A tensão subiu novamente em pleno debate da Assembleia da República, esta quarta-feira, devido a uma intervenção de um deputado do Chega. Bruno Nunes acusou a deputada Patrícia Gilvaz, da Iniciativa Liberal, de lhe ter chamado “parvo” e defendeu-se com um ataque: “Envergonha as mulheres”. A resposta veio da bancada do Bloco de Esquerda, que saiu em defesa dos imigrantes e das mulheres, e terminou com o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, a chamar palhaço ao líder parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares.

Tudo aconteceu durante um debate onde se discutiu a criação de um programa nacional de atração, acolhimento e integração de imigrantes. Bruno Nunes tomou a palavra para criticar PS e PSD e para colar a IL ao bloco central: “A IL é o novo amigo da coligação que tem dito constantemente que nada quer com o Chega e que quer linhas vermelhas e que à quarta-feira diz: ‘No sábado não vou jantar a tua casa’. Mas ninguém o convidou. Não os convidámos para nada e vêm preocupadíssimos com o liberalismo progressista que defendem, que tem agora como líder da claque João Cotrim Figueiredo, que já perdeu o protagonismo na primeira fila.”

Durante a intervenção e segundo o próprio, Patrícia Gilvaz chamou “parvo” ao deputado (a deputada liberal corrige Bruno Nunes, afirmando que disse “isso é baixo” e não parvo). Bruno Nunes continua na posse da palavra: “Senhor presidente, não percebi a parte do ‘não sejas parvo'”. E, enquanto olha para a deputada liberal, diz que Patrícia Gilvaz “tem uma dificuldade com as interpretações dentro do Parlamento”. E prosseguiu: “A si não lhe vou responder, basta ver como envergonha as mulheres em cima daquele púlpito”.

Augusto Santos Silva tentou prontamente travar o discurso, interrompeu Bruno Nunes, que continuou a falar. Vários deputados das bancadas de PS, PSD, IL e Bloco de Esquerda começaram a fazer barulho através de pateadas.

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O presidente da Assembleia da República pediu que não fossem usadas “expressões” como aquela em relação a outros deputados, Bruno Nunes reiterou: “Envergonhar alguém e dizer que alguém envergonha alguém não é ofensa para ninguém e sinto-me envergonhado quando alguém defende a prostituição. É um direito que me assiste e não considero que tenha sido uma ofensa para nenhum deputado.”

O deputado do Chega referia-se a uma intervenção de Patrícia Gilvaz que, em nome da Iniciativa Liberal, defendeu a legalização da prostituição, feita já há vários meses.

Seria Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, a defender a deputada com um ataque ao Chega — que seria aplaudido por grande parte do Parlamento. O líder parlamentar bloquista começou por dizer que o partido fez o “bingo do preconceito” em relação aos imigrantes (“insultados pelas intervenções deste plenário”) e mulheres. “O senhor deputado não tinha a coragem de dizer que um homem o envergonhava, mas eu digo-lhe: envergonhou-me a mim como homem pelo machismo da sua intervenção.”

“A senhora deputada defende as suas posições e posso não concordar, mas respeito-a por quem a elegeu, por quem ela é e por todas as mulheres que ajudam este país a ser melhor, ao contrário do senhor deputado e do Chega. É uma vergonha o que fizeram aqui hoje, preconceito do início ao fim do debate. Envergonha não só o Parlamento, não só a classe política, mas o país que deve muito aos imigrantes, e pessoas que tiveram de sair do país pela política fascistas que vocês defendem, são vocês. A vergonha deste país é o Chega“, concluiu, entre um grande aplauso arrancado das bancadas.

Enquanto Pedro Filipe Soares falava, do lado oposto do hemiciclo, a bancada do Chega mostrava-se descontente através de vários gestos, mas o líder da bancada parlamentar, Pedro Pinto, foi mais longe: “Palhaço, pá. Palhaço, pá. Vai-te embora.”

O debate em causa, pedido pelo PSD, servia para criar um programa nacional para atrair imigração, projeto muito criticado pelo Chega, mas também pela esquerda que considera que não se pode ligar a chegada de imigrantes à meritocracia.

PSD criticado à esquerda e direita por propor programa de atração de imigrantes