O cardeal D. José Tolentino Mendonça deverá ser nomeado nos próximos dias como prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação na Santa Sé, noticia esta sexta-feira o jornal especializado em religião 7Margens.

Tolentino Mendonça, que atualmente é o arquivista e bibliotecário da Santa Sé, será o primeiro prefeito daquele novo dicastério, criado na sequência da reforma da Cúria Romana recentemente implementada pelo Papa Francisco, que reformulou por completo os organismos que compõem a cúpula do Vaticano.

O cardeal português, de 56 anos, fica com as funções anteriormente exercidas por dois cardeais já próximos da reforma: Gianfranco Ravasi, que era o presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, e Giuseppe Versaldi, que era o prefeito da Congregação da Educação Católica.

Ambos os organismos foram extintos e concentrados no agora Dicastério para a Cultura e a Educação, num processo de reforma que simplificou a Cúria Romana e acabou com a distinção entre “congregações” (os departamentos de primeira linha, semelhantes aos ministérios de um governo civil) e “conselhos” (organismos de menor importância), ficando todos com o nome genérico de “dicastérios”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Como prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, Tolentino Mendonça terá a jurisdição sobre todo o universo educativo católico a nível mundial, que inclui 1.360 universidades católicas, 487 universidades eclesiásticas e 217 mil escolas — que abrangem 11 milhões de estudantes universitários e 62 milhões de alunos mais novos.

Ficará também sob a alçada de Tolentino Mendonça todo o trabalho que a Santa Sé faz no mundo da cultura a nível global.

Tolentino Mendonça, padre e poeta português conhecido tanto pela sua obra poética como pelo seu trabalho académico na Universidade Católica, foi elevado à proeminência global no universo católico depois de ter sido convidado, em 2017, para orientar o retiro espiritual do Papa Francisco e da Cúria Romana na Quaresma do ano seguinte.

“Achava que tinha sonhado”, reconheceu o ainda padre Tolentino Mendonça em entrevista ao Observador em 2018.

Tolentino Mendonça: “Achava que tinha sonhado que o Papa me tinha convidado para orientar o retiro”

O sucesso nesse retiro quaresmal com o Papa, cujos textos foram publicados em livro em 2018, foi o pontapé de partida para uma carreira eclesiástica que se precipitou com enorme rapidez: no verão de 2018, Tolentino Mendonça foi nomeado bibliotecário e arquivista da Santa Sé e ordenado bispo; em outubro de 2019, o Papa Francisco elevou-o a cardeal.

Antes, em Portugal, o trabalho de Tolentino Mendonça na intersecção da religião e da cultura tornara-o notável, especialmente devido à sua atuação na Capela do Rato, que dirigiu durante vários anos com um intenso programa cultural. Foi também vice-reitor da Universidade Católica até à sua nomeação para o Vaticano em 2018.

Tolentino Mendonça. De Angola à Madeira até aos arquivos secretos do Vaticano, a vida do padre-poeta que se tornou cardeal

Tolentino Mendonça é um dos três cardeais eleitores portugueses, ou seja, cardeais com menos de 80 anos, que por isso podem votar num conclave. Além dele, também o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e o bispo emérito de Leiria-Fátima, D. António Marto, têm esse privilégio.

A juventude de Tolentino Mendonça, aliada à grande relevância que obteve nos últimos anos dentro da Cúria Romana, fazem com que o cardeal português seja frequentemente apontado como um dos possíveis papabili de um futuro conclave.