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Moçambique defende a paz na Ucrânia, “como todo o mundo”, mas privilegia como caminho para lá chegar uma “pressão positiva”, considerando infrutíferas resoluções a condenar a Rússia, disse esta quarta-feira em Bruxelas a chefe da diplomacia moçambicana.

Em declarações à Lusa e RTP após ter dirigido os trabalhos de uma reunião extraordinária dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor-Leste (PALOP-TL) com a União Europeia, Verónica Macamo, que durante a sua intervenção no encontro lamentou a “destruição da Ucrânia” e a “violência sem dó nem piedade”, rejeitou qualquer contradição entre as palavras e ações, quando confrontada com as sucessivas abstenções de Moçambique nas resoluções da Assembleia-Geral das Nações Unidas a condenar a agressão militar russa.

Não, não há contradição, porque estamos como todo o mundo está”, em defesa da paz, e “o problema são os caminhos” para a alcançar, disse, apontando que “Moçambique acha que é importante” que seja exercida “uma pressão positiva para que a Ucrânia e a Rússia se sentem à mesa para ultrapassar o problema”, pois todos os conflitos só terminam na mesa de negociações.

No dia em que Moçambique assume a liderança mensal rotativa do Conselho de Segurança da ONU — no qual é membro não permanente desde 03 de janeiro passado, por um período de dois anos —, a chefe de diplomacia de Moçambique disse não conhecer ninguém “que não queira a paz” na Ucrânia, mas salientou que há diferentes abordagens, e enquanto “uns pensam que é por via de resoluções, outros pensam que é pela via do diálogo”.

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Se olharmos para as resoluções que passaram, e já são muitas, alguma coisa mudou? Então pensamos que se calhar há que mudar de estratégia. Mas não há contradição, estamos todos pela paz”, declarou Verónica Macamo.

Reforçando a sua ideia de uma “pressão positiva” para que as partes se juntem à mesa das negociações, a ministra disse que “quando se encontra dois irmãos a lutar”, sendo que Moçambique considera os dois países “irmãos”, dar razão a uma das partes prejudica o papel de mediação.

Insistindo que o grande objetivo é alcançar a paz na Ucrânia, porque “estão a morrer pessoas e o país está a ficar destruído“, a chefe da diplomacia disse que Moçambique tem conversado com as duas partes, “ainda antes de estar no Conselho de Segurança das Nações Unidas”, a “apelar para que efetivamente se sentem à mesa e haja conversações”.

Durante a reunião, e após uma apresentação das prioridades do mandato de Moçambique enquanto membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, pediram a palavra o vice-primeiro-ministro de Cabo Verde, Olavo Avelino Correia, e a diretora para África do Serviço Europeu de Ação Externa, Rita Laranjinha, tendo ambos sublinhado a importância de condenar sem ambiguidade a agressão russa, “que põe em causa os princípios e os valores da paz e da segurança internacional”.

Questionada sobre se Moçambique continuará assim a abster-se de condenar a ofensiva lançada por Moscovo há já mais de um ano, a ministra disse que não pode antecipar os acontecimentos futuros, mas insistiu que a prioridade é lograr conversações de paz.

Estou a dizer o que nós estamos a pensar hoje. Amanhã, podemos evoluir e pensar de outra maneira, mas eu não posso imaginar como é que os moçambicanos vão pensar daqui a um mês ou dois meses. Agora, achamos que o que é preciso é que as duas partes se sentem”, concluiu.

Na mais recente votação, realizada a 23 de fevereiro passado, a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, com uma esmagadora maioria de 141 votos, uma resolução que exige a “retirada imediata” das tropas russas da Ucrânia e pede “uma paz abrangente, justa e duradoura”.

O projeto de resolução, elaborado pela Ucrânia e aliados com apoio da União Europeia, obteve 141 votos a favor, sete contra e 32 abstenções dos 193 Estados-membros da ONU, reforçando mais uma vez o isolamento de Moscovo na panorama internacional.

Votaram contra este texto a Rússia, Bielorrússia, Síria, Coreia do Norte, Eritreia, Mali e Nicarágua, e entre os países que se abstiveram estão China, Angola, Moçambique e Cuba.