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As forças ucranianas podem entrar na Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, mesmo antes de tentarem recuperar outros territórios tomados pela Rússia após a invasão que começou a 24 de fevereiro. Esta é a convicção de Roman Ponomarenko, historiador militar ucraniano, que em entrevista à Radio NV (ucraniana) diz que os russos iriam “entrar em pânico” se vissem as tropas ucranianas entrar pela Crimeia.

A “atual situação na frente de batalha poderá levar a que entremos na Crimeia antes de recuperar as fronteiras como eram definidas até 24 de fevereiro”, o dia em que começou aquilo que Vladimir Putin chamou de “operação militar especial”. Para este historiador militar ucraniano, autor de vários livros relacionados com história da guerra, uma decisão de entrar na Crimeia encontraria as forças russas “prontas para fugir”.

“Por exemplo, se amanhã a frente russa no sul cair, então vamos dar por nós na fronteira com a Crimeia. E as nossas tropas podem decidir entrar, porque irão ver que as tropas russas não estão prontas para se defenderem – eles irão entrar em pânico e estarão prontos para fugir dali“, antecipa o historiador militar.

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Partes de Lugansk, Donetsk e Zaporíjia, entre outras regiões, continuam controladas por forças russas, apesar da contra-ofensiva ucraniana que já reconquistou várias cidades que tinham sido tomadas. Antes de tentar recuperar esses territórios, porém, poderá haver uma margem para lançar uma investida sobre a Crimeia, região que a Rússia anexou via referendo, em 2014.

“Estando em guerra, é difícil prever quando é que vamos voltar às fronteiras de 24 de fevereiro e quando teremos hipótese de dar os passos seguintes na ofensiva”, diz Roman Ponomarenko. “A situação ainda pode mudar muito e o comando [ucraniano] tem de manter-se suficientemente flexível para reagir imediatamente, com eficácia, se for necessário”, acrescenta o especialista.

Defesa britânica acredita que russos temem pela “vulnerabilidade” da Crimeia

A análise de Roman Ponomarenko vem em linha com aquilo que disse no sábado o Ministério da Defesa britânico acerca da Crimeia, basicamente que a Rússia poderá estar “preocupada” com uma eventual “vulnerabilidade” da região que foi anexada em 2014 por Moscovo. Poderá ser por isso, acredita o Ministério da Defesa do Reino Unido, que os bombardeamentos de longa distância que têm vindo a ser feitos estão a partir de Krasnodar (Rússia) e não a partir da Crimeia.

No relatório diário sobre a evolução do conflito na Ucrânia, a Defesa britânica registou no sábado a intensificação dos bombardeamentos russos na Ucrânia, com mísseis lançados a longa distância. Porém, nota o relatório, “anteriormente estes mísseis de longa distância eram lançados a partir de locais na Crimeia” – o que indica que “a mudança do local de lançamento estará, provavelmente, relacionada com preocupações [russas] quanto a uma vulnerabilidade da Crimeia”.

É convicção também dos EUA que a Ucrânia tem potencial para conseguir recuperar a Crimeia – e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já veio dizer que a guerra só termina com a recuperação desse território.

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Um outro especialista – neste caso um militar na reserva, adjunto do ministro da Defesa ucraniano – também já disse ser possível recuperar a península da Crimeia até ao fim do ano. Volodymyr Havrylov afirmou que “há uma decisão dentro da sociedade ucraniana de que iremos até o fim”, seja qual for o cenário em cima da mesa. “As pessoas pagaram com muito sangue, com muito esforço o que já conseguimos”, afirmou.

Na opinião deste adjunto do ministro da Defesa ucraniana, um conflito congelado ou qualquer tipo de pausa dará vantagem apenas à Rússia, que poderia reordenar as tropas e atacar a Ucrânia com mais força. “É por isso que não temos o direito de parar. Temos de avançar.”

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