A mini-remodelação no Governo, e a nomeação de João Galamba para a pasta das Infraestruturas em particular, estiveram na mira da oposição ao longo da tarde desta segunda-feira. Da esquerda à direita, os vários partidos deixaram críticas à nomeação do antigo secretário de Estado para o Ministério, aproveitando ainda para tecer críticas às declarações do primeiro-ministro ao final da tarde.
Se António Costa elogiou a competência e experiência governativa das novas escolhas (que, de resto, já estavam no Governo, ainda que como secretários de Estado), os diferentes partidos do espetro político veem as coisas de forma diferente. André Ventura fala numa “afronta” aos portugueses e à justiça; à Rádio Observador, Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal (IL), insinua que as nomeações de Costa foram feitas com o único objetivo de agradar aos “pedronunistas”; já o PCP, na figura de João Oliveira, coloca em causa os êxitos “que ninguém sente”, e que foram elencados pelo primeiro-ministro na sua comunicação ao país.
Outro ponto transversal aponta baterias ao ministro das Finanças. Os vários partidos questionam a continuidade de Fernando Medina, e entendem que a sua posição está fragilizada — e coloca mesmo em causa o restante executivo.
Chega: escolha de João Galamba “é uma afronta ao país e à justiça”
O líder do Chega foi claro na sua apreciação da nomeação de João Galamba. Para André Ventura, a escolha é nada menos que “uma afronta ao país e à justiça”.
“João Galamba está a ser investigado por negócios do lítio e hidrogénio, que a PGR não deu ainda mais esclarecimentos, mas temos informação sólida e suficiente de que há investigações em curso muito graves sobre uso de dinheiros públicos e que, aparentemente, envolvem Galamba”, sublinhou Ventura.
O líder do terceiro maior partido no Parlamento destacou ainda a relação de Galamba com José Sócrates, recordando que o novo ministro “tem, entre outros elementos do seu currículo, o ter sido quem avisou José Sócrates da Operação Marquês, uma outra afronta à justiça” — facto documentado nas escutas que constam dos autos da Operação Marquês.
É uma afronta aos portugueses de bem, à justiça e ao seu prestígio, àqueles que lutam pelo ciclo de favores políticos que se instalou em Portugal.”
As críticas de Ventura prosseguiram: “Os casos que envolvem João Galamba vão fragilizar autoridade política do Governo e foi essa autoridade política que levou, segundo Fernando Medina, ao afastamento da secretária de Estado Alexandra Reis. O Governo afasta secretária de Estado envolvida, potencialmente, numa irregularidade de atribuição de indmnizações, mas nomeia um ministro envolvido num escândalo ainda maior”.
Apesar de Marcelo Rebelo de Sousa ter considerado que não é hora de usar a “bomba atómica” por não estar criada uma alternativa, André Ventura insistiu que é preciso travar o rumo do Governo. “Nenhum povo deseja estar sempre em eleições, mas há momentos na vida e na história em que não temos só de nos pautar pela sondagem da esquina, temos de nos pautar por aquilo em que acreditamos e acreditamos que este Governo já deu o que tinha a dar e que António Costa nos momentos-chave opta sempre por escolhas erradas e por escolhas que minam a autoridade e prestígio do Governo”, frisou.
André Ventura acredita que a escolha de João Galamba e Marina Gonçalves é a prova de uma “incapacidade de rejuvenescer e de ir buscar qualidade à sociedade civil”. Mas o líder do Chega vai mais longe: “Ninguém se quer atravessar por António Costa e por este Governo socialista.”
Neste sentido, Ventura criticou Costa por ter ido ao “aparelho socialista” buscar os novos ministros. “Temos um governo de aparelho e de boys“.
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O líder do Chega aproveitou ainda a deixa para voltar a pedir a demissão do ministro de Finanças. “Fernando Medina não tem quaisquer condições para se manter como ministro das Finanças” e acusa o Governo de estar “à deriva e sem qualquer capacidade política”.
Iniciativa Liberal: “a ideia que dá é que foi o próprio Pedro Nuno Santos a escolher estas pessoas”
A Iniciativa Liberal diz não entender as razões que levaram António Costa a insistir na apresentação de pessoas de dentro do partido e sugeriram que as escolhas de João Galamba e Marina Gonçalves foram feitas tendo em mente “equilíbrios internos”.
“Estas duas pessoas são de uma fação muito particular dentro do PS, são da fação de Pedro Nuno Santos. A ideia que dá é que foi o próprio Pedro Nuno Santos a escolher estas pessoas”, aponta Carlos Guimarães Pinto em declarações à Rádio Observador, frisando que o primeiro-ministro não procurou “equipar o Governo com as melhores pessoas, mas sim procurar manter os equilíbrios internos dentro do seu próprio partido”.
Aos olhos do liberal, “António Costa perdeu a oportunidade de ir buscar talento fora do partido, à sociedade civil”. “Não sei se é por não ter acessível e por ter recebido muitas rejeições ou se simplesmente foi uma opção deliberada de António Costa em manter tudo dentro do partido”, sublinhou.
O “tema” Fernando Medina também foi destacado pelo deputado da IL, que realçou a posição frágil que o ministro ocupa — e que fragiliza o próprio Executivo.
Quando um Governo tem um ministro das Finanças fragilizado é o próprio Governo que fica fragilizado”, sublinhou, enquanto antecipou: “Enquanto Fernando Medina se mantiver como ministro das Finanças, o Governo estará mais frágil, tanto em capacidade política como em capacidade de execução.”
“O ministro das Finanças tem de ter força política”, insistiu o deputado liberal, frisando que Fernando Medina não só está fragilizado como “tem uma parte do partido contra si” e é “um ministro sem o peso político para ser ministro das Finanças”.
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PCP: Declarações de António Costa em “absoluto contraste com a realidade”
Não foi só à direita que a atuação do Executivo motivou críticas. João Oliveira, do PCP, acusou António Costa de fazer referência a “êxitos de uma governação que ninguém sente”, frisando que as palavras do primeiro-ministro estão em “absoluto contraste com a realidade”.
Mais do que isso, o comunista fez notar que Costa prometeu que “não haverá descontinuidade das políticas” e isso é o que preocupa o PCP “na medida em que aquilo que era preciso era que houvesse uma alteração das opções políticas que o Governo tem feito”, nomeadamente com “medidas de aumento de salários, pensões e reforço da capacidade de resposta dos serviços públicos”.
“Aquilo que era necessário era uma resposta política aos problemas que os portugueses vão sentido”, sublinhou, frisando que tudo o que foi dito vai “no sentido oposto do necessário” e, portanto, “não deve haver qualquer tipo de expectativas dos portugueses para resolver problemas de fundo”.