O primeiro-ministro expressou esta quarta-feira a sua “total solidariedade com o Presidente da República, mais concretamente pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa, pela interpretação inaceitável que tem sido feita das suas palavras”. António Costa refere-se às declarações proferidas ontem pelo Presidente sobre o relatório da Comissão Independente que investiga os abusos sexuais na Igreja que já recolheu 424 testemunhos, preparando-se para enviar 30 ao Ministério Público.
O que Marcelo disse: “Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos”. O primeiro-ministro faz a defesa do Presidente garantindo que, “para uma pessoa como Marcelo Rebelo de Sousa, um caso que fosse, só um caso de abuso sexual sobre crianças seria algo absolutamente intolerável como é para o conjunto da sociedade”.
“É uma interpretação muito errada que tem estado a ser feita”, disse ainda António Costa que reduz o caso a uma má interpretação. E acrescenta que se alguém que é intimamente conhecido de todos os portugueses, depois de anos de exposição pública, é o professor Marcelo Rebelo de Sousa”, referiu recordando que foi aluno dele na Faculdade: “Não tenho a menor das dúvidas, mesmo quando divergimos sobre muitos temas, sobre o que pensa e sobre uma matéria que afeta gravemente a consciência social”.
“São casos em que a violação dos direitos das crianças não tem a ver com a quantidade”, continuou ainda Costa aos jornalistas, em Viseu, sobre a gravidade da situação reportada pela Comissão Independente. E mantém a defesa de Marcelo: “Seguramente o Presidente não quis desvalorizar, até já fez uma nota a explicar que o que disse foi surpresa por não ter havidos mais casos denunciados”. Marcelo fez ontem publicar na página oficial da Presidência uma nota explicativa quando as suas declarações começaram a ser criticadas por partidos políticos.
“Na vida política nem sempre usamos a melhor expressão e nem sempre nos interpretam da melhor forma e quero expressar a minha solidariedade”, disse mais uma vez Costa repetindo que “a interpretação não corresponde, como todos temos a obrigação de saber, ao sentir do Presidente da República”. Rematou atirando que “quem tem feito esta interpretação é que deve um pedido de desculpas ao Presidente da República”.