noticioso TheFreedomPost, a cuja autenticidade não foi possível comprovar, mostra funcionárias do hospital a depositar ramos de flores sobre aquele que será o corpo da jovem que chegou já morta à unidade hospitalar.

A estação televisiva do Irão mostrou imagens captadas por câmaras de vigilância de Mahsa já após a detenção, tendo os ativistas de direitos humanos acusado a estação pública de censurar as imagens para contar uma história falsa.

Uma organização que monitoriza a segurança informática e online, a Netblocks, denuncia a disrupção das ligações à internet em vários locais do Irão desde que as notícias da morte da jovem foram divulgadas, chegando a até a perturbar a negociação da bolsa no sábado.

Desde a revolução islâmica de 1979 liderada pelo Ayatollah Khomeini — o mesmo líder religioso que lançou uma fatwa, um édito religioso, a pedir a morte do escritor Saman Rushdie — que as mulheres no Irão passaram a ser obrigadas a usar um vestuário “modesto” que na prática exige a cobertura total de braços e pernas e um lenço ou capa a tapar o cabelo.