Um soldado russo está a ser acusado de um crime de guerra à revelia por alegada tentativa de homicídio de um civil, num ataque que foi gravado pela câmara de um drone ucraniano a sobrevoar o local. As provas apresentadas pela polícia ucraniana incluem arquivos de áudio gravados em telefonemas entre o soldado e a mulher.

“Eu matei um homem hoje”, ouve-se Klim Kerzhaev, de 25 anos, contar à mulher numa chamada telefónica divulgada pela CNN. “Mataste?”, responde a esposa, “que homem?”. “Não sei. Não sei quem ele é (…) De qualquer modo, o carro estava a vir e eu atingi-o com uma BMP-2 de 30 mm. E estavam lá mulheres. A mulher sobreviveu e o homem não.”

Depois de confessar, mudou rapidamente de tema, sendo ouvido a pedir à mulher: “Carrega algum dinheiro no meu telemóvel hoje, ok?”

No dia seguinte, Kerzhaev ligou a um amigo e repetiu a confissão. “O carro foi atingido. Não quero saber”, foi gravado a dizer.

O ataque aconteceu em junho do ano passado perto de Izium, quando o veículo onde seguia um casal ucraniano fez uma curva errada e foi parar a uma frente de ataque russa. O comandante russo disparou várias vezes sobre o carro, atingindo o homem, Andrii Bohomaz, em várias partes do corpo, incluindo a cabeça. A mulher, Valeria Ponomarova, acabou por sair do veículo e seguir um drone onde um grupo de soldados ucranianos anexou um papel com as palavras “siga-me”.

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Ponomarova seguiu o aparelho sem saber com certeza se teria sido enviado pelos seus compatriotas ou se seria uma cilada dos russos. “Não sabia de quem era. As nossas forças ou o inimigo”, declarou no documentário “Follow Me”, que relata a história com imagens gravadas nesse dia e testemunhos das vítimas. Deixando o marido ferido para trás, seguiu o drone julgando ser a única forma de o poder ajudar.

Pouco depois, os soldados russos envolvidos no ataque dirigiram-se ao carro e atiraram o corpo de Bohomaz, que julgavam morto, para uma valeta. De forma quase milagrosa, o ucraniano sobreviveu às lesões graves e conseguiu, horas mais tarde, dirigir-se a coxear até à posição das forças ucranianas.

Até agora, recorrendo às gravações do drone e às chamadas telefónicas, a polícia conseguiu acusar Klim Kerzhaev, mas este foi apenas um dos vários soldados russos envolvidos no episódio.