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O ministro dos Negócios Estrangeiros defende que a China está numa situação de equilibrismo em relação ao conflito na Ucrânia e que, se fornecer armamento à Rússia, Portugal e a União Europeia terão de rever as relações com Pequim.

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Não creio que a China irá avançar no sentido do apoio militar à Rússia. Alteraria radicalmente a forma como a China é vista no mundo, seria um erro grande e mudaria evidentemente também a forma como se relaciona com a Europa e Portugal naturalmente não deixaria de ser afetado por esse processo”, disse João Gomes Cravinho em entrevista à Lusa, a propósito do primeiro aniversário da invasão da Rússia na Ucrânia, que se assinala esta sexta-feira.

Para o chefe da diplomacia portuguesa, “a China está numa situação difícil, de algum equilibrismo”, mas se der o passo de apoiar militarmente a Rússia, haverá consequências: “Teríamos de rever as nossas ligações com a China. Teríamos de rever o significado do nosso relacionamento político e económico com a China, Portugal e os outros países europeus”, defendeu.

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João Gomes Cravinho recordou que a China e a Rússia celebraram “uma parceria sem limites”, expressão utilizada pouco antes da guerra, mas não é claro que Pequim soubesse das intenções do Presidente russo em relação à Ucrânia, e as indicações recebidas é que “não ficou propriamente muito satisfeita com esta atitude bélica do Presidente [russo, Vladimir] Putin”.

Na semana em que as diplomacias de Pequim e Moscovo acertaram o aprofundamento de relações, o ministro português abordou o plano de paz para a Ucrânia que a China se propõe apresentar, manifestando dúvidas sobre a sua credibilidade.

“Há uma ligação muito forte entre os dois países e a China tem menor credibilidade quando diz que quer apresentar um plano de paz”, comentou o ministro, ressalvando que, por outro lado, as autoridades chinesas assinalam vários “princípios importantes”, como integridade territorial, respeito pela Carta das Nações Unidas e resolução pacífica de disputas internacionais.

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Nesse sentido, “se uma proposta chinesa respeitar esses princípios, pode ser uma proposta interessante”, observou: “Vamos ver se é uma proposta que consegue atrair a atenção do Presidente Putin”.

O chefe da diplomacia portuguesa deixou também uma mensagem ao Irão, que “está a cometer um erro muito grave” ao envolver-se no apoio militar à Rússia.

A situação do Irão era já muito difícil. Mas o décimo pacote de sanções [da União Europeia que será hoje declarado] contém já sanções dirigidas a sete entidades iranianas para penalizá-las pelo apoio à Rússia”, adiantou o governante.

Sobre as sanções, Cravinho sustentou que o seu impacto “é muito superior àquilo que se vê”. Além de sanções a indivíduos e oligarcas, que “deixaram de poder aceder às suas casas em Málaga”, num total de 1.400 pessoas da elite russa que, “deixou de poder fazer o estilo de vida que tinha anteriormente”, há “consequências muito superiores” na capacidade industrial, fundamental para o esforço de guerra.

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O ministro apontou o caso concreto da produção automóvel, que enfrenta falta de peças e cadeias de fornecimento interrompidas. Quando se fala de fabrico de automóveis, prosseguiu, não se trata de serem em si perigosos, mas porque há muitos componentes “que são de duplo uso e podem ser utilizados no fabrico de equipamento que têm funcionalidade militar”.

A capacidade russa de alimentar a sua economia e a sua indústria em particular “tem sido severamente” atingida, segundo o ministro, o que conduz novamente ao Irão, quando a Rússia tem de recorrer aos drones iranianos porque já não tem chips necessários para o fabrico próprio.

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A agressão russa, defendeu Cravinho, que era ministro da Defesa à data do início da invasão, levou a “uma reação forte por parte de todos os países europeus na relação transatlântica de apoio à Ucrânia”, embora, nos primeiros meses, “ainda com alguma dificuldade de uma abordagem completamente harmoniosa” no que toca à forma como se olhava para a guerra.

No entanto, ao longo deste ano, que poderia provocar alguma fadiga, “consolidou-se a união, tornou-se cada vez mais forte, mais profunda, mais intensa”, e o mesmo aconteceu com as opiniões públicas na generalidade dos países europeus, em que “se foi consolidando a convicção de que é preciso apoiar a Ucrânia o tempo que for necessário”, apesar dos custos económicos, traduzidos em crise energética e inflação galopante.

Neste ponto, João Gomes Cravinho assinalou que se começam a observar ganhos, quando a inflação está agora a diminuir e a Europa “já se adaptou a novos fluxos, novas formas de abastecimento energético e, portanto, nessa perspetiva, embora seja sempre penalizador termos uma guerra às portas, o pior possivelmente já passou e as expectativas que instituições financeiras internacionais têm em relação ao crescimento para 2023 têm vindo a melhorar nestes últimos meses”.

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No que toca às relações com a Rússia, o ministro recordou que elas perduram há 250 anos, e nunca houve um confronto direto, apesar de grandes variações ao longo dos tempos, mas espera que volte a haver um momento em que se possa conversar civilizadamente com Moscovo. “Infelizmente não é possível neste momento”, declarou, confirmando que a representação russa não foi convidada para apresentação de cumprimentos de ano novo pelo corpo diplomático, em janeiro passado, porque, “nas atuais circunstâncias não seria apropriado”.

Em contrapartida, esta semana foi anunciada a nova embaixadora ucraniana em Lisboa, Maryna Yuriivna Mykhaylenko, que sinaliza, para João Gomes Cravinho, o desejo de Kiev de “reforçar o relacionamento diplomático com Portugal e, portanto, ela será muito bem-vinda e seguramente dará um contributo importante para o relacionamento” entre os dois países.

Entre os projetos de cooperação, Portugal está envolvido na reconstrução da Ucrânia, em concreto de escolas destruídas na região de Jitomir, na Ucrânia central onde o ministro português esteve presente em agosto passado, havendo a perspetiva de serem inauguradas ainda este ano.